A traição

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Por conta dos pés dormentes e o peso da carga, o dia foi sofrido a todos.

Andavam muito e paravam o mínimo possível e descansavam escassas horas, retomavam viagem ainda cansados e com fome, a comida racionada não os ajudava a ter energia suficiente, toda energia era tragada pelo esforço que faziam vencendo a neve.

No terceiro dia chegavam ao topo e, tinham ali um campo aberto e quase reto com muita neve depositada ali, mas não estava totalmente coberto.

E havia vários pontos aonde não havia nenhum gelo.

Apenas rochas gigantes e negras e um ar sufocante e gelado.

— Não podemos ficar aqui, o ar é venenoso, precisamos descer. — Concluiu Ádino quando haviam parado, exaustos e desesperados por algum descanso.

Dormiram por algumas horas, e todos unanimemente concordaram em sair dali.

Sentiam um cansaço além do esforço que faziam e sabiam que era por causa do ar, tiveram que começar a descer ainda na calada da noite.

Acreditavam que os centauros não haviam partido.

Estavam cuidando da floresta não permitindo que mais alguma criatura os alcançasse, pois seguiam sem surpresas.

A descida estava sendo menos penosa durando três dias com poucas paragens.

Logo viam o tempo melhorando e apressando o passo desciam acelerados. A montanha logo ficaria para trás.

À frente viam árvores encobertas até a metade, brancas de gelo em suas copas.

Ainda distante viam a floresta que se fechava abaixo.

Não perderam tempo, Caluto e Jiron já haviam tentado voar, mas o vento ainda não permitia que ganhassem altitude, estavam inquietos, impacientes por poder usar as asas.

Conforme iam se aproximando Lúcia ia se sentindo esquisita e alerta. Sentia um desassossego com aquela quietude.

Logo não era somente ela, Linade e Balmac estavam agitados, não deixando passar despercebidos pelos outros que também aumentavam sua atenção.

Jahil que vinha logo atrás de Balmac olhou para trás preocupado dizendo a Linade.

— Temos que sai da neve, sinto que vão nos recepcionar em grande estilo.

— Concordo. —Dizia Ádino que já segurava seu machado.

Se formos atacados Lúcia. — Sussurrou Luthiron. — Não se esqueça de tirar a carga de cima de mim.

— Fique tranquilo Luthiron, serei rápida, sinto que estamos sendo vigiados, e como disse Jahil estão nos esperando.

— Já vi alguns escondidos, por isso falei da carga, agora resta saber quantos.

Jiron levantou voo e Caluto o seguiu. — Aqui já posso voar vou saber o que são e quantos.

— Cuidado Jiron. — Dizia Linade que segurava firme o arco.

— Fique tranquila, dessa vez não vão me pegar, o fator surpresa deles nós já derrubamos.

— O fator quantidade é o que me preocupa. — Disse Jahil quando Jiron tomou distância.

Andavam rapidamente e atentos a qualquer movimento a frente. Ao se aproximar da floresta, logo a excitação dos seguidores os traiu.

Ádino como era o primeiro parou impedindo a fila de continuar. — São Orcs do limbo.

Lúcia com o punhal já pronto esperava a hora para cortar as cordas, não teria tempo para desamarrar.

Os Orcs não atacavam, gritavam ameaçadores para eles, mas não se aproximavam.

— Porque eles não se aproximam? —Perguntou Lúcia enquanto ainda segurava o punhal esperando o momento para livrar Luthiron da carga.

— Estão armando alguma coisa. — Disse ele baixo.

Barulhos de passos pela floresta tão perto deles os fizeram começarem a avançar corajosos.

— Esse cretinos estavam esperando ajuda. — Dizia Lúcia cortando as cordas e pegando seu arco.

Logo apareceram pastores empunhando enormes espadas tortas em arcos e ela lembrou de seu avô sendo transpassado por uma espada daquelas, não sabia qual sentimento dominava mais dentro de si, o medo das criaturas ou o ódio.

— Agora estão corajosos. —Disse Linade. —Vamos tentar acabar com a coragem deles.

Linade sem aviso começou mandar suas flechas dando atenção aos pastores. Lúcia fazia o mesmo, agradecida por não errar nenhum tiro.

Jahil brandia o machado nos Orcs que se aproximavam dando cobertura a Linade e Lúcia.

Ádino não escolhia, atacava tudo o que alcançava, seu machado enorme e afiado colaborava para a eficácia dos ataques.

De relance Lúcia viu que Caluto e Jiron haviam voltado.

Mas estavam atentos no auxilio dos companheiros, atacando aonde viam mais perigo.

Luthiron e Balmac estavam lado a lado.

Luthiron com as patas traseiras fazia os Orcs recuarem.

Mas os pastores avançavam, Luthiron esquivava dos golpes atacando em seguida. Balmac era rápido matando vários Orcs.

Apesar de muita luta, os seguidores estavam dispostos a não permitir que eles chegassem ao porto que estava a poucas milhas atrás daquela floresta.

O grupo de inimigos aumentava.

Linade gritou. — Já sabiam que viríamos aqui.

— Ouviram nossa conversa na floresta. — Gritou Lúcia em resposta. — Então não foram todos os rastreadores mortos, algum escapou.

Balmac gritou de longe para as duas, desesperado e humilhado. — Meu povo nos traiu! Por isso eles estão aqui, já sabiam nosso destino. Aqueles malditos traidores!

Sua raiva era descontada nos seguidores que se aproximavam.

Vários zargons circulavam em volta do grupo e rosnavam ameaçadores.

Lúcia mal acreditava no que via. — Estamos perdidos.

Sua flecha se abria dividindo sua ponta e derrubando dois de uma vez.

Ainda assim a eminência da derrota os assolava.

O grupo foi se juntando, ficando mais cercados por orcs, zargons e pastores.

Logo Balmac tinha sido dominado pelo seu próprio povo.

Preso ao chão com uma grande boca aberta direto em sua garganta.

Enquanto vários outros zargons o prendiam com as patas.

Com Jahil logo acontecia o mesmo, estava imobilizado.

Ele xingava e esperneava os chamando de traidores, mas não podia se mexer.

Os zargons não respondiam as palavras duras de Jahil, nem mesmo pareciam ouvir o que diziam, tampouco pareciam se importar com isso.

Lúcia queria poder ter mais uma daquelas pedras que tinha usado no campo vermelho, não era justo ter visto Balmac tão feliz pelo seu povo há poucos dias atrás e agora vê-lo subjugado por eles.

Só mais uma daquelas e acabaria com todas aquelas criaturas de uma vez.

Mas baixou o arco seguindo o exemplo de Linade, não havia mais o que fazer e então logo foram dominados.

Oiee gente :D Perdão ser muito curto esse viu, mas não dava para cortar em outra parte senão ia ficar esquisito, beijooo e espero que tenham gostado :D

Crônicas Helenísticas- Venília Livro 2- DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora