Imortal

Arthur e Victor (Bônus - Um ano de Wattpad)

Valáquia, 1474

A lua já estava alta no céu, quando os cavalos cruzaram as planícies frias da Romênia. Fazia quinze graus naquela noite, mas os dois cavaleiros — de dezoito anos cada — pouco se importavam com isso. O frio não os atingia mais e já tinham preparado os cavalos para aguentá-lo. Em comparação com as temperaturas abaixo de zero que o País alcançava, aquele clima mais frio não significava nada.

O vento batia em seus rostos enquanto corriam. Os olhos, antes verdes, assumiram as cores da espécie a que pertenciam. O cavaleiro que disputava a corrida à direita, tinha os olhos tremendamente brancos, já os da esquerda eram completamente negros. Por mais que a lua iluminasse por onde passavam, eles precisavam enxergar além da claridade que ela disponibilizava. Por isso seus lados vampiros estavam aflorados.

O cavalo de Victor, o da direita, desviou-se centímetros de seu caminho e com isso perdeu velocidade. Arthur, o cavaleiro da esquerda, gargalhou ao perceber que o irmão ficou para trás.

— Eu lhe disse que a traseira de meu cavalo seria a sua visão privilegiada, irmão — comentou falando em um grito. Sabia que seu irmão ouviria mesmo se ele sussurrasse, mas declarar ao mundo que ele era melhor era muito mais prazeroso. — A chegada é logo mais adiante.

— E eu lhe disse para que não cantasse vitória antes do tempo — O rapaz inclinou o corpo para frente, balançando as rédeas de seu animal e o fazendo correr o máximo que conseguia. Arthur olhou para trás, na tentativa de conseguir perceber o plano do irmão e impedi-lo. Não queria mesmo ter que pagar uma rodada de bebidas para Victor. — Se fosse você irmão, ficaria de olho na estrada e principalmente no galho.

— Que galho? — Arthur virou novamente para frente, mas não a tempo de impedir que fosse atingido no peito com força e caísse do cavalo. Derrotado por uma árvore. O corpo gerou um som oco ao cair e chocasse contra o chão, mas Victor sequer parou. Ele sabia que Arthur ficaria bem e a dor não o incomodou muito. Puxou as rédeas do cavalo e o fez marchar até cruzar a linha de chegada, passos extremamente lentos apenas para provocar. O outro jovem sentou-se no chão e colocou o braço esquerdo no lugar, já que ele deslocou com a queda. Sentiu também que sua coluna cervical, na altura do pescoço, estralou quando ele girou a cabeça de um lado a outro. Se não fosse um vampiro, certamente teria morrido ali — Que idade tens? Três anos? — perguntou.

— Porque perguntas isso, irmão? — Victor aproximou-se enquanto Arthur percebia que seu cavalo parou mais à frente e pastava tranquilo. — Que culpa tenho eu se tu não prestas atenção por onde anda?

— Sabes que não falo de ter sido derrubado. Me refiro a sua vitória ridícula fazendo o cavalo marchar.

— A vingança é um prato que devemos saborear, Arthur. Me vencestes ontem, hoje tive a necessidade de comemorar.

— Três anos ainda é muito para ti. Talvez dois seja o mais apropriado — comentou no exato momento em que Victor saltou de seu cavalo e lhe estendeu a mão para que o gêmeo conseguisse se levantar. Arthur deu uma tapa nela e levantou-se sozinho — Não sentiu nada quando caí? Quebrei o pescoço.

— Sabe que sinto tudo o que sentes, mas não posso deixar-me abater por causa disso. Foi tu que quebrou o pescoço e não eu — Victor respondeu voltando ao seu cavalo e puxando o animal para que agora caminhasse ao seu lado. Arthur fez o mesmo com o seu.

— E se aquele galho tivesse me espetado o coração? Gostaria muito de ainda ver teu sorriso de escarnio.

— Sean nos acharia antes que amanhecesse, tiraria isso de ti e voltarias a ficar bom. Eu acordaria novamente e a vida seguiria o seu curso — Victor segurou no ombro de Arthur e o chacoalhou brevemente. Adorava provocá-lo, mas ficava claro que ele era o seu melhor amigo. — Então, onde vamos comemorar a minha vitória esmagadora? Espero que tenha trazido o ouro.