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Eu vi o sol nascer. Em meio às casas, da janela do meu quarto, eu vi. Não havia dormido boa parte da noite, os pesadelos não me deixaram descansar em paz. As palavras de Gabriel me incomodavam a cada tentativa minha de ter uma noite boa de sono.

Fomos para minha casa, seguindo o meu conselho, e desde então ficamos em silêncio após uma pequena discussão.

Minha mãe não percebeu nossa chegada, e pelo silêncio, não perceberia nossa presença.

Raica estava deitada sobre a minha cama, com os olhos fechados, fingindo que dormia.

E Renan sentado no chão, enrolado por uma manta verde fina.
Eu estava em pé, próximo a janela, com os olhos fixos no nascer do sol, e com o pensamento fixo em Gabriel.

- Aposto que está pensando em Gabriel.

Ouvi a voz baixa de Renan, esperei alguns segundos para respondê-lo.

- Tem como esquecê-lo?

- Xis, não se martirize. Em nenhum momento ele disse que foi você, disse?

- Não.

Não respondi o que pensei. Minha boca dizia não, mas minha mente dizia sim.

Renan não me acusava porque ele não podia ler minha mente. Tantas coisas se passavam por ela. Acusações, defesas, mais acusações, e mais defesas. Uma luta sem fim.

Eu me acusando e ao mesmo tempo me defendendo. Tomando sobre mim toda a responsabilidade apesar de não me pertencer.
Bufei, cansado, mentalmente mais do que fisicamente.

Com o silêncio de volta eu pude lembrar exatamente quais foram às palavras de Gabriel.

- Por que querem saber sobre isso agora?

Gabriel era mais baixo do que eu, bem mais baixo, um pouco gordo também, e de pele morena clara.

Vestia uma camiseta preta de uma banda de rock, deveria ser sua favorita, com uma calça vinho escura.

Botinas nos pés, os óculos redondos discretos sobre os olhos castanhos claros, barba um pouco grande demais, no mesmo tom dos cabelos castanhos claros, e um casaco preto aparentemente pesado que relava em seus joelhos.

Após nos apresentar, Gabriel reconheceu levemente Raica, mas a mim não, Renan foi objetivo em suas palavras e lhe perguntou se ele sabia quem era o causador das ameaças contra Lincoln.

- É importante, Gabriel, eu não o incomodaria se não fosse.

A justificativa de Renan nos pareceu que o convencera, apesar de se manter em silêncio, nos analisando.

- Eu sei pouco sobre isso, Lincoln evitou me contar.

Renan franziu a testa, duvidando da resposta de Gabriel.

- Talvez ele não quisesse que eu sofresse com nossa realidade.

Finalizou bebendo um pouco de sua bebida. Ele me pareceu um pouco embriagado, mas preferi não dizer.

Eu ainda me sentia incomodado com sua presença, ele me parecia cada vez mais familiar, apesar de tentar negar esse sentimento em mim. Continuei em minha busca mental por um momento com Gabriel.

Renan insistiu.

- Tem certeza que Lincoln nunca mencionou nenhum nome que possa nos ajudar?

- De que adiantaria isso agora? Lincoln está morto, e não importa o que façam, nada vai mudar.

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