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Minha jaqueta me pesava. Não estava tão frio quanto nos dias anteriores, e eu suava.
Pela janela parecia que seria uma noite gelada, com árvores balançando, e poucas pessoas caminhando pelas ruas.

Eu imaginei que precisaria de um bom casaco para me sentir aquecido, porém, não foi o que aconteceu.

Desci para casa de Raica apertando os passos para chegar o mais rápido, carregava minha mochila pendurada apenas por uma alça no ombro, e dentro dela, o diário.

Deixei minha casa assim que tive a certeza que minha mãe estava dormindo, se me visse, ela não permitiria que eu saísse naquelas condições.

O que tinha em mente era dividir com alguém o que tinha lido, a tensão caíra sobre meus ombros, e eu estava ansioso para me livrar dela. Melhor seria se pudesse dividi-la com alguém, mas tinha que ser alguém de confiança.

Me faltou o ar às vezes, me obrigando a parar e recuperá-lo. Um ataque de pânico era tudo que eu não podia ter naquele momento. Precisava me controlar. O caminho era curto até a casa de Raica, mas no meu estado, parecia longo.

E não havia ninguém em quem eu confiasse mais do que Raica. Mandei uma mensagem no seu celular implorando que ela me recebesse em sua casa, o que tinha para lhe contar não podia esperar até o dia seguinte, como Raica mesmo sugeriu. Era muito importante.

Liguei para o seu celular assim que cheguei em frente à sua casa, todas as luzes apagadas. O horário já estava avançado, eu sabia, mas tinha que contar a ela o que tinha lido.

Fiquei alguns segundos retomando minha respiração, tentando me manter calmo, enquanto esperava algum sinal de Raica.

Apesar do fraco vento, pela aflição, eu não sentia frio.

Mais rápido do que imaginei, vi a luz da varanda se acedendo e de repente a porta se abriu.

Raica caminhou até a entrada da casa vestindo um roupão de seda azul claro e de braços cruzados. Tentava proteger o corpo quente do fraco vento que passava.

- Espero que realmente seja importante, Alexandre!

Disse enfiando a chave no cadeado e retirando a corrente assim que ele abriu.

- Te dou minha palavra que é!

Um ar quente bateu em mim assim que entrei no seu quarto juntamente com um cheiro de perfume doce.

O quarto de Raica era decorado com um papel de parede de tom rosado. Uma cama de casal grande, seu guarda-roupa antigo, designer de século passado, quadros com imagens de gatos espalhados na parede, e suas pelúcias.

A luz ficava por conta dos dois abajures ao lado da cama. Uma mesa embutida na parede para seu notebook, com gavetas, sua coleção de livros e cds e a televisão erguida pelo suporte na outra parede.

- Sente-se. – falou em um tom mais baixo fechando a porta.

Já estava um pouco mais calmo, a presença de Raica me acalmou, o que eu já esperava que acontecesse.

Ameacei a me sentar mas um pequeno porta retrato, uma foto de nós três, me chamou atenção. Dei alguns passos até ele.

- Você imprimiu?!

Por um momento esqueci o motivo que estava ali.

- É. Ano passado. Achei que já tivesse visto.

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