Início da neve

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Lúcia acordou com frio, uma chuva fina e fria caía e os centauros continuavam em pé formando um círculo, estavam em silêncio olhando para cima.

Levantou ainda meio sonolenta, todos se movimentavam arrumando as coisas.

— Falta pouco para amanhecer. — Érono falou ainda olhando céu escuro e sem estrelas. —Já que todos despertaram seria bom que seguíssemos viagem.

Ádino distribuiu a todos um pequeno pedaço de carne defumada e uma fatia de pão.

— Tem razão meu bom centauro, vamos só comer alguma coisa. Desculpe pessoal, mas é o que dá para comermos nessa pressa. Salguei o veado de Balmac, os coelhos de Caluto e o pato de Jiron para podermos levar.

O que sobrou do javali de Lúcia ficou para Luthiron por isso é apenas o que se tem agora.

Lúcia apertou os olhos, estranhando. — Porque você fala das caças com títulos dos caçadores Ádino?

Ele coçou a cabeça. — Não entendi.

— Você diz o veado de Balmac, o pato de Jiron...

— É um costume de meu povo, quando for a minha terra, te mostrarei muitos rolos compridos, tem histórias das caçadas de meu povo, e tudo é falado assim, nunca podemos esquecer a quem pertenceu o objeto ou alimento mesmo que ele não se sinta o dono, tem sempre que ser lembrado o nome das mãos que se abriram em benefício de todos.

Lúcia esperou Ádino terminar de arrumar os sacos nas costas do centauro negro e subir em Érono, então continuou.

— E se fosse você a caçar um coelho, por exemplo?

Diria o meu coelho ao se referir a sua presa?

Ele olhou para ela parecendo horrorizado, com os olhos amarelados muito abertos. — Claro que não! Eu abri a minha mão e soltei minha presa para todos se beneficiarem, então não seria mais meu.

Lúcia não entendeu o raciocínio de Ádino, mas não teve tempo de contestar, Luthiron estava ao seu lado.

— Está pronta? Temos que ir.

Lúcia montou Luthiron pensando em voz alta.

— Se eu abri a mão, porque ele fala o javali de Lúcia e não fala o meu coelho?

Luthiron virou ligeiramente a cabeça a olhando com o canto dos olhos. — Acredito que não é para mim essa pergunta.

— Não Luthiron, nem para você nem para mim.

Luthiron riu e balançou a cabeça enquanto troteava velozmente acompanhando a velocidade dos outros.

A chuva engrossava um pouco depois de algum tempo.

A manhã era triste e cinzenta, as nuvens escuras dominavam o céu. As árvores balançavam com o vento, pareciam até contentes por se livrar dos invasores.

Várias horas depois e Lúcia não via mudança na triste paisagem.

Por vezes ou outra, via árvores caídas por golpes de machado, ou restos de fogueira pelo caminho, mas eram acampamentos antigos.

Andavam por horas e nenhum sinal de que iriam parar.

Lúcia sentia seu corpo dolorido e frio. A chuva castigava os viajantes, a noite chegava e a viagem continuava.

A floresta agora era apenas um prado de árvores escassas e gramas descuidadas com várias falhas deixando a mostra um solo escuro e fértil.

Por sorte, Érono tinha parado para comerem algo e descansarem um pouco.

Crônicas Helenísticas- Venília Livro 2- DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora