Em silêncio, assim que eu me mantinha. Não desejava soltar nenhuma palavra, nenhum comentário, absolutamente nada.
Tinha tomado a minha pílula milagrosa e agora torcia para que a enxaqueca se fosse. Desta vez tomei duas pílulas e isso ajudou para que a dor diminuísse mais rápido.
Sentado na sala da minha casa, com os olhos presos no tapete, não o admirando, mas não tendo forças para erguê-los. O efeito da droga já estava sob o meu corpo e meus movimentos estavam um pouco mais lentos.
As cortinas foram fechadas ao meu pedido, a claridade poderia dar forças a minha enxaqueca.
- Está melhor?
Minha salvadora, se assim posso chamá-la, invadiu a sala vindo próximo a mim.
Não respondi, apenas balancei a cabeça afirmando, mentindo, claro, mas não queria deixá-la preocupada.
- Tome. É de camomila. Vai te fazer bem.
Uma xícara de chá de camomila foi colocada próximo ao meu rosto e o cheiro logo tomou meu ar. Eu não queria chá, estava enjoado ainda, mas não pude negar que camomila não me faria pior do que já estava sentido. E ela tinha sido tão simpática em me preparar o chá que o peguei, sem retirar meus olhos do tapete.
Ela então se sentou a minha frente, com sua xícara de chá.
- Quer me contar o que aconteceu?
Ergui meus olhos pela primeira vez.
Bia era baixa, usava lentes verdes para esconder seus olhos castanhos, tinha cabelos pretos lisos quase na cintura, e magra, na verdade bem miúda.
Tinha um sotaque baiano adquirido pelos anos que morou em Itabuna.
Também não saía de sua casa sem os saltos altos para disfarçar sua altura, como minha mãe. Talvez algo que toda mulher de estatura baixa faz.
E as cores preferidas, rosa e branco, sempre estavam presentes em alguma peça ou acessório que vestia.
Sua pergunta pertinente me fez recordar levemente do que houve.
Raica me perguntava se estava tudo bem quando despertei do meu transe.
Estávamos estacionados ainda próximo a casa de Lincoln, eu não conseguia colocar meu carro em movimento.
Renan sentado no banco de trás, quieto.
- É mentira! Não tem sentido, eu jamais ameaçaria Lincoln!
Disse de repente.
Eu falava sobre a acusação de Cleide. Ela, sem saber quem eu era, nos contou que tinha receio do tal Alexandre continuar a fazer mal a outros, como fez com Lincoln.
Finalizou dizendo que certamente era um algum marginal, solto, que assustava a cidade.
Eu criei a questão de que as ameaças poderiam vir de alguém que freqüentasse o bar, sendo assim outro jogador de cartas, o que me deixava livre de qualquer acusação. Cleide se convenceu do meu argumento porém enfatizou que Lincoln estava bem apavorado, e, independente de ser um jogador ou não, o tal Alexandre fora seu assassino. Ela cria.
- Você precisa ficar calmo, Xis.
A voz de Renan atrás de mim.
Um sol fraco tentava nos aquecer do frio, mas era fraco demais para isso.
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Diário do meu melhor amigo.
Mystery / Thriller- Três fatos, duas versões, dois amigos, uma verdade. O benefício de eliminar lembranças que nos machucam, traumas que nos destroem, e medos que nos aterrorizam. Por outro lado, os malefícios de não ter nenhuma lembrança, nenhum momento bom, e nem n...