Capítulo 1

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A casa de minha tia Karen era a última na Appletree Point. Ficava no alto de uma colina rodeada de pinheiros e outras árvores típicas da região. Mais adiante estava o lago Champlain com sua imensidão de águas geladas. Era um lugar bonito, porém isolado.

Da casa de Karen até o colégio Burlington demorava cerca de dez minutos de carro. Eu preferia ir a pé pelo Leddy Park, demorava cerca de sessenta minutos. Na volta eu gostava de parar em frente ao lago. No lado sudoeste, havia uma prainha isolada e tranquila. Era onde eu costumava passar meus momentos de meditação.

Eu estava a um mês no colégio Burlington, mas ainda não me acostumei com o lugar. Eu me sentia um peixe fora d'água, ali não tinha ninguém da minha espécie. Lembro da minha tia insistindo para eu estudar.

– Magda, você precisa estudar. Um dia terá que ter uma profissão, você tem que ser como os Humanos, fazer o que eles fazem.

– Mas eu não quero ser como eles, tia.

– Você precisa esquecer esse negócio de vingança. O que aconteceu já passou. Vamos seguir em frente. Temos uma linda vida para viver.

– Tia – eu tentava explicar que superei o que aconteceu. Dois anos na casa dela fez esquecer toda aquela batalha terrível – Eu não quero me vingar. Você sabe tanto quanto eu que foi minha mãe quem provocou toda aquela guerra. Ela provocava a todos os povos, ninguém gostava de nós. Por causa da família real, nós somos mal vistos por todas as etnias existentes na face da terra.

Karen observou meu pequeno discurso sem pestanejar.

– Eu quero mudar isso – continuei – quero que as pessoas saibam que existem bruxas de bom coração, e não são as fadas.

– Que bom, filha. E o que você tem contra as fadas?

– Eu as acho metidas. Por causa delas também somos mal vistas por toda sociedade.

– Como assim?

– Elas são da nossa mesma linhagem, fazem o que nós fazemos, porém elas vivem divulgando que somos do mal enquanto elas do bem. Afh, não as suporto!

– Lembre-se que Eduard, meu marido, é descendente de fadas.

– Eu sei. Vou demorar em aceitar isso.

– São nossas primas, não precisamos aceitá-las se não quisermos. Agora se arrume que está atrasada para escola!

O colégio era estranho para mim. Sempre foi. Ali tinha pessoas que sequer me olhava, quanto mais conversar. Um grupo de alunos rodeava um garoto que tocava violão na escada, eu admito, ele tocava muito bem. No outro canto, um garoto tentava uns truques de mágicas para uma pequena platéia. Eu juro que fiquei tentada a usar um de meus poderes para surpreendê-lo e a platéia, mas minha tia recomendou inúmeras vezes para em hipótese nenhuma, aconteça o que acontecer, não usá-los e agir com uma Humana normal.

Cheguei ao meu armário. Enquanto guardava minhas coisas, percebi um certo alvoroço no início do corredor. Cinco garotas caminhavam como se estivessem na passarela da Montpelier Fashion Week. A garota do meio, uma loura, de estatura média, magra e de nariz empinado parecia ser a líder do grupo. Se elas fossem as cheeleaders da equipe de futebol americano, ela seria a que ficava no topo da pirâmide. As outras, uma de cabelo vermelho, duas de cabelo preto e outra loura pareciam mais as súditas dela do que qualquer outra coisa. Passaram por mim e apenas duas notaram minha existência, olhando pelo canto do olho. Espero que elas não estudem na mesma sala que eu – desejei.

Magda, A Jovem Bruxa #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora