Capítulo 23

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A praia castigada pelas ondas era fenomenal, e Nick fez alguns
esboços da paisagem e um de Maia, perdida na contemplação do oceano.
- Eu nem percebi! - ela se espantou ao ver o retrato.
- Era essa a intenção. Na semana passada percebi que você não é o
tipo de modelo que pode ser retratada em uma pose de estúdio. Seria como
tentar imobilizar uma força da natureza.
- Está falando sério, ou não quer ficar comigo no estúdio por medo
de sucumbir ao meu poder de sedução?
- Engraçadinha! Falando nisso, sabia que eu havia voltado quando
decidiu ir nadar nua naquela noite?
- Não - ela respondeu séria. - Não ouvi o carro. Não tinha um
maio, e por isso decidi mergulhar despida. Não imaginava que pudesse haver
alguém por perto. E quando o vi, pensei que fosse uma alucinação.
- E eu tirei proveito disso...
- Você fez apenas o que eu queria que fizesse. Pare de censurar-se!
- Vou tentar - Nick sorriu. - Por que não me mostra o que é capaz
de fazer? - Ele ofereceu o bloco de papel e o lápis.
- Oh, não! Sou apenas uma amadora!
- Talentosa, de acordo com Sam. Vamos lá, desenhe a paisagem, as
gaivotas... Qualquer coisa.
Os olhos azuis foram iluminados por um brilho intenso.
Segurando o bloco junto ao peito, ela executou movimentos suaves e
concluiu o esboço com uma assinatura rabiscada no canto inferior da página.
- Retrato de um artista - disse, devolvendo o bloco.
Nick examinou o desenho e começou a rir. Maia havia feito uma
caricatura dele diante de um cavalete, segurando um pincel maior que seu
braço e mordendo a língua numa expressão exagerada de concentração.
Pensara em acrescentar uma mulher nua reclinada em uma espreguiçadeira,
mas achou melhor não revelar a fonte daquela súbita inspiração.

- Além de talento, também tem senso de humor - ele comentou,
devolvendo o bloco. - Tente algo mais sério, está bem?
Dessa vez Maia desenhou mais devagar, a testa franzida e os olhos
apertados contra a luz intensa do sol. Nick permaneceu em silêncio até que
ela devolveu o bloco com um movimento de ombros que sugeria inibição.
- Não está muito bom. Os olhos não saíram como eu queria.
Ela o desenhara novamente, mas dessa vez com realismo. Notando que
seu trabalho era analisado com atenção excessiva, Maia inquietou-se.
- Não precisa ser gentil. Não vou tentar o suicídio se disser que o
desenho é ruim.
- Ruim? É ótimo! Tem razão quando diz que os olhos podiam ser
melhores, mas eles são o traço mais difícil de capturar em um retrato. Você
tem talento. Só precisa lapidá-lo. E será um prazer ajudá-la, Maia .
- Não está dizendo essas coisas só para me agradar?
- Seria cruel alimentar falsas esperanças. Além do mais, a pintura vai
representar uma faceta a mais em nossa lua-de-mel.
- Lua-de-mel?
- Acontece sempre depois do casamento. Quer escolher algum lugar
em especial, ou prefere que eu faça surpresa?
- Oh, Nick! Prefiro a surpresa. Devo ser uma mulher de muita sorte.
Beijou-o e desejou que estivessem sozinhos. Mesmo que fizessem
amor dezenas de vezes, nunca seria o bastante!
Eram quase seis da tarde quando voltaram para casa. Bella os recebeu
na porta, e havia uma sombra de preocupação nos olhos escuros. Sam estava
desaparecida há quatro horas. O terreno fora vasculhado duas vezes, mas não
encontraram nem sinal dela.
Nick decidiu sair de carro para procurar pela sobrinha, e Maia ,
conhecendo a irmã, resolveu acompanhá-lo.
Depois de meia hora percorrendo as trilhas entre os canaviais sem
nenhum sucesso, Maia sugeriu que fossem a Bridgetown. Nick guiou o carro
na direção da cidade, e sua expressão indicava que Sam estaria encrencada se
fosse encontrada por lá. De sua parte, Maia só queria certificar-se de que a
irmã estava bem.
Enquanto ele conduzia o veículo em velocidade reduzida, Maia seguia
atenta aos pequenos grupos reunidos nas ruas iluminadas. Alguns turistas
ainda passeavam e apreciavam as vitrinas das lojas na avenida principal, e
jovens se reuniam em torno de mesas de bares ou nas calças, exibindo roupas
elegantes e rindo com a alegria típica da adolescência. Samantha estava em
um desses últimos grupos. Tim mantinha um braço apoiado sobre os ombros
exibidos pelo vestido justo e decotado, a saia tão curta que mal cobria a
porção superior das coxas.
Maia sabia que aquela roupa não havia sido comprada em sua
companhia.
Nick parou o carro ao lado do grupo e desceu sem dizer nada. De
costas para a rua, Samantha foi pega de surpresa pela voz imperiosa.
- Entre no carro. E você, mocinho, é melhor desaparecer por um bom
tempo.
-Ei, qual é o problema? - Tim respondeu com ousadia, mantendo o
braço sobre os ombros de Sam. - Estamos apenas nos divertindo.
Era evidente que estivera bebendo. E pelo olhar insolente de
Samantha, ela acompanhara os amigos.
- Não vou a lugar algum com você!
Furioso, Nick segurou-a pelo braço e quase a jogou dentro do carro,
fechando a porta de trás com uma violência assustadora. Apesar da
contrariedade, Samantha não tentou sair ou argumentar. Pelo menos ainda
conservava uma certa noção de perigo.
Tim e os outros integrantes do grupo permaneceram onde estavam,
sem coragem para enfrentar o adulto que se sentava diante do volante e
ligava o motor.
Por mais que quisesse dizer algumas verdades à irmã, Maia achou
melhor ficar quieta. Nick estava lidando muito bem com a situação.
- Espero que nunca mais repita o que fez hoje - ele disse.
- Por quê? Não tem o direito de me dar ordens! - Samantha explodiu
revoltada, certamente buscando coragem no álcool. - Odeio você!
- Continue assim, e vai ter motivos bem concretos para odiar-me.
Quando comprou essa roupa ridícula?
- Não foi quando estivemos juntas na cidade - Maia afirmou
impaciente.
- Esteve faltando à escola?
- E se estive?
- Samantha, você foi matriculada há uma semana! Que tipo de
impressão espera causar?
- Relaxe, Nick. Foi só um intervalo para o almoço. Além do mais,
você me deu aquele talão de cheques para que eu fosse independente, certo?
- Se é assim que pretende usar seu dinheiro, talvez tenha de tomar
algumas medidas corretivas. Como chegou à cidade?
- Tim foi me buscar no portão de casa.
- Se queria sair, por que não foi conosco à praia? - indagou Maia.
- Porque não queria estar com vocês! E ainda não quero! Isso tudo é
horrível!
- Já chega! - De repente Nick parecia prestes a perder a paciência.
- De agora em diante, está proibida de se relacionar com Tim Wyman. Quero
que fique bem longe dele.
Samantha não respondeu. Em casa, Nick obrigou-a a mudar de roupa e
lavar o rosto.
- Precisa comer alguma coisa para ajudar o estômago a absorver o
que esteve bebendo. Vou dizer a Bella para atrasar o jantar em meia hora.
Maia subiu, lutando contra a irritação que ameaçava dominá-la. Era
inútil dizer a si mesma que não tinha culpa pelo comportamento de Samantha,
quando sabia que tudo havia sido uma reação direta ao que acontecera
recentemente. Nick devia estar arrependido por ter atendido ao telefonema do
sr. Gordon!
Depois de uma ducha rápida e revigorante, foi ao quarto da irmã e
encontrou-a dormindo profundamente. Talvez fosse melhor assim. No dia
seguinte, quando a levasse para a escola, tentaria ter uma conversa honesta e
equilibrada com a adolescente.
Nick a esperava na sala com um uísque na mão.
- Quer beber alguma coisa? - ofereceu.
- Não, obrigada. Sam está dormindo. Espero que não acorde com uma
ressaca.
- Seria uma excelente lição para ela. Este papel de pai severo nunca
fez parte do meu roteiro, sabe?
- Deve estar farto de nós duas. Só trouxemos problemas para você.
- Tem razão.
- Ainda não é tarde demais. Se quiser recuperar seu antigo estilo de
vida...
- Esqueça. Eu sempre termino o que começo. - Esvaziou o copo de
um só gole e deixou-o sobre uma mesa de canto. - Vamos jantar.
Conversaram pouco durante a refeição. A certa altura, Maia não suportou mais a tensão e decidiu dizer o que a incomodava.
- Se quiser tomar outra atitude com relação a nós duas, certamente
entenderei e...
- O que acha que posso fazer?
- Pode mandar Samantha para o colégio interno, por exemplo.
- Onde ela não ficaria, como você disse.
- Talvez fique. Suponho que a escolha do colégio seja importante.
- E quanto a você, o que tem a sugerir?
- Você mencionou a escola de arte. Sei que o custo seria alto, mas...
- Pelo amor de Deus, quer parar de pensar nos custos de tudo? Não
me importo com o dinheiro!
- Você se importaria, se tivesse pouco. Como estava dizendo, não
seria apenas a mensalidade da escola. Teria de pensar em moradia,
alimentação, material e...
- Você não vai a lugar nenhum! Vai ficar aqui, ao lado de sua irmã.
Sei lidar com Samantha. Quanto a você... - De repente ele se levantou,
contornou a mesa, tomou-a nos braços e beijou-a. - Não vai sair daqui -
repetiu.
- Não quero sair. Só pensei que...
- Não pense. Vamos encontrar uma solução para tudo.
Gostaria de ouvir Nick dizer que a amava, mas sabia que isso não ia
acontecer. Ele só aceitara o casamento por se sentir culpado. Ainda a queria,
e a noite anterior havia sido a prova desse desejo, mas por quanto tempo
continuaria interessado em suas respostas ingênuas e simples?
Talvez devesse comprar livros sobre o assunto. Aprenderia a manter o
interesse do homem que amava, e o resto viria com o tempo.

A Amante porém VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora