Capítulo I - 4 ou 5 meses para aprontar

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Fabian acordou com o gato puxando suas cobertas. Novamente dormira no sofá assistindo o programa pastelão de domingo.

Na poltrona ao lado, sua avó, Patrícia, dormia  enrolada em uma colcha de lã, com a boca escancarada e babando. "Típico", pensou ele.

Pegou o felino laranja esmaecido no colo enquanto levantava e pedia para a cozinha fazer café. Ouviu o barulho da cafeteira sendo enchida automaticamente e o cômodo informou que em 3 minutos a bebida estaria pronta.

O rapaz afagou o bichano, pensando em alguma maneira travessa de acordar a anciã que dormia a sono solto a sua frente. Imaginou que jogar água seria um pouco extremo, então teve que usar outra artimanha. Pediu à sala para tocar alguma música clássica no volume máximo.

Quando "Winter", de Vivaldi, começou a tocar, a pobre senhora arregalou os olhos e encontrou seu neto tapando os ouvidos, rindo como se tivera ganhando um prêmio. Patrícia praguejou em italiano, mas mesmo sem as mãos nas orelhas, Fabian não poderia ter ouvido, pois a música parecia ficar cada vez mais alta.

Levantando de um salto, ela correu para o painel da casa e desativou a reprodução da faixa.

— Moleque matreiro, você me paga — Apesar dos susto, Patrícia sorria, achando graça da travessura.

— Já é hora de acordar, coroa. Não vai querer perder a maravilhosa excursão ao museu da cidade — brincou o garoto, abraçando-a.

— Argh! Você sabe o quanto odeio essas atividades escolares — respondeu ela, crispando os lábios.

— E você sabe o quanto compartilho do seu desprezo — Fabian instintivamente crispou os lábios da mesma maneira que a avó.

— Não temos outra opção. Se não formos, é capaz do seu professor Holyfield vir nos buscar em casa, com algemas e um carro dos Purificadores.

Dito isso, rumou para a cozinha, onde pôs alguns croissants no forno. O aparelho informou a temperatura e tempo de cozimento. A velhinha virou-se para o neto na sala.

— Você deveria começar a se arrumar. A Ioana não vai nos esperar. Os pais dela me disseram que essa manhã ela está em treinamento e vai direto do ginásio — e pegou uma xícara de café fumegante para si, enquanto Gato roçava suas pernas — Para você, não. Está muito viciado pro meu gosto.

Fabian sorriu, mostrando o diastema, que lhe rendia o apelido de "Cânion". Apesar de não gostar quando mais novo, agora o rapaz achava até charmoso.

Subiu as escadas de madeira pulando de dois em dois degraus até seu quarto. Pôs o uniforme do colégio Jolie, que consistia em uma vestimenta social, gravata preta e toda pompa que vinha com isso.

Desceu as escadas correndo, seguindo o cheiro de massa assada e molho silvestre. Encontrou um belo prato de croissants com redução de morango o aguardando em seu lugar a mesa de sempre. Patrícia bebericava machiatto enquanto afagava o gato na cadeira alta ao seu lado. O ronronar do bichano parecia embalar os pensamentos da senhora, que mirava o lado de fora por uma janela com o olhar vidrado.

— Pelo menos não queimaram de novo, como os de ontem. Os aspiradores de odor da casa agradecem — brincou Fabian, Mordendo seu bolinho de massa folhada, que sujou sua boca de vermelho.

— Se ficar caçoando de mim, faço questão de queimar alguns só pra enfiar por esse buraco horroroso entre seus dentes — riu a vó, ainda distraída.

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