Três horas da madrugada. Juvenal ainda permanecia no bar. O garçom teve que carrega lo a porta de saída. Escorou se num ponto de ônibus e pôs se a pensar na vida. Na mulher, no filho, no emprego que perdera. Minutos depois tomou coragem e foi para sua casa, ou melhor, seu apartamento. Seguiu cambaleando, tropeçando, escorregando, caindo de vez em quando, mas seguiu. Ao chegar no prédio, subiu as escadas. Juvenal morava no terceiro andar, mas parecia que morava no vigésimo, tamanha foi a demora. A cada degrau que subia, descia dois. Com muito sacrifício chegou. Nem mesmo estranhou encontrar a porta encostada. Era costume avisar a mulher que verificasse se todas as portas estavam trancadas. Entrou, fechou a porta, tirou os sapatos e foi para a cozinha. Abriu a geladeira, bebeu água no gargalo da garrafa. Estava com fome, abriu o armário, nada encontrou. Foi ao banheiro. Olhou se no espelho e ao ver seu rosto refletido teve vontade de vomitar. Abriu a braguilha da calça, levantou a tampa do vaso e urinou no bidê. Ouviu uma voz estranha vinda do quarto. Era voz de homem. Ficou imóvel por alguns segundos e esperou confirmação. Outra vez a voz, ele escutou. Pensou: aqui em casa não existe outro homem além de mim. Pensamento lógico. Naquele lar eram três: ele, a mulher e o filho recém nascido. Foi até a cozinha, pegou uma faca e partiu em direção ao quarto. Abriu lentamente a porta e ficou espreitando por um certo momento. Realmente havia um homem deitado na cama, e o que era pior, com a mulher. Desesperado ele gritou:
- Sônia, sua ordinária!!
Com a faca na mão, não pensou duas vezes. Lançou se contra o casal com aquela fúria de marido traído. Em dois golpes, quase que simultâneos, desferiu as facadas. Desorientado, Juvenal sai correndo pela porta afora. A essa altura o efeito do álcool havia passado. A vizinha ao lado, no corredor, chocou se com Juvenal, e com as mãos na cintura, perguntou:
- Juvenal, o que você estava fazendo no vizinho a uma hora dessas?
Visivelmente perturbado, Juvenal colocou as mãos no rosto e começou a chorar.
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CRÔNICAS PARA LER E RELER
HumorNesse livro todos os dias haverá uma crônica nova, divertida, engraçada, imprevisível, doida e muito legal de ler e reler.