Conheci Raica primeiro que Otavio, ainda quando éramos adolescentes. Tenho tudo guardado em minha mente como se tivesse acontecido há minutos atrás, posso te contar como foi? Creio que sim.
A menina de catorze anos que subia quase todos os sábados no Morro do Elefante com seus livros prensados sobre o peito era tímida e por isso, me intrigou desde a primeira vez que a vi.
Seus cabelos castanhos claros, ainda não tingidos, pele branca, e um olhar doce, gostoso de olhar, além do seu corpo delicado chamavam minha atenção assim que a via saltando da cadeira do teleférico e caminhando para o mirante onde se pode ver a cidade de Campos do Jordão.
O principal ponto turístico da cidade é bem movimentado nos finais de semana, você deve saber, principalmente em meses de frio, a começar em maio. Mas isso não impedia que ela caminhasse entre os turistas e sentasse ao limite onde era permito, devorando mais um dos seus vários livros.
Eu a conheci, seu jeito e seu costume, por estar nos finais de semana durante o inverno orientando os turistas no Morro do Elefante. Eram apenas quatro horas de trabalho e me rendiam um bom dinheiro.
Tinha tirado o dia para minha família na tarde em que ela me conheceu, porém eu já a conhecia, pouco, mas já.
Estava com meus pais, em pé, com uma máquina fotográfica em mãos, no meio dos turistas, passando por turista, esperando que meus pais se ajeitassem em cima do famoso elefante branco, minha avó materna nunca tivera a oportunidade de conhecer o Morro do Elefante, apesar de viver por muitos anos em Campos, e agora que morava fora da cidade, queria uma recordação da família para expor na sala da sua nova casa.
Eu a observei passar por mim e desaparecer entre as pessoas.
Minha atenção ainda estava nela quando minha mãe me despertou gritando para que tirasse logo a fotografia.
Lembro-me que pedi que eles sorrissem e então registrei o momento.
- Dá próxima vez seja mais rápido, filho. – foi exatamente o que minha mãe me disse assim que saltou do elefante.
Mas eu nem me atrevi a responder. Abaixei a cabeça e fingi estar mexendo na câmera.
- Agora eu quero uma foto na vista de Campos. De nós três.
Minha mãe apertou os passos e foi na frente. Meu pai se aproximou de mim, caminhamos lentamente, então paráramos. Ele me disse baixo enquanto pegou a máquina fotográfica.
- Quem é ela?
Essa foi sua pergunta. Eu fingi que não entendi, ele esperou por um momento e depois me encarou.
Meu pai perguntou seu nome, eu insisti que não sabia sobre o que ele dizia, mas não pude mentir por muito tempo.
A vi de longe e respondi a ele que era só uma garota, que a achei bonita. Apontei disfarçadamente para Raica que estava de costas para nós.
Meu pai me incentivou que eu fosse falar com ela, eu logo descartei essa idéia. Justifiquei que não pertencíamos ao mesmo mundo, ele, por sua vez, tentou me convencer que era um rapaz bonito, responsável, e agora atleta. Que menina não ficaria louca para sair comigo?
Ri. Foi o que me restou, rir. Me recordo que minha mãe já gritava histérica para que nos aproximássemos dela e tirasse a tão desejada fotografia.
- Acho que só o senhor pensa assim.
Eu disse a ele. E ele me respondeu.
- Não se menospreze, filho. Você sabe que é bom no que faz. Ouvi dizer que o treinador está muito animado com os resultados que você tem alcançado. E isso não é bom?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diário do meu melhor amigo.
Mystery / Thriller- Três fatos, duas versões, dois amigos, uma verdade. O benefício de eliminar lembranças que nos machucam, traumas que nos destroem, e medos que nos aterrorizam. Por outro lado, os malefícios de não ter nenhuma lembrança, nenhum momento bom, e nem n...