Capítulo Oito

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"Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante"

Léo despertou sozinho assim que o primeiro raio de sol adentrou o quarto. Desde que permitiu a troca das cortinas pesadas por outras mais leves e claras, aceitando assim a sugestão de Jaque para ele deixar a claridade iluminar sua vida, essa era sua nova rotina. E vinha surtindo efeito. Conforme os dias passavam, começava a se sentir consideravelmente melhor, menos triste, derrotado e desprezível. Aquele sentimento opressor em seu peito havia diminuído e as crises que o cegavam, fazendo-o pensar que morreria a qualquer momento, também haviam cedido.

Ele tinha plena consciência de seu estado irreversível, mas começava a esperanças de poder ter uma vida digna. Voltou a considerar a possibilidade de se profissionalizar na música desde que Jaque tirou seu violão do fundo do armário e o colocou ao lado de sua cama. Fez uma pesquisa rápida em seu notebook e descobriu também muitas modalidades de esportes adaptáveis para sua nova condição. começou com as sessões de fisioterapia, suas dores também se tornaram suportáveis e agora tinha certeza de que, como Jaque prometera, tudo . Só cabia a ele reagir. E por ela, Léo queria ser uma pessoa melhor, digno de arrancar aquele sorriso tão lindo que fazia seu coração palpitar cada vez que ela o olhava.

Ele sempre evitou olhá-la de forma diferente, mas se tornou inevitável à medida que cresciam. Certo dia quando a , ela não era mais uma menina enxerida. Ela era linda aos seus olhos, sua pele morena, com seus cabelos encaracolados sempre rebeldes, lábios carnudos e olhos tão expressivos que pareciam enxergar sua alma. E como não se bastasse tudo isso, conforme se tornava mulher, suas curvas se moldavam, deixando-o alucinado de desejo. Porém sabia que nunca poderia tê-la em seus braços da forma que seu corpo gritava.

Ela era boa demais para ele, pura, em todos os sentidos. Seu pai percebeu logo o despertar de seus olhares para sua pupila e tratou de lembrá-lo quão longe ele deveria se manter. Por isso, passou a evitá-la mesmo desejando o contrário. Sentia falta das conversas, das brincadeiras, das confidências e até mesmo dos valiosos conselhos dela.

Por isso a proximidade recente despertou nele aquele sentimento trancafiado a sete chaves, e por ela, Léo queria lutar. Jaque o fazia sentir especial e querer reagir para provar a ela que as pessoas podem mudar para melhor.

Estava acostumado com sua presença todos os dias, passou a aguardar ansiosamente o momento em que ela entraria em seu quarto para mais um dia juntos. E quando acordou e não a viu por um dia inteiro, começou a se sentir sufocado novamente. Continuou esperando por mais um dia, então teve o mal presságio de ter estragado tudo mais uma vez e voltou a se entregar à escuridão. Mas quando ela abriu a porta de seu quarto, trazendo a claridade de volta depois de dois dias angustiantes, não pôde conter a alegria que sentiu.

Enquanto isso, em seu quarto, Jaque enumerava os motivos para nunca mais voltar àquele cômodo. Mas precisou somente de um para, na manhã seguinte, voltar à sua rotina junto a Léo. Ela sentia em seu coração que, se desistisse, estaria empurrando Léo de volta ao fundo do poço. E isso a deixava extremamente infeliz.

Entrou no quarto às nove da manhã, abriu as cortinas e se pôs a dar o seu melhor.

- Você voltou!

- Temos pouco tempo, e eu te fiz uma promessa.

- É só por isso que você está aqui... por causa de uma promessa?

- Não sou mulher de voltar atrás no que me proponho.

- Então, se for somente por esse motivo, eu te libero. Não quero que se sinta obrigada a nada.

- Eu quero muito te ajudar, Léo, mas para isso você precisa ser honesto comigo.

- O que quer dizer? Você é a única pessoa em quem confio nesse mundo. Eu não seria capaz de esconder nada, pois tenho certeza de que enxerga além de mim. - Nesse momento, Léo a segurou mais uma vez, próximo ao seu corpo, olhando fixamente dentro dos olhos de Jaque. - Somente você conhece o verdadeiro Léo.

Amor Abstrato - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora