— Porque não tenho meios para sustentá-la.
— Se meu tio tem tanto dinheiro assim, ele pode comprar uma casa para nós.
— O problema é um pouco maior do que está sugerindo, Sam.
— Maia decidiu mudar de assunto. Não queria assustar a irmã com questões que ela jamais poderia solucionar. — O que acha de pararmos no Halson e comermos bomba de chocolate?
— Podemos pagar por eles?
— Não, mas quem se importa?
Vamos viver o momento! Compraram seis confeitos e devoraram todos eles sentadas na sala da casa que em breve perderiam. Com cinco dormitórios e localizado em uma área privilegiada, o imóvel deveria alcançar um bom preço. Maia considerou enquanto lavava a louça do chá, logo depois de acabarem de comer. Se esse valor seria suficiente para saldar todas as dívidas deixadas pelo padrasto já era uma outra questão. E felizmente não tinha de pensar nisso. Suas preocupações já eram inúmeras, e preferia não acrescentar novos itens à lista.
As duas irmãs passaram uma noite tranquila diante da televisão. Samantha foi para cama às dez, deixando Maia sozinha com suas preocupações. Incapaz de pensar em saídas plausíveis, decidiu seguir o lema de uma de suas heroínas favoritas: Amanhã seria outro dia. Nada como uma boa noite de sono para tornar tudo mais claro e melhor.
Como acontecia com freqüência, quanto terminou de preparar-se para dormir havia perdido o sono. Certa de que uma xícara de chocolate quente a ajudaria a relaxar, desceu para ir aquecer o leite, sem se dar ao trabalho de vestir um robe por cima da camisola curta de algodão.
Havia começado a chover, e as gotas executavam uma sinfonia melancólica nas vidraças da cozinha. Mais uma boa razão para relaxar e dormir.
Estava pondo o pé no primeiro degrau da escada quando ouviu o som de um carro se aproximando. A luz dos faróis iluminou a janela da sala, e pouco depois o veículo parou da área pavimentada diante da casa.
Houve uma pausa breve seguida pelo som de vozes, e alguém tocou a campainha com vigor desnecessário, considerando que as luzes internas ainda estavam acesas. Só esperavam por uma pessoa... e ele devia ter antecipado a viagem.
Deixando a xícara sobre o jornal dobrado em cima da mesa da sala, caminhou descalça até a porta, e já tocava a maçaneta quando a cautela deteve o movimento.
— Quem é? — perguntou.
— Nick Carson. Será que pode abrir de uma vez, por favor? Estou ficando ensopado aqui fora!
Pensou em dizer que esse era o efeito mais imediato da chuva, mas achou melhor guardar os comentários irônicos para quando o conhecesse melhor. Relutante, abriu a porta para o homem que decidiria o futuro de Sam.
Ele acenou para dispensar o táxi, entrou e deixou a mala no chão do hall. Maia fechou a porta e deu as costas para o recém-chegado, perturbada com a expressão grave no rosto de traços fortes. Cerca de quatro ou cinco centímetros mais alto que seu padrasto, que tinha um metro e oitenta e cinco de altura, Nick possuía os mesmos olhos cinzentos e os cabelos negros e espessos do irmão. O olhar penetrante sugeria uma personalidade mais forte.
— Levando em consideração que parece ter um pouco mais do que catorze anos — ele apontou — quem é você?
— Sou a meia-irmã de Samantha. O sr. Gordon não falou sobre mim?
— Não, ou eu não estaria perguntando. Gordon disse apenas que meu irmão havia morrido e deixado a filha de catorze anos na miséria. Meia-irmã?
— Minha mãe casou-se com seu irmão quando eu tinha quatro anos. Sam nasceu doze meses mais tarde.
— Ah! Pensei que tivesse dezesseis... no máximo dezessete anos. Vejo que me enganei. Tem o hábito de andar pela casa usando apenas uma camisola?
— Só à noite — Maia disparou, irritada com a postura arrogante do sujeito. Não se deixaria intimidar. Sabia que a camisola era mais decente que muitos vestidos usados pelas garotas de sua idade. — Por sorte desci para beber alguma coisa. Caso contrário, já estaria dormindo.
— Nesse caso, eu teria sido forçado a acordá-la. Podemos nos sentar em algum lugar? Passei o dia todo viajando, e pelo visto há muitas coisas que aquele advogado não me contou.
— Se está cansado, podemos deixar para conversar amanhã — Maia sugeriu esperançosa, pensando em dispor de algum tempo para preparar-se melhor.
— Vamos conversar agora. Preciso saber o que esperam de mim. — Eu não espero nada. Sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma.
— É claro. Por isso anda descalça e deixa seu chocolate esfriando sobre a mesa.
— Você me interrompeu quando... Ah, esqueça — disse, lamentando pela primeira vez o hábito de não usar chinelos. Crianças andavam descalças. Adultos não. Por isso o homem a julgara mais nova do que era