Iniciando a jornada

694 125 13
                                    

Lúcia soltou um muxoxo, mal humorada. — O dia parece nunca chegar.

Luthiron iniciou um galope manso. — A lua faz tempo que se foi, mas ainda é madrugada, daqui a poucas horas amanhece.

— Noite sem luar e triste. — Disse ela pensativa enquanto Luthiron aumentava o passo para alcançar seus companheiros.

— Você está apenas com o humor mudado por causa da notícia da neve, mas não coloque isso na cabeça, temos muito ainda a percorrer para chegarmos lá.

Lúcia não respondeu, ele tinha razão, era a neve que a incomodava, de resto ela não se preocupava tanto.

Érono ria de Ádino ao seu lado e ela lhes sorriu com carinho lembrando quando Érono cuidou de seu ferimento, um horrível corte nas costas após ser mordida e arrastada por um zargon.

Sentia pena por ele, sabia que ele tinha sido obrigado a deixar sua cabana tão aconchegante para ficar no reino dos centauros, não era mais seguro para ele lá.

Mas por mais que não fosse tanto tempo atrás assim, agora eram tempos ainda mais difíceis, todos os centauros que tinham suas vidas livres corriam perigo.

E estavam fazendo o correto, se unindo para se proteger e deixando toda sua vida para trás por seu rei Dávolo e para ajudar na guerra contra o espectro e a feiticeira.

Muitas coisas ainda podiam mudar, muitos povos ainda poderiam cair em si com o tempo. Niedra tinha sido uma grande vitória, mas era apenas o começo.

Depois do intenso treinamento com o oráculo ela tinha mudado, apesar de sentir orgulho de saber lutar e ter aprofundado seus sentidos élficos, sentia falta da cabana, de Chilsto e de Linade, falta de quando ela ainda achava que eles eram seus avós.

Quando nunca em sua vida imaginava ver criaturas falantes e guerreiras.

O pensamento sobre a neve novamente lhe veio à mente.

Da batalha na neve com os zargons, do ferimento profundo de Balmac que começava em sua coxa e chegava a sua barriga.

Da febre intensa e o delírio dele e o medo que todos sentiram de perdê-lo.

Lembrou do sonho e de ter usado pela primeira vez o pequeno cantil e o ter curado.

E do sequestro de Luthiron ainda naquela batalha, não poderia realmente ficar contente em seguir pela neve, ela lhe trazia as piores lembranças de sua viagem até ali.

Balançou a cabeça para tentar esquecer esse trauma.

Seus perseguidores mais implacáveis tinha sido os zargons e agora eles estavam do lado deles e era isso o que importava.

Jiron e Caluto voavam rápido por entre as árvores.

Balmac acompanhava a velocidade do grupo sem dificuldades.

Lúcia olhava atenta para os lados, mas nada indicava que os zargons os acompanhavam.

O grupo aumentou a velocidade acompanhando Érono que apesar de estar carregando o maior peso não parecia se incomodar com isso.

Ádino parecia muito inseguro em suas costas, um contraste bem diferente com sua montaria, que andava fluido e apressado.

Estava tudo escuro e Lúcia não conseguia ver nada além de árvores apesar dos seus olhos já treinados, apenas a luz das tochas carregadas por Linade e Jahil à frente.

As sombras disformes passavam ao seu lado.

Se fosse antes ela teriam medo, mas agora sabia que eram árvores e mais árvores apenas, nada que pudesse prender sua atenção.

Crônicas Helenísticas- Venília Livro 2- DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora