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O som baixo de MPB foi o que ouvi primeiramente. Fiquei com os olhos fechados aproveitando a sensação boa que a música me proporcionava. Quando o som agradável se finalizou, eu abri os olhos, a tempo de ver uma figura feminina invadir o quarto.

A observei, forcei a memória, mas não a reconhecia. Não insisti, não tentei adivinhar quem era, nenhum palpite, nem para isso tinha forças. Mas não me pareceu familiar.

Dirigi meus olhos para o teto, estava deitado em um quarto de hospital, tempo depois eu teria essa informação.

Observei o teto bege com lâmpadas fluorescente tubulares, fortes demais para minha visão recém restaurada.

A mulher não disse nada, me encarou enquanto se direcionou até uma bolsa de soro do meu lado e começou a manuseá-lo.

Não vestia um uniforme, devido a isso descartei imediatamente que se tratava de uma enfermeira.

Continuava a observá-la.

- Descanse.

Girou e vi um líquido sendo liberado, passando por uma mangueira fina indo até o meu braço direito.

- O que está fazendo?

- Cuidando de você.

A encarei, forcei minha mente mais uma vez, mas seu rosto ainda não me pareceu familiar.

Finalizou dando um beijo na minha testa e em seguida sentou-se em uma poltrona ao lado da minha cama.

Consegui ainda vê-la abrindo uma revista e folheá-la, mantendo seus olhos sobre as páginas.

Minhas pálpebras foram pesando, visão embaçando até que não pude mais manter meus olhos abertos.

Dormir era bom para mim, eu desejava, a vida passaria mais rápido, já que involuntariamente não me lembraria de nada, então era melhor não ter nada para lembrar.

Deixei o hospital ainda sonolento, ouvindo as instruções do médico dando a mesma mulher que me acompanhou o tempo todo. Ela ainda me parecia uma estranha, mas estava ao meu lado, demonstrando se importar comigo, por isso, deixei que ficasse, e fiz conforme o que ela me pediu.

Não disse nada, não queria fazer nenhum esforço físico e nem mental.

Acompanhei as palavras do médico até que se despediu.

Fui guiado por ela até minha casa, que esta logo reconheci, inacreditavelmente. Me mantive calado, ela disse algumas palavras, mas para evitar respostas, fechei os olhos, a ignorando, fingindo dormir.

Meu quarto me pareceu estranho no primeiro instante. Interessante analisar que algumas lembranças, ou objetos, minha mente preservava, outras já não. Não havia um critério para isso, julgando-as pela importância que tinham em minha vida.

- Vou preparar uma sopa para nós dois. Tome um banho e desça para o jantar.

Me virei para ela, próximo a porta, forçando um sorriso. Eu apenas balancei a cabeça, não sentia fome, mas não tinha coragem de negar seu pedido.

Antes de me deixar sozinho me perguntou em um tom cômico se eu me lembrava de quem ela era.

Forcei mais uma vez minha mente e finalmente seu rosto me pareceu um tanto familiar, apenas não sabia como a conhecia.

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