Capítulo Dez

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Capítulo 10

"Tu poderias cuidar de mim..." (1)

Jaqueline

Minha pele parecia queimar ao mínimo toque dos dedos de Léo. Ele foi abrindo os botões, um a um, em uma deliciosa tortura. A cada pedaço de pele que se revelava, me faltava o ar com a expectativa do seu próximo toque. Mantivemos nosso olhar perdido um no outro. Léo também parecia respirar com dificuldades à medida que meu corpo ia se revelando. Quando o último botão foi aberto, ele parou por um momento e me observou. Eu me senti um pouco desconfortável e levantei as mãos para me cobrir, mas Léo me deteve, segurando-as e beijando um a um os nós dos meus dedos me ajudando a relaxar. O desejo era nítido em sua face. Ele mantinha os lábios entreabertos, que se umedeceram quando passou sua língua entre eles.

- Muito mais linda que em meus sonhos...

Depois de falar, Léo deslizou minha camisa vagarosamente pelos meus braços e voltou a me observar com desejo. Ele se aproximou novamente, soltou meus cabelos, que estavam presos em um coque, fazendo meus cachos pesados caírem sobre meus ombros, e me observou por mais alguns longos segundos, então me beijou de forma sôfrega. A impressão que eu tinha era de que ele mostrava por ações o que se tornou impossível demonstrar por palavras. Ambos nos perdemos em uma nuvem de um puro desejo, pelo menos​ de minha parte, nunca sentido.

Meus lábios formigaram quando Léo os abandonou e passou a descer pela curva de meu pescoço, irradiando conexões por todo o meu corpo trêmulo de ansiedade. Fechei os olhos aproveitando o momento, me entregando a ele. Suas mãos começaram a passear por todo meu corpo exposto e o calor parecia queimar minha pele sensível. Então, com sua boca molhada, capturou um mamilo e minha respiração ficou suspensa por um segundo inteiro. Tentei puxar o ar, mas era como se ele não entrasse em meus pulmões. Uma lembrança veio à tona naquele segundo em que tentei respirar e a minha pele, cujas mãos de Léo pareciam queimar, se tornou fria. Senti minha alma gelar e de repente eu não estava mais no quarto dele, era um quarto pequeno, com móveis antigos, onde uma mão escamosa passeava pelo o corpo de uma Jaque ainda menina.

Abri meus olhos em busca de reconhecimento e senti um medo atordoante, cuja duração foi de apenas alguns segundos, porém a lembrança do que acontecera comigo perdurou em minha mente enquanto me perdia nos braços de Léo, me fazendo estragar o momento ao sair correndo e me vestindo, para fugir de algo que eu nem ao menos sabia o que era. Deixei Léo sozinho e gritando por meu nome, sem entender o que acontecera.

Corri sem parar até chegar em minha casa, com a respiração ofegante, aterrorizada por lembranças que começaram a invadir minha mente, uma a uma. E resolvi me proteger no único lugar que eu conhecia como seguro: embaixo de minha cama.

Mamãe acordou assustada quando entrei de forma abrupta em nosso quarto com lágrimas escorrendo por meu rosto.

- Meu Deus, Jaqueline, isso de novo? - mamãe indagou ao me ver enfiada no lugar em que eu costumava ficar quando algo me assustava. - Achei que esses surtos tinham passado, já faz tempo que não acontecia... - concluiu com muita preocupação em seu tom de voz.

Por muitas vezes, após nossa fuga, tive pesadelos acerca de tudo que passei na mão de meu ex-padrasto, mas com o tempo e a distância começaram a se dissipar, até desaparecerem por completo. Infelizmente, até aquela noite, quando enfim pude saber o que era ser tocada e amada por um homem, me entregando da forma que nunca fui capaz antes.

Mamãe, compreendendo meu estado e o que me perturbava, fez o que sempre fazia durante minhas crises. Esticou um edredom no chão, próximo a mim, pegou minha mão num gesto para me mostrar que eu não estava só e ficou ali, pacientemente, esperando os meus soluços cessarem por completo. Até eu adormecer.

Amor Abstrato - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora