Saltos no Vazio

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Não podia acreditar em meus próprios olhos. Várias rosas enfeitavam o quarto, tantas que mal podia contar. Fiquei completamente hipnotizada com as rosas brancas. Mas o que mais me chamou atenção foi as duas rosas vermelhas, postas em cima de minha cama. Elas estavam junto a um cartão de Victor.

Imaginei que você precisava de um empurrãozinho para se lembrar de como era sua primeira vida. Você adorava rosas vermelhas e tinha até um roseiral cuidado pelas suas próprias mãos. Mesmo sendo considerada uma lady, insistia em dizer que tinha uma ligação forte com elas e que mais ninguém poderia tocá-las. Quando vim para a América, trouxe uma muda dessas rosas e fiz questão de plantá-la nos fundos da mansão. Mas ao invés de rosas vermelhas, nasceram brancas. Essas duas rosas escarlates foram as únicas que nasceram, em quinhentos anos, e são suas.

Estou feliz que tenha voltado para mim e espero de verdade que as coisas sejam diferentes dessa vez. Te vejo amanhã, às onze horas da noite. Estarei contando os segundos e, acredite, estes demoram a passar quando se é um imortal e sente o pulsar do seu coração por causa de seu amor.

Abaixei a mensagem e olhei o quarto em volta. A primeira reação que tive foi respirar fundo e tentar me acalmar, procurando afugentar uma possível crise de pânico. Aquilo estava ficando fora de controle, assim como o pavor, que crescia dentro de mim.

Fiquei com muito medo de Victor e imaginei o dia em que ele caísse em si e percebesse que eu não era Christine. Ele, certamente, mataria a mim e a minha família.

Imaginei o mal que havia trazido para a vida deles e com isso, meu coração apertava ainda mais, mesmo que não tivesse culpa.

Meu único erro foi nascer com o rosto dessa tal mulher e de ter o azar da mesma ter se apaixonado por um vampiro. Porque ela não o escolheu? Talvez minha vida fosse diferente, naquele momento. Eu a odiei naquela noite.

Levantei-me da cama e tranquei a porta. Não poderia correr o risco de alguém entrar e ver aquelas rosas espalhadas. No dia seguinte, daria um jeito naquilo tudo.

Voltei a deitar, me encolhi embaixo do edredom e não consegui segurar o choro preso na garganta. Justamente porque minha vida, de forma repentina, se tornou um conto de terror. E todos que se atrevessem a atravessá-la, corriam o sério risco de serem assassinados.

Demorou um pouco, mas consegui dormi algumas horas depois.

Fui levada pelos sonhos, deixada em uma enorme clareira. No meio da noite, apenas eu e aquela estranha figura que me olhava por detrás dos arbustos. Aproximou-se e deixou que a luz da Lua apenas clareasse o seu corpo e foi aí que o reconheci: Victor.

Não sei o que me deu naquele sonho. Simplesmente corri até ele e o abracei, como se sempre o estivesse esperando. Tinha aquela sensação de que sempre o amei. Percebi que não era eu, e sim, Christine.

As roupas típicas do século quinze, aqueles vestidos abaloados, leques, laços e espartilhos, mostravam que era realmente a Lady de Montrebelle. Ela puxou Victor para perto e o beijou. E com tal intensidade, que poderia viver todas as sensações, mesmo que estivesse apenas observando-a.

De repente, eles foram interrompidos pelo farfalhar das folhas, mas não foi o vento, era como se algo se aproximasse. Victor largou Christine e a colocou, segura, em suas costas. Estava preparado para atacar qualquer coisa que aparecesse, justamente porque suas presas mostravam-se salientes. Seus olhos azuis quase brancos e suas garras, incrivelmente afiadas, também estavam à amostra.

Tive medo.

Então algo estranho aconteceu, Victor recuou. Não era mais aquela "coisa" cheia de si, confiante e segura. Era como um menino medroso, se escondendo embaixo da coberta com temor pelas sobras que as árvores formavam durante a noite.

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