Capítulo Um - Um encontro

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Amanda

Todo ano a mesma coisa!

A cada quinzena temos que nos reunirmos com as demais comunidades para fazermos uma grande confraternização e conhecermos os novos membros de todas as comunidades do estado.

Na realidade depois de anos freqüentando estes eventos eu me pergunto se realmente existe esta "confraternização" ou o intuito é ver quem arrecadou mais "ovelhas" para o seu rebanho. Vejo a ostentação de cada pastor dizendo do quanto de pessoas vieram em suas caravanas, o quanto estão prósperos, ou melhor, quando tem um membro importante o que vão de políticos a pequenos membros influentes da sociedade e claro com o poder aquisitivo bem atrativo, ai sim isto é a glória.

Eu nunca me encaixo nestes eventos, aliás, eu não me encaixo em lugar nenhum, mesmo tentando, parece que eu tenho alguma doença contagiosa, eu não consigo fazer novas amizades. Em partes eu acho que a culpa é minha por ser extremamente tímida, outra parte acho que a culpa é do fato de eu ser a filha do pastor e ser minha companhia é pedir para atrair olhares rígidos verificando cada passo, cada vestimenta, cada risada, ou seja, não se pode errar, não pode rir alto, não pode olhar para os garotos, não fazer "fofocas" com as meninas entre outros.

Tenho 17 anos e nunca fui a qualquer evento que não esteja relacionado à nossa comunidade, nunca fui a festas, reunião de grupos de estudos escolares, excursões, associações e etc.

Meu nome é Amanda, sou filha do pastor Willians Silvestre e da recatada senhora Paola Silvestre, quando eu nasci minha mãe quase morreu e nunca mais pode ter filhos, então sou filha única, tenho primos distantes que quase não vejo pois não são de nossa religião e como já é previsto não tenho muitos amigos, no máximo um cumprimento discreto por parte de algumas meninas, por que os meninos nem me olham, sabem que meu pai (neste caso o Pastor da comunidade) pode deixar a situação constrangedora num dos seus intermináveis sermões.

Então eu fico assim neste evento, ajudando minha mãe com a organização em especial com as crianças e com os mais idosos, estes sim são maravilhosos comigo e é por isto que eu fico sorrindo com cada demonstração de carinho que recebo deles.

Termino minhas tarefas e sou designada a cuidar das crianças enquanto os seus pais vão para uma reunião destinada aos casais, para reforçar em uma rápida cerimônia seus votos, perante a comunidade.

Na realidade suspiro aliviada, estou olhando seis lindas crianças com idade entre seis a dose anos brincando na beira do lago.

- Crianças, por favor, não fiquem muito na beira do lago para não correrem o risco de cair! - Grito, eles concordam, mas continuam correndo empolgados. Assim como eu, acho que eles também se sentem sufocados com tantas imposições e limitações. Entendam eu gosto minha religião e acredito em seus dogmas e costumes, mas acho que existe uma rigidez excessiva por parte de alguns pastores, e tenho para mim que é mais para dar o exemplo as demais comunidades e demonstrar o tal do "pulso firme" com seu rebanho, as vezes acho que é uma demonstração de poder, mas depois eu vejo os benefícios que fazemos uns para os outros e minha frustração passa só um poquinho. Nada é 100% bom e nem 100% ruim.

Olho para as crianças e novamente sorrio contagiada com sua alegria, eles são leves como eu nunca consegui ser.

- Amanda! Amanda! - Ouço minha mãe me chamar de dentro dos arbustos!

- Sim mãe! - Respondo logo para que ela veja que eu estou atenta.

- Amanda traga as crianças vamos para o culto! Seu pai vai falar e não podemos estar ausente. - Minha mãe surge dos arbustos e fala com todo orgulho do mundo, ela ama o status de mulher do pastor.

Meu CunhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora