Capítulo oito

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Descemos para um piso inferior, mas a imagem da moça permanecia em minha mente, vestida com um vestido curto todo colado ao corpo, uma bota que ia até o joelho, ela dançava ao som do ritmo da música. Era uma pena eu não poder ir até ela, adoraria conhecer a sósia da minha irmã. Minha distração foi tanta que só percebi que estávamos em um quarto grande depois que o ceifador me atirou para dentro e saiu me trancando ali sem me dar chance de reclamar de nada.

O quarto era grande e confortável, com uma cama imensa de madeira pintada em preto bem no centro. Não havia janela no cômodo, ainda assim as paredes eram forradas por cortinas de aparência pesadas douradas com bordo, em uma das paredes há um barzinho, com frigobar e um balcão que se estendia por toda a parede, alguns bancos altos e mais um lado uma pista de dança. A iluminação era baixa o suficiente para criar um clima romântico, mas não ao ponto de não poder ver nada. Eu não sabia o que esperar de um quarto do submundo, mas certamente não esperava o conforto que tinha nesse aqui.

Comecei a andar de um lado para o outro esperando, se tem algo que odeio é esperar. Cara esse tipo de coisa me irrita. Depois de um tempo que parecia uma eternidade a porta se abriu e entrou por ela uma gata, que me deixou de boca aberta. Uau... Ela era ruiva com o cabelo até a cintura, olhos verdes, lábios carnudos. Vestia um vestido que acentuava perfeitamente suas belas curvas, ela não aparentava ter mais do dezesseis ou dezessete anos de idade, parecia um anjo de tão linda

— Você está bem?— Reconheci sua voz de imediato. Não havia nada de tão assustador nela, eu não conseguia entender o medo dos caídos. Limpei minha garganta.

— Estou.— Minha voz saiu rouca e ela pareceu gostar.

— Aceita um Drink?— Não tive tempo de responder e ela já estava servindo em duas taças um liquido vermelho escuro.

Nunca bebi e não tive a oportunidade de conhecer nenhum tipo de bebida, então não sei o que esperar.

— Obrigado.— respondi, um tanto sem graça e ao mesmo tempo fascinado com cada gesto delicado dela. Perfeita! Ela sorriu para mim e desejei beijar aqueles lábios.

— Sente-se.— Ela apontou a cama e minha mente foi tomada por imagens nenhum pouco descente. O que está acontecendo comigo?

Sentei-me um tanto desajeitado, disposto a descobrir tudo o que era preciso para que eu pudesse fugir o mais rápido o possível, mas sei que terei que agir com cautela. Ter minhas asas no lugar não significa que estou seguro, e sei muito bem que estou no submundo, onde o que reina é a mentira e a falsidade, então tenho que ser cuidadoso.

Ela me entregou uma das taças, eu tive vontade de recusar, mas alguma coisa me diz que era bom seguir a correnteza, pelo menos por enquanto. Dei uma pequena bebericada, e não pude evitar a careta e ela achou graça de mim.

—Eu tinha me esquecido como é horrível o gosto da bebida no começo, mas não se preocupa logo, logo vai gostar. O vinho em particular é uma bebida adorável.— Fiquei pensando como pode alguém algum dia gostar disto, circulei o líquido na taça, imaginando uma maneira de me desfazer sem precisar beber, será que se eu derrubar sem querer vai me ajudar?

— Não acho que algum dia eu vá gostar.

——Vai gostar, confie em mim. Todos pensam assim, mas depois que conhecem o seu topor, é impossível não recorrer a ela em momentos difíceis.— Ela graciosamente se aproximou e sentou-se do meu lado, cruzando as pernas sedutoramente, sua pele parecia tão macia quanto a camurça, me da vontade de tocar e senti-la. Me remexi, tentando controlar meus instintos e ela pareceu entender perfeitamente o efeito que causava em mim, sorriu  chamando minha atenção novamente para sua boca. Isso não está dando certo.

—O que quer comigo?— Esta foi a minha tentativa desesperada de retirar qualquer pensamentos pecaminosos da minha cabeça, mas só depois eu percebi o tom suplicante que impus em minha voz. Merda!

— Eu quero que você caia.— Não é novidade para ninguém que até hoje nenhum anjo da morte caiu, todos que estão no submundo são ceifadores. Quando se vive com os mortos, o anjo não é infectados por desejos humanos, pois estamos ligados diretamente com sua morte e sabemos que todos os seus pecados o levam para aquele momento em que entramos em sua vida, ou melhor em sua morte, somos consequência dos seus pecados. Por isso somos ilesos a eles, quando desobedecemos, nos tornamos fracos para sermos capturados e transformados em ceifadores, mas nunca nos entregamos ao ponto de cairmos, pois seria como a própria morte para nos. Alias, é a morte para qualquer anjo, mas só sabe o que é a morte quem a vive, e um anjo da morte convive com ela o tempo inteiro.

—Não me sinto inclinado a cair.— Dei outra bebericada no vinho e me arrependi.

— Talvez não, mas isso não quer dizer que não vá mudar de ideia.— Ela tocou levemente em seu decote, e meus olhos seguiu o seu gesto, tudo nela é sedutor e convidativo. Ela solta outro sorriso. Sei que está brincando comigo.

— Gosta de mim Pedro? Me acha sedutora? Me deseja.— Eu estou sendo bombardeado de perguntas, era logico que ela sabia as respostas, eu a desejava. Mas eu não podia me dar o luxo.— Vamos me diga.

Ela se aproximou ainda mais de mim, tomando todo meu ar, e substituindo por seu perfume, me fazendo esquecer de qualquer coisa e desejar somente ela, todo lado racional do meu cérebro pareceu adormecer. Mas algum censo de razão me dizia que aquela união não era de todo proibida, afinal ela era uma caída, apesar de não ser algo muito bem-aceito, ainda assim não era motivo para queda, lógico que se ela fosse humana isso mudaria.

Ela não havia tocado um dedo em mim ainda, no entanto, todo o meu corpo estava elétrico para recebê-la, e eu a queria, mais do que tudo naquele momento eu queria sentir o seu corpo.

— Você é a mulher mais linda e sensual que conheci, sim eu te desejo. Eu te quero.— Seus olhos brilharam de um jeito malicioso.

— O que você faria para poder ficar comigo? O que você estaria disposto a abrir mão?

Soube muito bem do que ela estava falando, ela queria saber se eu estava disposto a cair. E diante dela a resposta era sim. Talvez depois eu me arrependesse, mas agora a resposta era essa.

— Eu faria qualquer coisa.— Tentei beija-la, mas ela evitou me deixando confuso. Eu pareço alguém que está no deserto a muito tempo, morrendo sede, enquanto ela é a água fresca.

— Você está disposto a cair?—Eu nem estava ouvindo direito.

— Sim eu estou.— Falei muito rápido, aceitaria qualquer coisa só para poder entrar nela. Eu estou pegando fogo como nunca senti.

— Ótimo! Ótimo! Então é necessário que você saiba exatamente o que está fazendo, meu corpo é seu e depois de consumado você também será meu.

— Como pode ter certeza disso? Você não é humana, eu não cairia por sua causa.— Aquilo me era tão obvio.

— Não, eu não sou humana. Mas no momento em que nossos corpos se tocarem você será meu. E para isso acontecer de fato é necessário que você saiba que sou Amy sua avó materna.— Por essa eu não esperava.

— O que?— De fato esse é pecado muito grave, um incesto com a avó é algo altamente repudiado e passível de queda seguramente. Mas será que eu estou disposto a isso mesmo? Eu a encarei descrente com a sua capacidade, como pode alguém ser tão nojento?Afinal o que aconteceu com boa e velha vovó, por que justo a minha tinha que ser assim? Isso é simplesmente inacreditável. 


Oie, tomara que tenham curtido esse capítulo, pois para mim foi um grande desafio escrevê-lo, eu precisava de algo forte para essa cena, e confesso que tive medo da minha escolha. Então pessoas me ajudem, me digam o que acharam??? E não esqueçam de deixar o seu voto.. Beijos meus amores, vou tentar não demorar para postar o próximo capítulo. 


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