CALOUROS DE MEDICINA

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Não há coisa mais chata que calouro de medicina. Não que eu tenha algo contra os médicos ou contra os estudantes em geral. Mas contra o diabo do calouro de medicina, ah, isso tenho!

E vou lhe contar por que escrevo isto... Não precisa? Você concorda comigo? Ótimo!

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Ei, espera aí! Lembrei me neste momento que escrevo crônicas e não seria justo parar por aqui, compreende? Eu dependo de você, não é? Bom!

Certo dia, ou melhor, certa noite tive a infelicidade de ir a uma reunião (dessas que são chamadas por aí de sociais) e lá encontrei um grupo de calouros de medicina, que, de tanta conversa furada, acabou tomando conta da festa:

- Eu quero me especializar em psiquiatria, mas vou logo dizendo que sou contra as teorias do Freud.

E quem é ele para duvidar de Freud se suas aulas nem haviam começado?

E um outro com cara de idiota:

- O Ivo Pintanguy não tá com essa bola toda não. Podem deixar que eu vou mostrar o que é ser um ginecologista!

Mal sabia ele que o dr. Pintanguy é cirurgião plástico.

E eu, já com claros sinais de irritação, tendo que escutar toda aquela besteirada. Só estava esperando sair o primeiro convidado, para dar o fora também. Enquanto ninguém saía, eu ouvia:

- É uma vergonha para nós, o Hosmany. Eu, como médico, fico decepcionado.

E a festa continuava no mesmo ritmo. Algumas pessoas bocejavam, outras tentavam puxar uma conversa diferente, mas não adiantava:

- Você viu o jogo do Brasil?

- Vai, mas o Reinado não tá jogando nada. Também sem os quatro "ministros"...

Note que ele queria dizer meniscos e não ministros, mas, depois de tantas asneiras, o pessoal nem se tocou. Até que, a certa altura, o filho do anfitrião, já de porre, começou a passar mal:

- Por favor, há algum médico aqui? - gritou o pai, desesperado.

Os calouros se entreolharam, e, sem ouvir resposta, um sujeito se levantou e dirigiu se ao pai:

- Posso ver o menino?

- Pode.

Viu. E foi logo receitando:

- O senhor dê sal de frutas que melhora.

- O senhor é médico? - perguntou o pai, agradecido.

- Não, sou físico nuclear.

Pois é, tenho ou não tenho razão?

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