Sem alternativa, Maia a seguiu e foi pedindo desculpas àqueles que haviam sido atingidos. Sabia que, algum dia, acabaria realmente perdendo a paciência!
O conjunto de calça e jaqueta amarela que Samantha insistira em usar depois da primeira loja acrescentava alguns anos a sua idade, e os dois rapazes a examinaram com evidente interesse enquanto ela deixava as sacolas no chão e caía sobre uma das cadeiras com um suspiro teatral.
- Obrigada pelo convite. Pensei que fôssemos morrer de sede!
Um deles, o de cabelos claros, levantou-se. - O que querem beber? O serviço aqui é tão lento, que prefiro sempre ir pedir no balcão.
- Oh, não, obrigada - Maia protestou. - Eu mesma posso cuidar... - Bobagem. Será mais rápido se eu for pedir. Os turistas não são os primeiros a serem atendidos.
- Não somos turistas - Samantha anunciou. - Moramos aqui. O interesse cresceu. - Realmente? Como nunca nos encontramos antes? - Porque nos mudamos ontem-Maia explicou relutante, aceitando a oferta do rapaz ao se dar conta de que não possuía uma única moeda em dinheiro local.
O rapaz afastou-se para ir buscar as bebidas, e o outro se apresentou.
- Sou Reece Brady. Ele é Tim Wyman. Também moramos aqui. Tim nasceu na ilha. Meus pais vieram de Michigan quando eu era pequeno.
Não devia ter mais de dezessete anos, Maia calculou. Dono de cabelos castanhos e grandes olhos verdes devia ser o sonho de todas as adolescentes do lugar.
Samantha fez as apresentações por elas e provocou uma reação imediata ao mencionar o nome de Nick.
- Então são vocês as garotas de quem todos estão falando! Ele é mesmo seu tio?
- É claro que sim! Papai nos deixou na miséria ao morrer, e por isso viemos morar com tio Nick.
- E já começaram a gastar - Reece apontou para as sacolas e riu. -
Não importa. Ele tem muito mais do que precisa.
- Como pode saber? - Maia perguntou irritada. - Todos sabem! Tim chegou com as bebidas e logo foi informado sobre a identidade das duas irmãs.
- Dione vai ter uma surpresa e tanto quando voltar - ele opinou depois de ouvir o breve relato do amigo.
- Quem é Dione? - Samantha perguntou sem rodeios. - Minha irmã. Ela ajuda na administração da loja da família... sempre que está aqui. No momento ela está em Nova York.
Wyman. Até então Maia não ligara o nome a uma das lojas que haviam visitado naquela manhã. Um estabelecimento caro e elegante.
- O que ela tem a ver com Nick? - indagou, esperando soar casual, apesar de ter certeza da resposta.
- Bem, nada como o que gostaria de ter - Tim riu. - Ela vai ficar furiosa quando souber da presença de duas belas louras na casa de Carson.
Samantha riu. - Não devia estar defendendo sua irmã? - Por quê, se ela nunca me defendeu? Dione acha que aos vinte e seis anos está acima de nós, os mais jovens. Não sei o que Nick viu nela!
- Pois eu sei - Reece interferiu. - A mesma coisa que todos os outros homens vêem. Duas sobrinhas não farão muita diferença. Dione sempre consegue o que quer.
Pelo que acabara de ouvir, era bem provável que Dione fosse a pessoa que Miles Penhalligen mencionara em sua galeria. Se a mulher estava envolvida com Nick, Maia podia imaginar qual seria sua reação quando voltasse de Nova York.
A culpa era dele. Se houvesse seguido sua sugestão, Nick não estaria enfrentando tantos problemas.
Ao estender a mão para o copo de suco de laranja que pedira, olhou para o relógio e viu que faltavam apenas cinco minutos para o meio-dia.
- Oh, não! Temos de ir, Sam! Já é quase meio-dia!
- Ei, qual é o problema? Sua carruagem vai virar uma abóbora?
-Brincou Reece.
- Acalme-se, Maia! Que importância pode ter um pequeno atraso? -
Samantha protestou. - Ele vai esperar...
- Foi um prazer conhecê-los - Maia disse aos dois jovens, ignorando a objeção. - E obrigada pelas bebidas. Vamos, Sam.
Já estavam na rua quando a mais jovem comentou aborrecida: - Que falta de delicadeza! Podia ao menos ter me deixado terminar de beber o suco!
- Nick disse que estaria esperando por nós ao meio-dia. Teria sido uma indelicadeza ainda maior fazê-lo esperar. Devemos muito ao seu tio, Sam. Ainda mais do que havíamos nos dado conta.
- Está falando isso por causa da irmã de Tim? E daí? Ela é só uma namorada! Ninguém disse que os dois vãos se casarem. Se não gostar da nossa presença, o azar será todo dela.
Namorada era um termo ameno demais para descrever o relacionamento entre o casal. Dione devia ser amante de Nick. E já a odiava por isso.
- E hora de começar a mostrar um pouco mais de consideração, Sam. Nick se dispôs a mudar muitas coisas em sua vida por nossa causa. Poucos homens na posição dele teriam feito o mesmo.
- Muitos homens teriam considerado um golpe de sorte dividir a casa com duas belas louras.
Maia não conseguiu conter um sorriso. Oh, como gostaria de ser realmente uma loura estonteante! De preferência com vinte e seis anos de idade.
Chegaram ao local do encontro com quinze minutos de atraso e encontraram Nick parado ao lado da fonte no centro da praça.
- Desculpe - Maia pediu ofegante. Ele encolheu os ombros. - Já perdi tempo por razões bem piores. Encontraram tudo que queriam?
- Não, mas creio que é o suficiente por enquanto - Samantha respondeu sem nenhum constrangimento.
- Ótimo. Tiveram algum problema? - Nenhum - disse Maia. - Seu nome é reconhecido em todos os lugares.
Foi um alívio jogar as caixas e sacolas no porta-malas e sentar-se no interior do automóvel equipado com ar-condicionado. O calor começava a se tornar insuportável lá fora. Samantha preferiu o banco traseiro, o que obrigou Maia a viajar na frente, ao lado do motorista.
- Conhecemos um rapaz chamado Tim Wyman - Sam contou assim que partiram. - E o amigo dele, Reece. Eles compraram bebidas para nós.
- Espero que não tenha bebido nada alcoólico. E aqueles dois deviam estar na escola.
- Por quê? Quantos anos eles têm? - Dezessete. Os dois estudam em Peterson, o mesmo colégio para onde você irá à próxima segunda-feira. - Tão depressa assim?
- Foi o melhor que pude fazer. Sendo assim, aproveite seus cinco dias de liberdade.
Cinco semanas não seriam o bastante, Maia pensou. E se Tim. e Reece podiam escapar da escola com tanta facilidade, quem obrigaria Samantha a frequentar as aulas? Se não se deixara aprisionar pelos muros dos colégios ingleses...
Ah, como gostaria de ter catorze anos! Assim não estaria tão atormentada pela presença do homem sentado a seu lado. Por outro lado, talvez ele a visse sob outro ângulo se fosse mais velha. Mas aos dezenove, estava exatamente no meio do caminho. Talvez em outubro...
Imaginaram os dois juntos, as mãos explorando seu corpo, os olhos cinzentos devorando suas curvas, expressando desejo e paixão, a boca tocando...
Umedeceu os lábios com a ponta da língua e sentiu-se envergonhada ao perceber que Nick olhava em sua direção. Aquilo tinha de parar! Desesperada, compreendeu que a situação estava escapando ao seu controle.
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