Bella passou a tratá-las um pouco melhor, principalmente devido ao
esforço de Maia para manter os dois quartos, dela e de Sam, na mais perfeita
ordem, apesar da falta de colaboração da irmã. Sabia que era a maior culpada
pela falta de consideração de Samantha com a arrumação e a limpeza. Sempre
havia sido mais fácil e rápido desempenhar as tarefas domésticas do que
esperar pela ajuda da menina.
Organizar a papelada no estúdio não levou mais do que algumas horas,
e apesar de sua inexperiência com os negócios, Maia logo concluiu que a
venda dos quadros não era a única fonte de renda de Nick. Ele também
mantinha uma impressionante variedade de investimentos. Não que a
descoberta fizesse alguma diferença. Sempre soubera que ele era rico, a
extensão dessa riqueza não tinha importância.
Nick abrira contas bancárias em seu nome e no de Sam, e agora ambas
possuíam talões de cheques. O valor das duas contas devia exceder em muito
a quantia que ele afirmava ter recebido da empresa que comprara os móveis.
Questionado, ele nem tentou negar a acusação.
— É a única maneira de terem uma certa independência —
argumentou. — E não vou discutir o assunto. Se não quer usar o dinheiro, o
problema é seu. Mas ele vai ficar exatamente onde está.
Maia fora procurá-lo no estúdio, onde ele concluía a cena marítima.
Observando a facilidade com que produzia uma obra de perfeição admirável,
Maia invejou seu talento. Mesmo com todas as aulas do mundo, não teria
sequer se aproximado daquele resultado.
— Já pensou no que Samantha vai fazer com todo aquele dinheiro? —
indagou.
— Em que ela poderia gastá-lo? Roupas? O que tem é suficiente para
abrir uma loja.
— Eu sei. Não devia ter deixado minha irmã gastar tanto.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Nick recuou um passo para
observar o quadro e abandonou o pincel. — Quando vai parar de ver críticas
onde elas não existem? — Enquanto limpava as mãos em um pedaço de pano,
continuou: — Esta é a última tela da consignação para Nova York. Já que está aqui, podemos começar a trabalhar. Faremos os esboços preliminares. Sente-
se aqui, onde a luz é melhor.
Satisfeita com a desculpa para ficar perto dele, Maia obedeceu. Nick
preparou o material e começou a desenhar.
A camiseta justa revelava músculos poderosos, e a calça jeans
ressaltava a força das coxas grossas. Era tão másculo, tão diferente dos
garotos que conhecera!
— Tente pensar em alguma coisa agradável. Algo que gostaria de estar
fazendo — ele sugeriu, procurando ajudá-la a relaxar.
Não conseguia conter o fluxo de imagens provocado pelas palavras
inocentes. Nick deixando o pincel para aproximar-se dela, tomá-la nos braços
e carregá-la até o sofá no canto do estúdio. Nick beijando seus lábios, o
pescoço, o colo...
Abriu os olhos e descobriu que ele a observava com uma expressão
perturbada. Sem dúvida podia imaginar o que ocupava seus pensamentos.
— Tem todo o tempo do mundo, Maia., Não se apresse. Espere pelo
homem certo.
Era tarde demais para negações. Vermelha, ela respondeu:
— Esse homem já apareceu. Amo você, Nick!
— Você não me ama. — A voz era mais dura. — O que sente é apenas
uma forte atração sexual, mais nada. Estou honrado por ser o objeto de seu
desejo, mas é só isso. Seja uma boa menina e esqueça essa história, está bem?
— Não sou nenhuma criança! Não preciso de ninguém decifrando
meus sentimentos!
— E eu não preciso disto! Vai posar para mim, ou devemos dar o dia
por encerrado?
Tremendo de raiva e humilhação, ela se levantou. Nick não tentou
detê-la ao vê-la caminhar para a porta.
Vários minutos se passaram antes que ela pudesse se dar conta do que
dissera no estúdio. Que vergonha! Como havia sido idiota a ponto de
confessar seu amor por um homem que conhecia há uma semana? O que
esperava? Retribuição?
E como voltaria a encará-lo depois disso?
Eram mais de seis horas quando Nick voltou para casa. Parada ao lado
da janela do quarto, Maia o viu contornar a piscina a lamentou não poder
conter as emoções como se fechasse uma torneira. Talvez nem fosse amor,
mas o que sentia era envolvente e forte. Jamais havia experimentado algo tão
poderoso em toda sua vida.
O jantar foi uma provação. Depois de uma semana nadando e tomando
banho de sol, Samantha começava a ficar aborrecida, e não fazia nenhum
esforço para esconder o tédio.
— É inútil ter tantas roupas novas se não saio de casa — ela se
queixou. — Ainda nem fui à praia!
— Ainda é tempo de corrigir esse lamentável erro — Nick respondeu.
— Paradise é um excelente ponto de partida. — E virou-se para Maia. — Siga
para oeste e continue cerca de dois quilômetros além de Bridgetown.
Marcarei o caminho no mapa, se quiser. Será um bom motivo para praticar
antes do início das aulas de Samantha na segunda-feira.
— Quer dizer que espera que eu vá dirigindo seu carro?
— Por que não? Você é habilitada.
— E tem muita sorte — Sam apontou. — Pode passear e divertir-se
quando quiser, enquanto eu vou ter de passar mais dois anos presa na escola!
— Dois anos? Quem disse que vai abandonar os estudos aos dezesseis?
Maia não teve alternativa, mas seu destino será bem diferente do dela.
— Não poderá me obrigar a nada depois que eu completar dezesseis
anos.
— Quer apostar?
Nos últimos dias, Maia aprendera a se manter longe das constantes
discussões entre tio e sobrinha. Nick era perfeitamente capaz de cuidar de si
mesmo, e a prova disso era o silêncio de Samantha, que comia a sobremesa
com ar contrariado.
Nick desapareceu assim que terminou de tomar o café. Maia não se
surpreendeu ao ouvir o som de um carro se afastando vinte minutos mais
tarde.
Seria uma longa noite, e a insistência de Samantha para que fossem à
cidade no outro carro só tornava a situação ainda pior.
— Não sei por que não?! — ela dizia. — São apenas quinze ou vinte
minutos de viagem.