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Lúcia acordou com a movimentação, alguns já tinham saído do abrigo e agora era Jiron que tentava pular por cima dela para sair.

— Desculpe acordar você Lúcia, mas é muito apertado aqui.

Lúcia sentou e encolheu as pernas. — Pode passar Jiron, dormi como uma pedra, e foi bom que me acordasse.

Caluto que estava quieta em um canto a olhou de modo sugestivo. — Acho que agora poderemos comer alguma coisa.

Lúcia lembrou que havia dormido apoiada nos sacos e um rubor passou por sua face, todos ainda não haviam comido por sua culpa.

— Tem razão Caluto, já poderemos comer algo, espero que não esteja muito amassado.

— Amassado ou inteiro Lúcia vou querer uma boa refeição hoje estou faminta.

— Somos duas, não comemos nada ontem à noite.

— Precisamos racionar a comida, mas hoje bato o pé e quero comer bem.

— Será que há algum animal por aqui?

— Podemos descobrir, por mais que eu fale que quero comer bem, sei que Ádino vai fazer de conta que nem ouviu, mas se caçarmos, daí as coisas mudam. — Ela olhou de modo insondável antes continuar. — Iria comigo Lúcia?

Desde que haviam chegado a Niedra em que Caluto e Jahil saíram para cumprir com parte do plano as duas haviam trocado minúsculas frases.

E aquela variedade de frases era surpreendente para ela. Apesar de ter sido começada meio sem sentido, Lúcia sabia que Caluto não precisava comentar com ela sobre sua imensa fome, mas entendia que para ela era difícil ceder, e se estava se esforçando não seria ela que a desencorajaria.

— Podemos tentar. Nunca trabalhamos juntas em nada.

— Talvez tenhamos algum êxito. — Disse Caluto. — Ou voltaremos silenciosas e esperando a vontade de Ádino em não nos matar de fome.

— Vamos! — Lúcia falou decidida e levantou saindo da cabana já seguida de Caluto.

— Que bom que estão ai. Ádino está tentando fazer uma fogueira. — Linade apontou para o Ogro que assoprava uma pequena turfa de musgos cecos que soltavam uma fina fumaça. — Precisamos encontrar madeira seca.

— Vamos ver se encontramos comida. — Disse Caluto.

Linade parou de remexer na sacola e olhou surpresa para as duas. — Você disse... Nós?

Lúcia a olhou sem graça com a reação. — É Linade. Caluto e eu vamos ver se encontramos algo pela floresta.

— Balmac também saiu, mas não estava confiante disse que o frio poderia ter espantado a caça para a longe, seria a única explicação para o sumiço dos animais por aqui.

— Mas vamos tentar. —Disse Lúcia com um olhar que Linade compreendeu rapidamente.

— Boa sorte então, o resto do grupo ficará a procura de madeira seca. Quem sabe não estejamos com uma bela fogueira e um chá quente quando voltarem.

— Vamos Lúcia. — Chamou Caluto que saiu a frente contornando o abrigo e seguindo pela floresta rala.

Lúcia sorriu para Linade e correu atrás de Caluto que a esperava voando baixo já com boa distância do acampamento.

As duas seguiram em silêncio por algum tempo.

Lúcia se concentrava procurando ouvir algum som.

O tempo estava se fechando novamente.

— Logo vai chover, acho que devemos descer um pouco, a floresta fica mais fechada para baixo.

Crônicas Helenísticas- Venília Livro 2- DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora