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Otavio Sandiego

Otavio Henrique Sandiego era natural de Campos do Jordão, sua mãe antes de tê-lo se mudou de São Paulo para a Serra da Mantiqueira, procurava uma cidade mais calma para criar e educar seus filhos, a família herdara as casas na cidade após a morte do avô paterno.

Otavio cresceu conquistando tudo o que queria, era comunicativo, bem humorado, sorridente, e rodeado de amigos. Era um dos alunos mais aplicados no colégio mais tradicional de Campos, e um dos futuros líderes em uma ONG a qual fazia parte.

Era rico, bonito, educado, simpático, e humilde. Quem não desejou ser ele ou estar próximo a ele?
Só o fato de estar próximo para muitos já era motivo de se sentir um privilegiado.

Ingressou em um clube de natação particular da cidade e pouco tempo se tornou o primeiro medalhista de Campos do Jordão a bater o recorde do campeonato paulista juvenil com apenas treze anos. Era o futuro da nação nos esportes aquáticos, apostavam.

Atraiu pequenos patrocinadores para o clube com a sua coleção de medalhas. Mas seu coração nunca esteve embaixo d'água. Nunca. Era apenas uma distração para escapar dos problemas com o pai.

Ele, por sua vez, não queria que o filho se tornasse um atleta, já tinha declarado isso diversas vezes, planejava uma carreira de arquiteto para o filho mais velho. Queria que ele o substituísse depois que resolvesse aposentar. Havia muitos negócios nas mãos do pai para ser entregue a um estranho, desejava que o filho tomasse o que era seu e multiplicasse três vezes mais. Quatro vezes, se não fosse sonhar muito alto.

O ramo imobiliário em Campos do Jordão estava no seu auge, e não havia melhor investimento para quem quisesse ter uma vida boa e tranqüila.

Seu coração também não estava na Arquitetura, nunca esteve. Queria ser músico, queria respirar música, trabalhar até trinta horas com música.

Mas o pai dizia que músico era para pessoas pequenas, que queriam sobreviver de migalhas, proibira o filho de continuar com seu sonho e quebrara o violão quando descobriu que ele se inscrevera em um curso de aulas de instrumentos.

A mãe não se intrometia. Dizia ao filho que ele podia fazer as três coisas, podia trabalhar como arquiteto e assumir os negócios do pai, podia também tocar nos finais de semana, e praticar natação, caso ainda fosse do seu interesse.

Otavio não tinha escolha.

Mesmo se rebelando percebeu que não podia sustentar o seu sonho de ser músico com a mesada que ganhava, o pai começara a monitorar seus gastos para ter certeza que não estava investindo naquele sonho que lhe parecia loucura.

Depois de discussões sem fim, resolveu aceitar o desejo do pai e enquanto esse momento não chegava, decidiu seguir com sua vida nas piscinas. Pelo menos era querido, aplaudido e isso lhe fazia bem, bem ao seu ego.

Em um dos treinos, aos catorze anos, ainda se arrumava no vestiário juntamente com seus colegas de clube quando ele entrou, era diferente, seu porte físico chamava atenção. Nunca o tinha visto anteriormente. Nem nas festas do clube, nem no colégio, nem no bairro de classe alta.

Jogou sua minha mochila no banco e começou já retirar o tênis. Otavio o observou, queria saber quem era, de onde vinha, não se lembrava do treinador ter anunciado novos nadadores.

O nadador que menos lhe causava preocupações na piscina resolveu fazer uma piada, tirando a atenção de Otavio sobre o novo integrante.

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