Capítulo 11

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O mar parecia calmo àquela altura, e os navios lembravam brinquedos em uma banheira.

Samantha logo se aborrecera com a paisagem, dizendo que voar não era uma grande coisa, afinal. Mas Maia continuava com o rosto bem próximo da janela, encantada com o serviço da primeira classe. Aquela manhã haviam sido tratados como reis desde que chegaram à sala de embarque, onde foram servidos drinques e canapês. Nick se comportava como se estivesse mais que habituado a tudo aquilo, o que a levara a questionar sua verdadeira posição social. Lera em algum lugar que os artistas passavam a vida lutando pela sobrevivência, mas Nicholas Carson parecia ter mais do que o necessário.

Ele estava sentado no banco de trás, só precisava virar um pouco o pescoço para vê-lo pelo canto dos olhos. O livro que estivera lendo fora trocado por um bloco de desenhos.

Sutis e sensíveis, as mãos de dedos longos eram a única parte do corpo que combinavam com a imagem do artista. O restante era pura masculinidade. E era essa aura de virilidade que atraía os olhares de todas as mulheres por quem Nick passava.

A comissária de bordo parou para perguntar se ele gostaria de beber alguma coisa e deixou escapar uma exclamação surpresa.

- Quer ficar com ele? - Nick indagou.

- Oh, sim! Nunca tive um retrato desse tipo!

Ele riu.

- Não é exatamente um retrato.

- Para mim é o melhor. Pode assiná-lo, por favor?

- Sim, é claro. - Houve uma breve pausa seguida pelo ruído da página sendo arrancada do bloco. - Aqui está.

- Vou guardá-lo como um tesouro. Um Nicholas Carson! Meu!

- Não conte com isso - murmurou Samantha. A jovem comissária aproximou-se para repetir a mesma pergunta que fizera aos outros passageiros, e ela levantou a cabeça com um sorriso doce. - Posso dar uma olhada?

A morena de traços perfeitos e cerca de trinta anos correspondeu ao sorriso e exibiu o desenho. Maia teve de admitir que a semelhança era impressionante.

Samantha nem se deu ao trabalho de tecer comentários.

- É uma honra ser considerada digna de todo esse trabalho - a aeromoça disse, sorrindo para o homem sentado no banco de trás.

- Não foi trabalho algum. - Nick garantiu com simpatia. - Uma estrutura óssea como a sua é o sonho de todo artista.

Se o peito da mulher inchasse um pouco mais, ela acabaria concluindo a viagem sem os botões do uniforme, Maia pensou com maldade incomum.

Sempre irreverente, Samantha virou-se para o tio no banco de trás.

- Que bela cantada!

- Você é jovem demais para tanto cinismo - ele a censurou. - A moça tem mesmo uma bela estrutura óssea.

- Eu também tenho. E nem por isso você se ofereceu para fazer o meu retrato.

- Gostaria que eu fizesse um?

- Pensei que nunca perguntaria!

- Então venha sentar-se aqui atrás, onde posso vê-la.

Samantha atendeu ao pedido como se estivesse prestando um enorme favor.

- De frente ou de perfil?

- De qualquer jeito, desde que fique quieta.

- De perfil. Vou começar a rir se tiver de ficar parada olhando para você.

Ouvindo a conversa, Maia teve certeza de que jamais se sentiria tão a vontade com ele quanto a irmã. Além do fator físico, era horrível saber que seria sustentada por um homem que nem era seu parente.

O desenho foi concluído com rapidez espantosa, e Samantha examinou-o com um olhar crítico.

- Você me fez parecer uma criança!

- Você é uma criança - Nick respondeu com tom seco. - Quer ficar com ele, ou posso rasgá-lo? - Vou guardá-lo. Por que não desenha Maia agora?

- Outro dia - ele disse, antes que Maia pudesse rejeitar a idéia. - Quero terminar de ler meu livro.

Sam voltou ao assento ao lado da irmã e jogou o desenho no colo de Maia com uma careta de desprezo. Apesar da opinião de Sam, era evidente que Nick conseguira captar a juventude do rosto delicado com perfeição. Esperava que ele não acreditasse tê-la desapontado com a recusa em desenhá-la, porque um retrato era a última coisa que tinha em mente.

Desde a primeira visão da ilha com suas praias de areia branca, Erin ficou tão encantada que hão conseguiu pensar em mais nada. O sol ainda brilhava alto no céu quando aterrissaram.

Nick foi recebido no aeroporto com familiaridade e simpatia, mas os olhares de especulação para ela e Samantha não passaram despercebidos. Em uma ilha tão pequena como aquela, a notícia se espalharia como fogo sobre pólvora, e logo começariam os comentários.

Pegaram um táxi na saída do aeroporto, o que decepcionou Samantha. Sem falsos pudores, ela anunciou que esperava ser transportada por uma limusine.

- As estradas da ilha não são adequadas para esse tipo de veículo. Costumo dirigir o jipe, mas também tenho um Mercedes na garagem. Se souber dirigir, posso incluir seu nome na apólice de seguro.

- Sim, eu sei dirigir, mas posso usar um ônibus quando quiser ir a algum lugar - Maiagarantiu orgulhosa. - Deve haver um sistema de transporte público na ilha.

- Existe, mas você teria de andar muito para chegar ao ponto de parada mais próximo da casa.

O que não seria nenhum sacrifício em uma paisagem como aquela. As cores eram vibrantes, a vegetação, exuberante e exótica, e um perfume floral pairava no ar momo e limpo.

- E tudo tão lindo! - exclamou, esquecendo a questão do transporte. - Nunca vi tantas flores diferentes!

- Logo vai se habituar ao cenário. Em um mês, vai estar tão acostumada que nem notará a paisagem.
- Nunca! - Entusiasmada, virou-se para encará-lo. - Posso imaginar como a nossa presença vai influir em sua rotina diária, mas farei tudo que puder para ajudar. Qualquer coisa. Só precisa pedir.



A Amante porém VirgemOnde histórias criam vida. Descubra agora