- E quem está pensando em colégio interno? Foi você quem disse isso.
- E qual é a alternativa? É um homem solteiro. Não pode levá-la para morar em sua casa. Já imaginou o que as pessoas vão dizer?
- Não, e nem quero imaginar. E não vou fingir que estou eufórico com o papel de guardião de uma adolescente, mas, como você mesma apontou ontem à noite, sou o único parente vivo de Samantha, o que encerra a discussão. Espero contar com você.
Maia encarou-a em silêncio por um momento, completamente aturdida.
- Está sugerindo que eu também me mude para Barbados?
- perguntou em voz baixa.
- Por que a surpresa? Não quer ir?
- Não é a minha vontade que está em jogo. Sam é sua sobrinha, mas eu... eu seria apenas um caso de caridade.
- Se puder contar com sua ajuda, não terei de contratar uma babá... se é que o título também se aplica a quem cuida de adolescentes. Além do mais, você pode arrumar um emprego.
- Fazendo o quê? Já se esqueceu da minha falta de qualificações?
- Qualificações podem ser conquistadas.
- Com o tempo. Até lá...
- Até lá você pode ser útil dentro de casa, se quiser. - Não irei a lugar nenhum, a menos que você vá comigo
- Samantha afirmou da porta.
- Você não tem escolha - respondeu o tio dela. Os olhos azuis adquiriram um brilho mais, intenso.
- Maia já havia dito que você é mandão!
- Maia ainda não viu nada! - A impaciência deu lugar a um sorriso divertido. - Olá, Samantha. Vejo que já escolheu seu lado na disputa.
- Vou ter de chamar você de tio?
- Nick - ele decidiu. - Afinal, somos todos adultos. O sorriso que iluminou o rosto da menina sugeria aprovação.
- Certo, Nick. E você pode me chamar de Sam.
- Vou preparar o café - Maiaanunciou. - Suco para todos?
- Sim, por favor - Nick aceitou. - Mas ainda espero uma resposta. Agora. Prefiro sempre a clareza e a objetividade.
Considerando que a única alternativa seria separar-se da irmã e candidatar-se ao programa de apoio financeiro do governo, seria tolice recusar o convite.
- Sim - disse com alguma hesitação. - E... obrigada.
- Por nada. - Já que estamos de acordo com relação ao número de passageiros, - Samantha brincou, puxando uma cadeira para sentar-se - quando partimos?
- Segunda-feira, se ainda houver lugares disponíveis no vôo.
Maia quase derrubou as tigelas de cereal que havia tirado do armário.
- Não vamos conseguir resolver tudo até lá!
- O que não pudermos concluir, ficará sem conclusão. Só precisam se preocupar com seus pertences pessoais.
- Não me refiro apenas à casa. Não temos passaportes, por exemplo.
- Detalhes... Iremos à cidade esta manhã e cuidaremos de tudo. Mais alguma coisa?
Maia tentou pensar depressa.
- A escola... - Eles serão informados.
- Levando em consideração que amanhã é sexta-feira, isso significa que não preciso mais voltar às aulas? - Samantha perguntou esperançosa, deixando escapar um grito ao vê-lo assentir. - Grande!
- É melhor não se entusiasmar muito - o tio aconselhou.
- Ainda tem uns bons anos de estudo pela frente. - E olhou para Maia novamente. - Mais alguma coisa?
- Não sei. Não estou acostumada com toda essa pressa. Você é muito... decidido.
- Melhor do que ser mandão. Ela não conseguiu conter um sorriso. - Foi a impressão que tive ontem à noite.
- Deve ter sido o cansaço da viagem. E então? Podemos comer?
Maia serviu os flocos de milho e decidiu que teria de ir ao supermercado para abastecer a despensa para os próximos dias. Felizmente ainda dispunha de algum dinheiro.