Capítulo 11
"A minha flor perfumava todo o planeta"(2)
No domingo, Léo fez uma descoberta impactante...
Jaque adormeceu em seus braços quando a paz do silêncio pairou sobre ambos. Léo, ao mesmo tempo em que não se achava merecedor de tamanho presente, queria, com todas as suas forças, ser digno de dar a Jaque o melhor de si. Mas como faria isso, se um ódio primitivo dominara sua mente? Como um ser humano poderia molestar uma pessoa tão inocente e pura? Ele tentava entender o que ela havia passado, enquanto observava seu busto subir e descer com a respiração suave de um sono tranquilo. Seus braços começaram a formigar pela posição em que ficou para poder abraçá-la, e dentro de seus braços sua Jaque adormeceu. Sua Jaque... A alegria desta constatação encheu seu coração de orgulho. Quanto tempo desperdiçou à procura de consolo em outros corpos. Por tantas vezes se deitou com alguma modelo famosa, imaginando o corpo macio de Jaque. Entretanto tê-la era muito melhor do que sonhava.
Ela era linda!
Queria ter se controlado ao vê-la tão entregue e sedutora, degustado de sua presença como a um vinho raro, mas foi incapaz. Seu corpo ficou em chamas por muito tempo, tomado por um desejo descomunal de posse desconhecido por ele até então. Se não fosse pela preocupação por ter feito algo errado, teria buscado alívio sozinho. Essa situação era novidade para ele. Sempre teve tantas mulheres aos seus pés, e agora se sentia como um adolescente apaixonado, satisfeito em tê-la somente dormindo em seus braços. Aquela sensação terna em seu peito era tranquilizadora e vê-la ali, tão bela, o fazia sorrir satisfeito. Naquele momento, descobriu o que era o amor. Um sentimento novo para ele, pois nunca se permitiu amar ou ser amado - nem amor fraternal ele conhecia -, até entregar o coração à sua doce Jaque e deixar que ela o preenchesse. E pela primeira vez desde que se lembrava em toda a sua existência, dormiu em paz e plenamente feliz.
Jaque acordou em sua cama, em seu pequeno quarto, com a manhã já adiantada. Não sabia como fora parar lá, mas teve uma noite tranquila de sono sem a presença dos pesadelos. O domingo amanheceu preguiçoso, um pouco chuvoso e cheio de nuvens. Procurou por sua mãe e não a encontrou. Lembrou-se de que ela podia ter ido ao culto. Dona Laura não se afastava da sua fé e dizia que a filha deveria voltar a frequentar a igreja. Jaque reconhecia que deixara sua crença de lado em prol dos estudos, ponderou que talvez fosse esse um dos motivos para as crises terem retornado. Como dona Laura dizia: "Quando você se afasta de Deus, fica entregue ao abismo da alma". E ela tinha razão. Há tempos não exercia sua religiosidade que tanto lhe trouxe paz nas horas mais aflitivas.
Ficou por um tempo olhando os finos pingos de chuva descerem pelo vidro de sua janela. Sentiu-se um pouco solitária, não queria tomar o café da manhã sozinha.
Resolveu que deveria agradecer a Léo por ter sido tão compreensivo com ela na noite passada. Então fez uma bandeja suculenta, com um café da manhã fresquinho preparado por sua mãe. Entrou na mansão carregando a bandeja, nas pontas dos pés. Ficou sabendo que o senhor Leônidas havia chegado de viagem e não gostaria de encontrá-lo naquele instante.
Ia bater à porta, mas se deteve ao ouvir uma música suave vindo do quarto de Léo, logo identificou a sua voz rouca acompanhada pelo som do violão. Abriu a porta lentamente e o viu junto à janela, sentado em sua cadeira, imerso na melodia. Jaque ficou parada com a bandeja em mãos, encantada e emocionada com a cena; a música parecia refletir o que se passava dentro dele.
"Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
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Amor Abstrato - DEGUSTAÇÃO
RomansaMarcados por traumas do passado, Jaque e Léo cresceram juntos, curando as feridas um do outro com a amizade típica de duas crianças. Eram diferentes em tudo. Ele, filho do patrão, e ela, filha da empregada. Com o passar dos anos, conforme Léo se tor...