Capítulo XXVI

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  Dark se arrumou, depois foi até a frente da casa para conversar com a mãe sentada conversando com Cameron Hills, a vizinha que morava em frente.

— Mãe? Estou indo para o colégio. A senhora conseguiu falar com o meu tio?

— Ainda não!! O que é estranho porque o celular dele só dá fora de área. Vai com Deus!! Cuidado para não perder o escolar, porque se não vai ter que voltar para casa. Eu não quero você indo para a escola sozinho. A vizinha estava me dizendo que aqui é perigoso. Mesmo que os seus colegas insistam, volte para casa.

— Tudo bem!!! Joe passou por aqui?

— Sim!! Faz uns 15 minutos. Corra!!

  Dark saiu correndo subindo a rua Vivenda dos Pássaros, porque estava com medo de ficar para trás.

  O colégio estava sendo um recomeço muito bom na vida dele, já que gostava de estudar e tinha muitos sonhos para serem realizados, que só serão possíveis através dos estudos.

  Depois de ter passado de frente a creche, ele subiu a pequena ladeira que dava acesso à rua direta e quando olhou para o horizonte, vislumbrou o ônibus escolar saindo da rua da Alegria e descendo à rua Princesa Isabel depressa. O seu coração disparou e ele começou a correr desesperadamente atrás do escolar, gritando e acenando, pedindo pra parar, mas infelizmente não conseguiu alcançar, então parou em frente ao bar no início da rua da Alegria e respirou fundo.

  Logo teve a ideia de ir na casa do tio, já que era próxima dali. Sem nem mais pensar, Dark desceu a rua Princesa Isabel e virou à direita, na rua Olavo Bilac, onde foi caminhando cabisbaixo, porque era o primeiro dia de aula que perdia, sendo que havia um trabalho de inglês para entregar no primeiro horário, mas infelizmente não ia poder no prazo estipulado pela professora da matéria que mais gostava. "Joe deveria ter pedido para o motorista parar". — Pensava chateado avistando a garagem da casa de Hanks.

  Ao se aproximar ele achou estranho o silêncio da casa, ás luzes estavam acesas e as janelas estavam abertas. Ele rapidamente se aproximou do portão da garagem e começou a chamar. Kurt Campbell apareceu na garagem e se aproximou com a chave na mão. A sua aparência estava abatida, cabisbaixo e parecia que tinha chorado por horas. Ele abriu a portão sem dizer uma palavra, isso soou estranho porque sempre brincava com o primo sempre que se encontravam.

— O que aconteceu com você? Parece triste, nem se quer falou comigo. Onde está todo mundo? — Disse entrando na cozinha vazia.

— Ué, você não soube? — Hesitou espantado.

— Soube de quê? Você está me assustando.

— Meu pai levou um tiro.

— O quê? Não pode estar falando sério. Ai, meu Deus!! Então... É verdade!! Por isso que a minha mãe estava ligando e não conseguiu falar contigo. — Falou quando viu Hanks sentado no sofá grande com a perna direita enfaixada sobre a mesa de centro.

— Sim!! Infelizmente é verdade. Graças a Deus o pior não aconteceu meu filho. — Hesitou Kendra com os olhos cheios de lágrimas ao lado do marido.

— Mas, como foi isso meu o tio? O que fizeram com você? — Disse desesperado se aproximando de Hanks.

— Eu estava dirigindo no Morro do Chapéu voltando de Irecê- BA, na BR 052. Era por volta das 17:00 PM quando Johnny disse desconfiado que estávamos sendo seguidos por 1 carro branco. Eu não havia reparado, já que a estrada estava vazia e nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo. O caminhão estava em alta velocidade quando nos ultrapassou e começou a nos fechar. Dois homens colocaram as cabeças para fora das janelas dos fundos, estavam encapuzados, com luvas pretas nas mãos e começaram a atirar. Johnny ficou desesperado, falando que era um assalto e que nós iriamos morrer. Eu fiquei em choque, comecei a acelerar ainda mais contra o carro, na hora só pensei na minha mulher e nos meus filhos. Os bandidos continuaram atirando contra o caminhão, todos atiravam ao mesmo tempo e tivemos que se abaixar enquanto as balas perfuravam os vidros e a frente inteira da cabine. Eu estava sem o cinto. De repente sentir um impacto na minha perna junto a uma dor muito forte, intensa, quando estava com a cabeça baixa, o corpo inclinado dirigindo e dizendo para Johnny pular para fora em três segundos, porque eu iria fazer o mesmo. Depois da contagem me joguei do caminhão em movimento sobre uma cerca na beira da estrada, desci rolando uma ribanceira de mato fechado, me bati em vários troncos, raízes e me feri todo. Consegui me arrastar até um local distante e seguro. Fiquei atrás de uma árvore em silêncio, o meu coração estava disparado e a minha respiração estava extrema. Rapidamente tirei o crachá do pescoço e enrolei na minha perna que sangrava muito. O cheiro de sangue estava forte, embrulhando o meu estomago. O meu celular começou a tocar, era Megan, mas rapidamente desliguei, porque o barulho poderia chamar a atenção dos bandidos e eles poderiam me achar. Eu não queria morrer, isso estava torturando a minha cabeça, porque estava com medo dos bandidos me acharam e me matarem ali mesmo. O meu corpo tremia, estava fora de mim e na minha cabeça passava um filme pelo qual não queria ver, porque me torturava e, a minha família não saía da minha cabeça. Fiquei com vontade de gritar, mas fiquei calado em comunhão com Deus, rezando para que ele me protegesse de todo mal. Depois disso sentir uma tontura, as minhas vistas começaram a rodar e escurecer gradativamente até que desmaiei repentinamente. Quando acordei, era de noite, a mata estava toda escura e mal conseguia enxergar o que estava à minha volta. Me lembro que o cordão que tinha enrolado na perna estava encharcado de sangue, transbordando pelas beiradas. A dor só aumentava, senti um peso na minha perna e rapidamente comecei a me arrastar, subindo em direção à pista. Assim que deixei a árvore, consegui avistar algumas luzes na beira da estrada. Fui me aproximando, sentindo o meu peito ser ralado, os meus cotovelos sangravam, pois estavam machucados de tanto forçá-los no chão para conseguir me movimentar. Nada estava bem, o que mais queria era sair daquele lugar e voltar para casa pra ver a minha família de novo. Pensei no Johnny, me veio uma sensação horrível. O desespero de pensar que ele não resistiu à queda ou aqueles bandidos terem o encontrado e assassinado. A última coisa que me lembro foi ele correndo e rodando o carro na minha direção. Vivi momentos de terror, era como se eu estivesse assistindo e protagonizando o mesmo filme, mas sentindo na pele todas as cenas dentro de mim. Eu não sabia mais distinguir o que era ficção e realidade. Quando me aproximei ainda mais da pista, vi algumas luzes azuis e vermelhas, logo deduzir que fosse a polícia no local. Tentei gritar, mas não saía uma palavra, porque não tinha forças. Me veio novamente uma tontura, fiquei com medo de desmaiar mais uma vez e perder sangue até morrer. Fiquei escondido até às 18:00 PM quando finalmente escutei a voz de Johnny chamando o meu nome por três vezes exatamente. Daí sair para pedir socorro na pista. Estava muito escuro, dava apenas para ver os faróis de alguns carros passando em alta velocidade. De baixo avistei Johnny há trinta metros de mim, antes da estrada. Fui me arrastando seguindo a direção da voz dele, foi quando rapidamente gritei:

— Johnny, você está bem?

— Estou!!

— Eu fui baleado.

— Não brinca!! Uma hora dessa e você ainda brinca comigo. Isso não é hora de brincar Hanks. Temos que pedir ajuda!!

— Não!! Me escute!! Eu fui baleado na perna esquerda. — Disse passando a mão no ferimento e mostrando o sangue.

— Meu Deus!! Vamos sair daqui para pedir ajuda. — Disse desesperado olhando para os lados.

  Hanks se arrastou até a pista, ao lado de Johnny, pois o local era tão inclinado que não havia a possibilidade de ele andar com o apoio só de uma perna e nem o amigo poderia carregá-lo. Jhonny correu até a pista e ficou pedindo ajuda, tentando chamar atenção de algum motorista. Hanks ultrapassou a cerca e ficou sentado, encostado na lateral da pista, esperando por socorro. Ele olhou para à direita e avistou o caminhão parado a 100 metros, onde vinha um outro caminhão branco se aproximando. Foi quando Johnny parou o caminhão para pedir socorro.

  O caminhão parou, o ajudante do motorista desceu e se aproximou de Johnny, juntos carregaram Hanks e o colocaram dentro do caminhão que estava indo em direção à Feira de Santana. Eles seguiram até o posto de gasolina, próximo a cidade de Tapuramunta, onde um taxi levou Hanks e Johnny até o posto médico da cidade. Os policiais foram até o encontro deles. Eram cinco e chegaram em duas viaturas, sendo uma civil e a outra estadual. Eles ficaram sabendo através de um promotor que passou ao lado do caminhão abandonado e desconfiou. O policial perguntou se Hanks iria dirigir o caminhão de volta até Irecê ou se preferia ligar para a seguradora para fazer o serviço. Depois dos curativos, Hanks decidiu voltar até o local junto com os policias para conduzir o caminhão de volta, depois voltou para casa.

— Nossa!! Graças a Deus você está aqui agora pra contar a história. Foi um milagre!! Estou chocado com tudo que você viveu meu tio, mas estou feliz em vê-lo aqui na sala, mesmo que com tantos ferimentos. Prefiro isso que a ideia de te perder.

— A minha sorte também foi a bala ter acertado na minha perna, justamente na canela, onde tem mais osso, isso fez com que ela não penetrasse muito e por isso estou aqui em casa agora. Ainda vou fazer uns exames, amanhã prestarei esclarecimentos na delegacia e vou rezar para que a polícia consiga prender aquela quadrilha.

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