Eu Escolho a Eternidade - Parte Dois

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Três meses se passaram e nada do retorno de Victor. Segundo Sean, houve um problema maior do que era esperado e o mestre não poderia simplesmente destruir o clã e deixar por isso mesmo. Ele tinha que limpar a imagem da cidade, cuidar para que todas as mulheres vivas retornassem para as suas casas e esquecessem o que quer que tivesse acontecido ali. Sem contar que ainda teriam que esperar aquelas que estavam grávidas, dar à luz para depois serem liberadas. Dessa forma, o tempo mínimo que Victor informou que ficaria ali foram de dois meses, mas já estava atrasado.

E a falta que ele fazia só tendia a crescer, mas eu não poderia cobrar nada dele. Ele tinha deveres com os outros milhares de vampiros espalhados pelo mundo. Eu imaginava como ele conseguia dar conta de tudo. Se fosse eu, já teria enlouquecido. Ainda bem que não era eu. Ainda. Sendo parceira de Victor, eu sabia que essas obrigações recairiam sobre mim também. Ser uma vampira era simples, ser uma vampira que dormia com o primeiro deles é que seria o problema.

Eu pedi a Sean que não revelasse a Victor sobre a minha decisão. Queria eu ser a primeira a contar que eu queria ser um deles. Sean assim o fez. Nos tornamos mais amigos ainda naqueles meses.

Meus treinamentos estavam indo de vento em polpa. Desde tiros com armas, arcos e bestas, até manuseio de espadas e adagas. Queriam que eu fosse perfeita em tudo.

Confesso que lutar corpo a corpo, com um vampiro, é mais difícil do que eu imaginei. Sean era rápido e por muitas vezes eu fui ao chão. Eu reclamava, dizendo ser humanamente impossível vencer um deles, mas Sean me jogava na cara que os caçadores matavam vários vampiros, ao longo dos séculos, e me fazia questão de lembrar que eles eram apenas humanos. Iguais a mim.

— Que tal a gente dá uma pausa? — perguntou me estendendo a mão para que eu me colocasse de pé.

— Eu aceito — respondi enquanto ele me ajudava a levantar.

— Vai ser mais fácil quando for uma de nós — sorriu e me entregou uma garrafa com água. — Você vai ver que não sou tão rápido.

— Espero — respondi sorrindo, mas logo fiquei séria. — Como é, Sean?

— O que? A transformação? — eu assenti. — Eu não saberia como dizer.

— Victor me contou por alto, quando nos conhecemos, mas ele não passou por isso. Só sabe o que dizem por ai. Você tem experiência e é o mais indicado e quem confio.

— A dor é o que marca a gente — ele olhou para longe e depois para mim. — Dói, minha senhora. Muito — respirei fundo. — Mas não quero lhe assustar.

— Fui eu que perguntei e nada do que me diga vai me fazer voltar atrás. Eu quero isso — me sentei em uma pedra e Sean sentou-se ao meu lado. — Do que se lembra?

— De tudo. Não é algo que se esquece fácil — ele sorriu. — Nem o tempo é capaz de fazer isso — ele pegou algumas pedras e apertava com força, fazendo-as virar pó, enquanto conversava comigo. — Eu havia ficado até mais tarde na fazenda, naquele dia. Eu era o capataz e alguns dos meus homens haviam se envolvido em problemas e eu tentava resolver tudo. Por isso me demorei. Ekatherina já sabia que era assim, então ela não se preocupava tanto se eu demorasse. Eu sempre ia para casa, não importava a hora que eu chegasse, eu sempre ia.

— Mas então você viu Victor — conclui. Implorando para que ele continuasse com a história.

— Ele era um garoto. Se muito tinha era pouco mais de dezessete anos.

— Não sabia disso. Pensei que ele já era um homem, quando te conheceu.

— Não mesmo — ele sorriu. — Era um garoto pequeno e franzino.

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