Estou desperta mais uma vez. Dia 06.

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Lauren, on.

"Será que hoje é um bom dia para morrer?"

Eu me pergunto isso todas as manhãs quando acordo. E durante a terceira aula, quando tento manter os olhos abertos enquanto a Sra. Schroeder fala sem parar. À mesa de jantar, ao passar a sala. E à noite, na cama, sem sono porque meu cérebro não desliga.

"Hoje é o dia?

E, se não hoje, quando?"

Estou me perguntando agora, em pé sobre um murinho estreito a seis andares de altura. É tão alto que praticamente me sinto no céu. Olho para a calçada lá em baixo e o mundo se inclina. Fecho os olhos e sinto tudo girar. Talvez desta vez eu vá em frente, deixe o ar me levar para longe. Será como flutuar em uma piscina, adormecendo até que não exista nada.

Não me lembro de ter subido até aqui. Na verdade, não me lembro de quase nada antes de domingo, pelo menos nada do que aconteceu neste inverno. Acontece comigo direto - apagar, acordar. Num instante você me vê, no outro não. Talvez eu já devesse ter me acostumado, mas essa última vez foi a pior de todas, porque não fiquei adormecida por dois ou três dias, nem uma ou duas semanas... Apaguei durante as festas de fim de ano inteiras, ou seja, Ação de Graças, Natal e Ano-Novo. Não sei dizer o que houve de diferente, mas, quando acordei, me sentia mais morta que o habitual. Acordada, sim; mas completamente vazia, como se alguém tivesse drenado o meu sangue. Hoje é o sexto dia desde que despertei, e esta é a minha primeira semana no colégio desde 14 de novembro.

Abro os olhos e o chão ainda está lá, duro e estático. Estou na torre do sino do colégio, em pé sobre a borda que tem mais ou menos dez centímetros de largura. A torre é bem pequena, talvez não tenha nem um metro de piso ao redor do sino, e há esse parapeito baixo, de pedra, que escalei para chegar aqui. De vez em quando bato a perna contra o parapeito só para lembrar que ele está ali.

Estendo o braço como se tivesse dando um sermão e toda esta cidadezinha chatíssima fosse minha congregação.

- Senhoras e senhores - grito -, gostaria de apresentar-lhes à minha morte!

Talvez o esperto fosse dizer "vida", já que acabei de despertar, mas é exatamente quando estou desperta que penso em morrer.

Grito sacudindo a cabeça e enrolando o final das palavras, quando quase perco o equilíbrio. Me seguro no parapeito atrás de mim, feliz porque ninguém parece notar; verdade seja dita, é difícil parecer destemida quando se está agarrada a um parapeito como uma medrosa.

- Eu, Lauren Jauregui, por não estar em pleno gozo das minhas faculdades mentais, por meio deixo os meus bens a Normani Kordei, Ally Brooke, Keana Marie e meus irmãos. Todas as outras pessoas podem se f... - Lá em casa, desde cedo minha mãe nos ensinou a usar esse palavrão (quando for de fato necessário), mas sempre só a primeira letra. Infelizmente, o costume pegou.

Apesar do sinal já ter tocado, alguns alunos permanecem no pátio. Estamos na primeira semana do segundo semestre do último ano e a maioria age como se já estivesse se formando. Um garoto olha na minha direção, como se tivesse me ouvido, mas os outros não, porque não me viram ou porque sabem que eu estou aqui e "Ah, é só a Lauren Aberração". Então ele olha para o outro lado e aponta para o céu. De início, acho que está apontando para mim, mas então a vejo. A garota está a alguns metros de distâncias, do outro lado da torre, também na beirada, cabelo castanho balançando ao vento, a barra da saia inflando como um paraquedas. Apesar de ser inverno em Miami, ela está descalça, de meia-calça, segurando as botas e olhando fixo para os pés ou para o chão... Não sei dizer. Parece paralisada.

By Special Places.Onde histórias criam vida. Descubra agora