A partida.

1.3K 158 15
                                    

Luthiron observava Jahil enquanto ele arrumava seu alforje para partirem. Ainda se sentia um pouco estranho em ver seu amigo há tão pouco tempo um antigo jeguinho branco, agora um anão de cabelos e barbas compridas com olhos azuis colocando o elmo que sempre o acompanhou.

Tinha a estranha sensação que aquele elmo estava na cabeça errada.

Jahil usava armadura de cor acobreada e luxuosa. Entretanto, de todas essas mudanças o mais estranho para Luthiron era vê-lo usar as mãos.

Ele tinha dificuldades com coisas complexas e por vezes até coisas simples, como vestir a armadura ou amarrar as cordas do alforje. Também sentiu dificuldades em usar os talheres.

Jahil sem perceber o escrutínio conversava com todos animadamente como se ainda fosse o antigo jeguinho de sempre. A voz continuava a mesma e a rabugice ainda estava ali, faltava agora eles se acostumarem com sua nova ou antiga aparência, dependia do ponto de vista, se de Jahil ou o resto do grupo.

Estavam no quarto que Dávolo havia preparado para eles a pedido do oráculo, a única diferença era que depois que voltaram de Niedra havia mais uma cama no lugar da palha seca e limpa que era o local aonde Jahil dormia.

Não tinha tido muito tempo para conversarem com o grupo reunido, a dedicação nesses últimos dias foi somente com o treinamento de Jahil.

E nos primeiros dias tinha sido com a recuperação de Lúcia, por mais que ela tivesse dito que estava bem um dia depois da vitória em Niedra, os efeitos maléficos do contato com a magia daquela poção demoraram passar.

Ele não tinha saído de seu lado, e agora que ela estava melhor de verdade, ela também tentava se acostumar com Jahil.

Luthiron imaginava se teria essa sensação estranha com Caluto quando ela fosse liberta.

Talvez quem mais a estranhasse depois que fosse liberta fosse Jiron que perderia sua companheira de aérea e seria então o único com asas.

Uma batida a mais em seu coração o fez pensar também em sua liberdade. Mas logo ele guardou esse pensamento no mais fundo de sua alma.

Não sabia se seria um presente ou um castigo ser o seu povo o escolhido.

Seria um presente para seu povo, mas para ele talvez fosse um castigo.

E preferia ter mais tempo com o grupo, poder ajudar mais Lúcia.

A liberdade para seu povo poderia significar seu fim. Balançou a cabeça, não era ele agora, era Caluto a sortuda da vez, então não precisava pensar nisso, não naquele momento.

Jahil guardava as ultimas coisas que iam levar em um saco, e Luthiron novamente o olhou com melancolia.

Sentia falta do seu amigo de quatro patas lhe fazendo companhia.

— Vamos Luthiron, já preparei tudo agora nos resta esperar as meninas, essas sim sempre demoram.

— Vamos, acho que nem todos estão prontos, mas quero conversar com Érono e Dávolo enquanto esperamos.

Jahil abriu a porta e saiu seguido de Luthiron, que apesar da saudade de seu velho amigo, sentia uma alegria imensa pela liberdade dele e de seu povo.

Os oito dias de espera haviam deixado Lúcia desesperada. Dávolo era um ótimo amigo e um perfeito anfitrião, mas a deixou irritada quando pediu que ficassem mais um tempo para que ela se recuperasse um pouco mais e para que Jahil também pudesse ter alguma ajuda para sua antiga e nova forma.

Três dias depois de retornar a casa de Dávolo se sentia bem e queria partir.

Mas o rei dos centauros não permitiu, dizendo que Jahil necessitava de treino para poder ser mais útil na viagem e ele precisaria desse tempo para se habituar a antiga forma.

Crônicas Helenísticas- Venília Livro 2- DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora