Convocação por intermédio

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HASGARD, em determinado momento, me olhou com repreensão, instigando que Ejes e Alera não deviam nos seguir. Porém o convenci de que não era má ideia, que poderia confiar em ambos para ajudar.
Igzo permanecia de repouso em uma espécie de laboratório natural situado nas entranhas da floresta. Adentramos o local, eu seguindo Hasgard; Ejes e Alera me seguindo. O tal laboratório refletia uma imensa bolha condecorada na fachada, improvisada e adornada com elementos rústicos, como galhos e cipós transparentes. O adorno da entrada eram dois pilares pequenos erguidos com tochas em cada um deles. Estavam liberando fumaça quando chegamos, o que dava a entender que tinham acabado de serem apagados.
- Espero que isso não seja incômodo, Hembhos. - disse Hasgard, se aproximando do professor pançudo mais a frente, analisando amostras de substâncias, quase todas retiradas de um refrigerador pequeno. - Mas Zagkri insistiu para que viessem. Esses são Ejes e Alera.
Eles cumprimentaram o professor de Leoninia com um simples sorriso.
- Sem problemas, McGardie. Espero que tenham tomado atenção para que não tenham sido seguidos por terceiros. - o professor Krame retirou as luvas e examinou nossos rostos com atenção. Por fim disse: - Eu não o vi durante a aula de ontem.
Ele se dirigia a mim, e eu percebia uma certa intimidade nos rostos de Ejes e Alera para com ele. Natural, já que leoninia tinha sido uma das aulas do dia anterior.
- Zagkri teve assuntos pessoais a tratar com o seu tutor. - soltou Hasgard, mentindo. Claramente não era para Krame saber o real motivo da minha saída temporária da Sede, ou mesmo Ejes e Alera. Hasgard era inteligente o suficiente para saber que eu tinha ido atrás de quem fizera aquilo a Igzo (em parte). - Então não pôde assistir às suas aulas, Hembhos. Ou mesmo de outros professores. Mas ele prometeu-me que irá repor o que perdeu, não é Eaden?
Não só ele, mas todos que estavam no ambiente me olharam esperando uma resposta válida. Então soltei um suspiro e respondi.
- Sim. Claro.
Com um meio sorriso segui Hasgard e Krame por um corredor pequeno que dava à ala onde estava Igzo.
- Porque não nos contou que era amigo de um centauro? - perguntou Ejes, assim que passamos pela porta da ala e vimos Igzo deitado sobre um leito seis vezes maior que um normal. Sua parte cavalo repousava com um pano branco a cobrindo. Ele sorriu.
- Olá, Zagkri. - ele me olhou de uma forma que eu não soube dizer se estava bem ou se estava fingindo estar bem. Me senti tranquilo por não olhá-lo nos olhos e dizer que o medalhão fora roubado. Agora ele estava seguro, no meu dormitório.
Hasgard se aproximou do centauro e a criatura soltou um barulho roncador, quase um tinido violento de uma besta.
- Deixem-me sozinho com o capricorniano. - pediu ele, e imediatamente todos se entreolharam.
- Igzo, você está em observação, o ferimento... - começou Krame, mas o centauro soltou outro violento ronco:
- É o que eu peço! Deixem-me a sós com ele. - então, quase num imediato momento de mudança ele encarou os dois capricornianos atrás de mim: Ejes e Alera. E completou, baixando o tom: - Os três. Fiquem.
Num minuto Hasgard e Krame estavam do lado de fora da sala de laboratório. Ficamos apenas Ejes, Alera e eu com Igzo. Ele fez uma expressão de dor aguda, xingou, o leito rangendo sob si quando tentou mudar a bunda de cavalo de lugar. Outro ronco, só que dessa vez ele pediu desculpas.
- Essa coceira está me matando, deuses cavalerianos! - disse, olhando aos céus. Então nos encarou timidamente e deu um sorriso enfadonho. Continuou com uma voz sofrível: - Hembhos falou que minhas queimaduras estariam cicatrizadas em um dia e uma noite, mas deuses cavalerianos...! Não suporto mais! - então retomou o foco e notou nossos olhares sobre ele. Então era hora de nos falar o que realmente queria:
- Cathrunos... - aquela palavra iniciada por Igzo não me era estranha. A tinha ouvido uma vez sair da boca de um estalajadeiro em Rumo Furto, às margens de um rio corrente. Ela queria dizer "jovens". - Quero que façam-me algo. Tenho uma dívida com um ser do vale. Tenho de pagá-la o mais cedo possível, porém não tenho como fazê-lo. Vocês precisam ajudar-me Cathrunos. Achem-no no vale. Ele saberá o que dizê-los. Não incomodem professores, ele os odeia.
- Mas que tipo de dívida, Igzo? O que você o deve? - perguntei, notando os olhares de apreensão de Alera e Ejes.
- Vocês saberão... - seus olhos piscaram lentamente algumas vezes. - O nome dele é Banaluh... achem-no... proponham uma trégua... expliquem minha situação...
E antes de qualquer outra pergunta o centauro adormeceu e roncou tão alto que um pássaro na soleira sobrevoou em disparate e Alera apertou meu braço.

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Após alguns minutos de perguntas sutis dos dois professores, Hasgard e Krame, resolvemos não ceder e fazer o que Igzo havia dito.
Mais tarde, enquanto eu descansava no meu dormitório, fui convocado para uma assembléia. Era assim que estava na carta posta por baixo da porta: "Sr. Eaden, convoco-o a prestar esclarecimentos numa assembléia totalmente parcial na sala de administradores. O pedido é exclusivamente de professores incomodados com sua ausência ilegal das aulas no período de dois dias.
Agradeço sua atenção,
08 horas noturnas,
Sra. Wolly (por intermédio de Almos Renes).
Li aquele nome com os olhos ardendo em ódio. Almos Renes tinha encabeçado aquela assembléia. Se ele queria minha presença, ele a teria. Então gargalhei, pela primeira vez me sentindo realizado.

Capricorniano, a lenda da sombraOnde histórias criam vida. Descubra agora