Capítulo doze

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"Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas.

Mas, eu fiz dela um amigo,

Agora ela é única no mundo."(1)


Nem me dei o trabalho de confirmar, continuei puxando o mesmo fio solto, sem levantar a cabeça. As pessoas nunca entendiam essa minha opção. Mesmo se eu não tivesse me dedicado de forma exclusiva aos meus objetivos profissionais, me envolver emocionalmente com alguém não seria prioridade.

Aprendi algumas lições com tudo o que passei na vida e também com o que vi minha mãe sofrer nas mãos do ex-marido. Somente entregaria meu corpo a quem realmente merecesse receber o meu amor. Não era devido a nenhuma crença ou pelo fato de eu sonhar em me casar virgem, pois nunca sonhei com um casamento também. Eu queria algo além disso para o meu futuro. Acreditava que o sexo não era apenas um encontro de corpos, para mim era algo mais profundo, uma ligação de almas, algo puro que ia além de único momento.

Meu coração estava entregue desde quando eu me entendia por gente, mas nunca me permiti ir além do amor platônico, até me ver como a única pessoa capaz de estender a mão sem julgamentos, deixando que Léo, em sua vulnerabilidade, libertasse aquele sentimento trancafiado há anos.

Léo começou a gargalhar, quebrando o silêncio constrangedor que invadiu o quarto, e me deixando bastante irritada, pois não esperava aquele tipo de reação da parte dele.

- Não sei o que há de tão engraçado no fato de eu ser virgem - respondi, magoada com sua atitude.

- Não há nada de engraçado mesmo, estou rindo de nervosismo.

- Pois parece que está caçoando de mim, como sempre fez.

- Você tem que concordar comigo que esse fato é, no mínimo, inusitado.

- Ainda não entendi a sua reação infantil, Léo.

- Jaque, você é virgem, e eu não tenho movimento nas pernas. Me desculpe se fiquei nervoso com essa situação totalmente nova para mim, pois não sei como resolveremos esse pequeno dilema.

- Se você vê como um dilema, já estamos começando errado - respondi, decepcionada com sua reação, e me virei para sair da varanda.

Léo segurou meu braço me impedindo.

- E se você virar as costas todas as vezes que eu for um idiota, já teremos começando errado. Não faça isso por favor... Me desculpe!

Ele estava certo, eu não poderia simplesmente virar as costas e me isolar toda vez que nos desentendêssemos. Voltei e me sentei ao seu lado, enquanto Léo pegava a minha mão e fazia círculos suaves com a ponta de seus dedos, ponderando sobre o que falaria.

- Foi uma opção? Me explique melhor... Tem alguma coisa a ver com sua religião ou com o fato abominável que aconteceu com você?

- Não, Léo! Eu tinha outras prioridades, nunca me permiti interessar por nada relacionado a envolvimento afetivo. Na época do colégio, você se lembra bem, eu estava sempre isolada e nunca fui aceita pelas pessoas do meu convívio. Até meu primeiro beijo foi motivo de fofoca na escola, pois o rapaz, que faço questão de esquecer o nome, apostou que me levaria pra cama, e quando não conseguiu ficou me difamando. Você já havia se formado nessa época e não soube de nada.

- Mas você poderia ter me contando, eu iria arrebentar com esse infeliz.

- Por isso não te contei. Não queria te ver envolvido em mais confusões, já bastavam todas em que você se envolvia.

Léo baixou a cabeça um pouco envergonhado. Ele passou por uma época bastante turbulenta, quando fez todos os tipos de arruaças.

- Depois desse episódio, passei a me dedicar integralmente ao vestibular. Tentei por dois anos, até passar na universidade pública. Depois veio a carga excessiva de estudos, estágios e ainda os poucos trabalhos que eu arrumava. Não cabiam outros interesses em minha rotina.

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