Julgado

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ERAM exatas oito horas quando um ruído abafou o temporal rígido lá fora. Os cavaleiros de Órius retiravam os cavalos da chuva e os abrigava sob tendas na marquise do pátio da Sede.
Sra. Wolly veio até meu dormitório com o intuito de levar-me à sala onde ocorreria a assembléia.
- Sr. Eaden, está na hora. Siga-me por gentileza. - eu a segui pelo corredor e mantive a imersão em pensamentos críticos, tentando suportar o nervosismo quanto ao que aconteceria. - Eu não o julgo, Zagkri. Eu confiei em Pandorius tanto quanto qualquer um dos professores. Confiei que ele havia mudado e que após sua derrota na batalha dos doze, ele tinha finalmente renovado sua alma e desertado do mal, após ter montado essa Sede com o dever de ensinamento de Signatos. Mas são dezenas de indivíduos que sussurram pelos vales, se escondendo em sombras, dizendo que Pandorius concluiu a transformação e retornou. Seu regresso deixam as flores que desabroxaram morrerem em pálido ressecamento, os animais implorarem por água e comida, ficando cegos com o tempo. Houve um velho homem que nos procurou enquanto você esteve fora que nos relatou ter visto o Mestre das Sombras erguer-se sobre seu casebre antigo e assassinar sua boa esposa e seu pequeno filhinho. O velho ficou cego de um olho, mas conseguiu escapar. Mas agora está tudo bem, Zagkri. A assembléia será breve, apenas cumpriremos com a legislação. Órius saberá coordená-la.
- Não sei bem, sra. Wolly, mas... mas tenho a impressão de que há algo mais para motivar esta assembléia. - eu tinha certeza sobre isso.
Então antes de chegar ao final do corredor e atingirmos o ambiente fechado direto à sala de julgamento, ela confessou:
- Você, Zagkri, é o único entre os eleitos que teve os pais envolvidos com o Mestre das Sombras.


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No minuto que se seguiu à minha entrada no salão, um burburinho controlado foi se diluindo. Alguns professores que estavam de pé sentaram-se, inclusive o próprio Órius, que agora estava vestido com um traje branco com mangas longas, como um gibão oriental. Ele acenou e todos ficaram a postos em seus assentos.
A sra. Wolly me posicionou de frente a uma cadeira no centro do salão, de modo que eu ficasse com todos os olhares vidrados em mim. Avistei Hasgard sentado ao lado de Margie Bonnevar, a professora gordinha de Libriania. Os dois cochichavam algo discretamente, ela com um ninho em galhos retorcidos enfeitando a cabeça. No ninho algumas joaninhas passeando. Hasgard me fitou e deu uma piscadela, seguida de um sorriso confiante. Ouvi a voz de Órius orquestrar o início da assembléia, enquanto a sra. Wolly tomava seu lugar:
- Muito bem, minhas saudações à todos. Não me estenderei muito e passarei a palavra a Almos Renes, o encabeçador da assembléia. Mantenham a ordem até que a palavra de réplica seja concebida por mim. - Órius olhou para o professor com rosto rígido de Taurinia e regressou ao assento, dando-o a vez: - Por favor, Renes. Sua palavra.
Achei que nunca mais pudesse ouvir com tanta antipatia a voz de Almos novamente, assim como eu a ouvira no dia que o enfrentei e Alera o deu um soco no rosto. Mas ali estava ele. Pomposo e com ar arrogante, querendo por tudo minha expulsão da Sede:
- Senhoras e senhores, primeiramente, devo ressalvar que esta assembléia é de toda e inteira responsabilidade minha, porque creio que a legislação está em termos corretos há anos. Seguimos o regimento e punimos aqueles que não estão de acordo com o nosso método educacional, ético e de formação. Como bem sabem um eleito da signatura de capricórnio se omitiu dos deveres a ele concebidos de participação nas aulas e presença em atividades da Sede. Apenas se afugentou durante um período que pareceu longo suficiente para prejudicar não só a ele próprio como ao seu tutor. Não obstante, tal afugentamento teve como consequência também a queda em atenção dos alunos, que por vezes eu ouvia entre os cantos e na própria sala de aula comentando sobre o sr. Eaden. Em determinados momentos senti necessidade de ausentar-me dos meus pensamentos nas aulas para desvendar o que tanto falavam à respeito do sr. Eaden. Pluralidades incovenientes essas conversas. Como a sra. Wolly tem conhecimento, tentei durante esse período deter a sra. Smell e o sr. Rodger por serem os mais falastrões sobre a fuga provisória do sr. Eaden.
Percebi que ele falava de Alera e Ejes. Tentei interceder, mas pelo olhar de Órius eu sabia que deveria manter minha posição. Então Almos continuou:
- Permita-me uma pergunta ao sr. Eaden, diretor? - percebi que ele falara aquilo com certo receio, quase como se realmente não quisesse dizê-lo. Talvez odiasse o fato de Órius ser o novo diretor da Sede. Órius deu a deixa para que ele seguisse em frente: - Sr. Eaden, talvez queira nos esclarecer o motivo real de sua fuga da Sede.
Eu sabia que qualquer frase mal posicionada seria mal interpretada por Almos Renes em busca de pôr minha cabeça na forca:
- Não estive em fuga, sr. Renes. Suas interpretações sobre várias coisas é que são propositalmente excedidas. Naturalmente, já que sua falta de consideração com capricornianos beira a uma estúpida maneira de diversão através da desgraça. - eu não via o olhar do restante do salão porque fitava Almos rigidamente, assim como ele fazia comigo.
- Não foi essa minha pergunta, sr. Eaden. Responda perante a assembléia que o aponta como pessoa motivo dessa reunião e não a mim. Suas mentiras são incoerentes. Responda! Qual a real razão de sua fuga da Sede?
- Tive que visitar minha avó. Como bem sabem, Bertra, que regressou comigo na comitiva do senhor diretor.
Órius meneou a cabeça, entendendo minha explicação:
- Isso é verdade. Trouxe o garoto, a irmã e a avó. Os salvei de uma seguidora de Pandorius. Ele tem razão.
- O sr. Eaden então não tem nada para esconder perante julgamento? - perguntou Almos para mim.
- Decididamente não. - respondi.
- Caro senhor diretor, permita-me convidar uma testemunha da completa incapacidade do sr. Eaden de continuar atividades entre nós. - Almos seguiu o olhar para a porta, caminhando até lá e retornando com um aluno.
Reconheci o rosto de Doran nas vestes cinzas da Geminiania. Ele transmitia um sorriso, embora sentisse que ele estava apreensivo com a situação.
- Senhoras e senhores, Doran, da signatura de Gêmeos, tem algo a relatar sobre o sr. Eaden. Então, passo a palavra a você.
O garoto se fixou ao centro e me encarou, em seguida olhando para Órius e novamente para mim:
- Ele me atacou na noite em que fugiu. Disse-me que os planos do Mestre das sombras de mantê-lo aqui estava evoluindo. Ele me atacou na cabeça quando tentei impedi-lo de fazer algum mal a sra. Wolly... - a vice diretora estava com o cenho franzido e eu escutava consternado a explicação intolerável de Doran. Almos parecia se divertir em silêncio: - Zagkri, de capricórnio, segue os passos dos pais. Como todos sabem, os Eaden foram corrompidos pelo mal de Pandorius no passado, então o filho deles resolveu perpetuar a vontade dos pais.
De repente eu estava sobre Doran, que se estendia ao chão. Desferi socos no rosto e no estômago antes que Hasgard me puxasse ferozmente e me sentasse na cadeira.
- Olhem só! Que brutalidade! Os senhores acham que um seguidor de Pandorius pode seguir estudos em um lugar que está sendo governado por uma oposição? Enxerguem! Vejam só! - exclamava Almos, erguendo Doran do chão.
- Olhem em volta! - gritou Doran, chamando atenção de todos. - Não estão sentindo falta de alguém? De qualquer outro professor?
Percebi todos os professores olhando para os lados, inclusive Órius, sra. Wolly e Hasgard. Então todos cochichavam o nome de quem faltava.
- O incêndio na floresta alguns dias atrás, caros professores, foi causado na moradia de um centauro!
Os estarrecimentos fizeram com que Hasgard e eu nos entreolhássemos.
- Esse centauro está aos cuidados de Krame Hembhos, professor de leoninia, em um laboratório improvisado perto daqui, nos limites da Sede e a floresta! E assim como ele o professor Hasgard... - apontou para o sr. McGardie ao meu lado. - está do lado de Zagkri Eaden. Ajudando-no a favor do Mestre das sombras.
Hasgard me controlou e aos poucos fui ganhando calma. Doran mentiu durante todo o depoimento descaradamente. Então após um tempo de debates Órius decidiu:
- De acordo com análises e conceitos em julgamento, defino a sentença de Zagkri Eaden, da signatura de capricórnio: suspensão da Sede por tempo indeterminado. Período este que passará aos cuidados do tutor, na própria signatura. Declaro a assembléia encerrada.

Capricorniano, a lenda da sombraOnde histórias criam vida. Descubra agora