É você

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Era pra ser um bilhete de despedida. Nunca, jamais, poderia ter sido esse papel rabiscado com juras de amor. Cheio de gratidão e fofurice em letra cursiva. A gente nem se falava mais, mal trocávamos uma mensagem no whatsapp... O que que você tem nessa sua cartola que coloca os planetas em órbita de novo com tanta rapidez? Quantas galinhas pretas você mata durante a semana pra me fazer esquecer tudo com tanta facilidade, hein? Me passa a receita dessa macumba aí que faz a menina supostamente mais bem resolvida e independente desse planeta esquecer que existe orgulho quando pisca teu nome na tela.

A verdade é que esse bilhete foi uma tentativa desesperada de tentar te explicar o porquê que eu sempre acabo voltando. Pra sua casa, pra sua vida, pros seus problemas e pra todas as nossas interrogações. Foi pra tentar te explicar que, eu sei bem que você é volátil/ e bem resolvido/ e independente/ e adora seu canto e/ não troca de jeito nenhum sua academia por alguns minutos comigo jogado no sofá e/ que não posso invadir seu espaço e muito menos fazer parte dos seus planos, mas, que mesmo assim, eu gosto tanto, tanto do cheiro da sua camiseta pra dormir. Eu acabo voltando porque a gente sempre tem assunto e nossos assuntos são sempre mais interessantes do que os assuntos das outras pessoas e você imita desenhos animados e me faz andar na chuva mesmo depois de ter feito escova no cabelo e nada, nadinha disso me deixa com raiva. Na verdade, quando é você, essas situações causam sempre o efeito inverso: a gente dá risada. De parar na farmácia de madrugada, de cair no chão de saia, de quase atropelar pessoas na rua e das vezes que eu te reconheci no meio de uma multidão. Esses momentos são sempre os melhores. A gente entende que, por mais que eu vá pela esquerda e você pela direita e a gente viva tentando se desencontrar por aí, o destino sempre ri da nossa cara e anda em círculos fazendo a gente se encontrar vezes demais.

A verdade é que eu nunca, nunca deixo você ir. E você sempre, sempre dá um jeito de me fazer voltar. É uma matemática toda errada, um caminho todo cheio de desvios e atalhos e subidas cansativas, mas acaba dando sempre na mesma rua principal: Cheia de banquinhos, de canteiros com flores amarelinhas e silêncio na madrugada. A nossa lógica não faz sentido algum e, mesmo depois de tantas idas e vindas com outras pessoas, a gente acaba sempre indo embora juntos. Você sabe todos os barulhos que o meu carro faz e eu sei a placa do seu de cabeça.

Noite passada, eu ouvi bem quando você disse que vinha sentindo falta do peso do meu corpo do lado do seu na hora de dormir. Você fala muito mais de "saudade" ultimamente, sabia? Acho que cê nem percebe... É que não tem como negar que "a gente se merece". Você é aquele conselho errado que eu jamais daria pra alguém. Não pra alguém que eu goste, pelo menos. Você vai contra toda a minha sistemática e meus planos de ser bem resolvida. Eu não sou resolvida porra nenhuma quando eu lido com você. Eu não entendo "patavinas" das suas subjetividades. Aliás, eu não sei nem se você quis mesmo ser subjetivo. Eu não entendo o seu beijo de boa-noite e, muito menos, seu 'tchau' de longe. Às vezes acho que idealizo demais toda sua intelectualidade, quando na verdade você tá dizendo PRETO NO BRANCO mesmo e só. Mulher tem disso, né? De achar que tudo que o cara faz tem um significado, um motivo.

Tava tudo mais ou menos certo... até você resolver brincar de ser sozinho e acabar indo longe demais. Depois disso, eu juro que pensei em queimar você e suas memórias de dentro do meu peito, mas a verdade é que essa minha mania meio masoquista de gostar de sofrer não me deixa abrir mão de quem eu sou quando só tem nós. É "quentinho" e é seguro. A entrega é muito maior, porque eu sei quem você é e você confia em mim. Eu não preciso começar do zero, eu não preciso me fazer de santa, não tem a mínima necessidade de vestir máscaras e afastar meu braço das suas costas quando tenho vontade de fazer carinho. Eu posso. Porque é você. Porque somos nós. E, só por isso, que eu tô aqui desesperada tentando te explicar que esse bilhete não é mais uma despedida. Era pra ser. Dessa vez era pra ser mesmo. Juro.

Mas eu não deixo você ir nunca. E você sempre dá um jeito de me fazer voltar.


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