Capitulo 2
"O que tanto me comove nesse príncipe adormecido é sua fidelidade a uma flor; é a imagem de uma rosa que brilha nele como a chama de uma luz, mesmo quando dorme..."1
As horas se transformaram em dias, os dias em semanas e logo havia se passado um mês, e Léo sobreviveu! Depois de uma grande luta e angustiante espera, ele já se encontrava fora de perigo, porém ainda permanecia na UTI, sob cuidados intensivos, devido às múltiplas fraturas em decorrência do grave acidente. Seu pai finalmente conseguira sua transferência do hospital público e agora ele estava aos cuidados da melhor equipe de trauma do hospital mais conceituado de São Paulo.
Após ter superado a fase de risco iminente, foi transferido e operado, mas houve algumas complicações e ele foi colocado novamente no coma induzido por mais alguns dias. Os médicos estavam animados com seu estado de recuperação, porém havia uma dúvida pairando no ar referente à lesão em sua coluna, agravada pela demora na realização da cirurgia que deveria ter ocorrido nas primeiras 48h após o trauma.
O interesse da mídia no caso diminuiu quando outro playboy tomou os holofotes por ter espancado a namorada famosa. Então os jornalistas mudaram o foco e pararam de cercar o hospital, afoitos por mais uma fofoca sobre o filho do empreiteiro que pilotava uma moto, alcoolizado, e terminara tirando a vida de um trabalhador, além de acidentar outro gravemente.
O senhor Leônidas, após ter conseguido a transferência do filho, pareceu ter se libertado de algo incômodo e voltou para sua vida atribulada de reuniões e viagens. Fazia raras aparições no hospital, mas geralmente evitava as visitas a todo custo, constrangido por toda a situação e pelas fofocas.
O processo ainda estava em curso, Léo estava sendo indiciado sob acusação de vários crimes, incluindo tentativa de homicídio doloso eventual, quando há intenção de matar. As autoridades entenderam que ele assumiu o risco quando saiu embriagado pilotando uma moto em alta velocidade pelas ruas com limite de velocidade de 50 km/h, mesmo com toda a influência de seu pai sobre as autoridades e com a experiência e o peso do melhor advogado especialista na área.
A presença da polícia era constante no hospital, devido à alta cobertura da mídia especulando sobre uma possível impunidade, visto que, mais uma vez, o Senhor Leônidas havia conseguido livrar a cara do filho de ter que se entender com a justiça. Porém, quando achávamos que o assunto fora esquecido, algum programa sensacionalista cutucava o passado turbulento de Léo ou entrevistava algum parente do trabalhador morto no acidente. A outra vítima, que acabou perdendo uma perna quando a moto pesada caiu sobre ele, estava fazendo um verdadeiro alvoroço, apesar de todo o amparo dado pelas assistentes sociais e os advogados da empreiteira, os quais o senhor Leônidas disponibilizou para dar-lhes atenção especial.
Enquanto isso, Léo continuava alheio a todo o estrago que sua inconsequência provocou dessa vez.
Nenhum amigo foi visitá-lo ou procurou por notícias suas, talvez por medo de toda a repercussão negativa do caso. Nem mesmo seu melhor amigo, o Jorginho, como gostava de ser chamado, apareceu para prestar algum tipo de condolência. Ele estava com Léo no dia do acidente e sumiu pilotando sua moto minutos antes de tudo acontecer.
Somente Dona Laura e Jaque permaneceram em vigília alternada no hospital. Estavam sempre orando, levando carinho, mesmo com os médicos insistindo em dizer que, em seu estado de coma, Léo não percebia quem estava ao seu lado. Mas Jaque acreditava que ele sentia, sim, conforto por não estar sozinho em um lugar tão frio e triste, e seguia, dia após dia, segurando sua mão livre quando permitiam sua entrada nos horários de visita da unidade semi-intensiva, onde ele se encontrava. Sentia as lágrimas arderem ao vê-lo naquele estado tão debilitado, vulnerável e sendo julgado por seus atos, sem poder se defender das acusações. Ela sentia, no fundo do peito, que havia algo mais. Ele não teria sido tão irresponsável, alguma explicação deveria existir, e mesmo sendo tudo verdade, ainda acreditava na capacidade do ser humano de se tornar passível ao perdão e à regeneração.
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Amor Abstrato - DEGUSTAÇÃO
RomanceMarcados por traumas do passado, Jaque e Léo cresceram juntos, curando as feridas um do outro com a amizade típica de duas crianças. Eram diferentes em tudo. Ele, filho do patrão, e ela, filha da empregada. Com o passar dos anos, conforme Léo se tor...