O Vale das Sombras era um local ideal para os jovens de Campos do Jordão passarem a tarde. O veneravam, diversas vezes o Vale era escolhido para encontros de amigos, namorados, paqueras, e outros...
Tinham os que preferiam o Vale para apenas passarem suas tardes lendo, fugindo do barulho que os turistas faziam no Capivari, querendo um lugar para descansar a mente.
Havia também os que escolhiam o Vale para caminhada no início da manhã ou no final da tarde. Praticando também passeios com bicicletas antes do pôr do sol.
Tinha os que preferiam o Vale das Sombras por ser o local exato para fazer tudo que fosse proibido, já que era extenso, coberto de neblina quase o ano inteiro, ora mais forte, ora mais fraca, e a polícia não rondava por todo seu território. Local ideal para soltar a imaginação.
O Vale das Sombras era uma extensa floresta nas alturas de Campos do Jordão, com suas famosas araucárias.
Para chegar até ele era preciso subir por uma trilha em uma pequena ladeira, onde já podia sentir o clima do local.
O que mais o deixava famoso eram suas histórias, contadas pelo povo, histórias as quais eu jamais dei confiança, diziam os mais antigos que o Vale das Sombras no início da formação da cidade foi um local escolhido para depositar corpos de traidores e assassinos, o considerado um cemitério a céu aberto.
Um bom lugar para encontrarem o corpo de Otavio, penso agora.
Mas enfim, deixando meu sarcasmo de lado, digo que as araucárias que preenchiam o Vale das Sombras eram imensas, e dependendo do dia, era impossível ver o fim dos seus extensos troncos.
Além das araucárias, os corvos que rodeavam por lá eram a segunda atração do Vale das Sombras. Eram poucos mas ainda dava para encontrá-los, apesar da neblina.
Ficavam posicionados, estrategicamente, observando quem passava por ali. Eles, os corvos, com certeza eram as únicas testemunhas presentes no local do crime.
Nem esperei Raica terminar de contar todos os detalhes e fui direto para sua casa. Não avisei minha mãe sobre minha mudança de planos, e já imaginei sua fúria quando eu voltasse para casa.
A neblina tinha dado uma trégua, o dia parecia que se abriria para nossa felicidade.
Assim que estacionei, Raica invadiu meu carro, em silêncio, fria.
Não fiz nenhuma pergunta sobre o que ela me disse durante a ligação.
Ela também não disse nada, apenas me olhou, parecia não estar em condições de debater sobre nenhum assunto, apenas acenou para que eu desse a partida. Não trocamos nenhuma palavra até chegarmos ao Vale.
Mal estacionei o carro e já subimos correndo a ladeira feita de uma escada improvisada no próprio solo do local, estava um pouco escorregadia, mas ajudei Raica a subir.
Ao longe vimos algumas pessoas paradas, curiosos, observando algo. Não mais do que seis.
Quando dei o primeiro passo, senti que Raica se manteve imóvel.
Ela estava com os olhos fixos sobre o meu ombro, como se estivesse hipnotizada.
- Raica?
Tive que chamá-la duas vezes para que despertasse da sua suposta transe.
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Diário do meu melhor amigo.
Mystery / Thriller- Três fatos, duas versões, dois amigos, uma verdade. O benefício de eliminar lembranças que nos machucam, traumas que nos destroem, e medos que nos aterrorizam. Por outro lado, os malefícios de não ter nenhuma lembrança, nenhum momento bom, e nem n...