Fatos de uma Gorda

Natal

Acordei me sentindo ótima, mas aos olhos de minha mãe estou como uma bola, deve jogar isso na minha cara porque tenho quilos e sobrepeso fora a barriga linda de um cara que bebe chopp todos os dias da semana, fui ao banheiro e tomei aquele banho frio, devo suar muito por ser gordinha mesmo, depois me enrolei naquela mini toalha de gente comum, como eu DETESTO toalha pequena, ou mediana, nasci para o tamanho GRANDE, tudo que é nesse tamanho é bom, já viu alguém triste comendo um pote de batata frita GRANDE, pois bem, não.
Depois de me virar em trinta pra me secar naquele mini pano que mais parece uma toalha de rosto do que de corpo, me matei pra vestir uma roupa, deveria usar coisa larga tipo vestido mas no fundo ficaria igual um bujão de capa, linda, só que não. Resolvi optar por um pijama qualquer afinal estou de férias, porque não?
Andei pelos corredores e desci a escada ouvindo qualquer música de um playlist qualquer do meu celular todo trincado, porque além de está com sobrepeso ainda sou desastrada, OLHA que combo perfeito, a natureza deve ter me consagrado à pessoa mais desastrada na face da terra, porque vou te contar, viu.
Finalmente cheguei na parte mais divertida da casa, a cozinha,claro mas a biblioteca também ganha um pouco do ranking de primeiro lugar no topo dessa lista ridícula, primeiro passo, geladeira, tirar aquele pote de Danone, um pouco de nutella, aquela manteiga do sítio do vizinho do amigo do seu avô, um suco de laranja que a light da sua mãe fez de manhã ou melhor de madrugada, porque cinco horas é considerado madrugada no meu relógio de atoa, depois jogar aquilo tudo em cima da mesa e caminhar em direção ao armário e pegar aqueles deliciosos biscoitos gordurosos, Doritos no café da manhã é sem comentários, venhamos e convenhamos, aquele pão com sabor de cebola pra comer com aquela manteiga, e sem esquecer do copo, da faca e da colher, porque além de fazer isso T-U-D-O e ainda tomar o suco no gargalo da jarra, enfiar o dedo na nutella e passar o pão dentro da manteiga, é arrumar confusão com a minha mãe, e que PUTA confusão.
Depois dessa mega lambança, fui a procura dos meus pais pelos cômodos da casa mas aí me lembrei, véspera de Natal, supermercado, aquela confusão por um mero Peru ou chester, pra mim só muda o sabor, porque ambos são aves ou melhor comida, enfim, desisti e me larguei pela sala, aquele sofá macio do qual a perua da minha mãe acha que tenho que ter modos e sentar igual uma moça mas na minha opinião ver algo na tv esparramada naquele sofá caro que ela fez a questão de comprar, é algo extremamente prazeroso ver aquela cara de emburrada nela, quando não se tem espaço pra sentar, porque além de ser desastrada, possuir sobrepeso, ainda sou alta, pra completar o combo digno de uma garota perfeita, perfeita só nos olhos de alguém que não enxerga com certeza, depois de ligar o ventilador porque aguentar este calor de trinta e oito graus ou melhor aguentar este inferno, ninguém merece, até porque não sou rica e nem dona da light pra ter um ar condicionado, o máximo é um ventilador com seis hélices e olhe lá, peguei um pano em uma gaveta qualquer do móvel e limpei meus óculos fundo de garrafa como a maioria pensa, porque além de ter sobrepeso, ser alta, desastrada ainda sou CEGA! Então se você me ver na rua e for super meu amigo ou eu te conhecer de algum lugar, não se incomoda se eu não mexer, é porque tenho sérios problemas de visão então é meio complicado ver alguém e mexer (posso te confundir também, ah não ser que esteja um palmo de distância de mim, então as coisas melhoram um pouco), joguei me de novo no sofá mas o telefone tocou, eu não entendo isso, sempre tem alguém que liga pra cá e quando eu atendo, o idiota desliga na minha cara, é mole? Depois quando eu não atendo as ligações preciso ficar ouvindo sermão, fala sério! Agora finalmente vou poder ver algum filme ou série interessante, enquanto muitas garotas batalham pra conseguir um corpo bom e esbelto pra ir pra praia ou pra pegar os meninos, eu batalho pra conseguir achar um filme bom ou uma série que eu já não tenha visto na netflix. (Antes eu fazia aquele experimento de sete dias grátis, mas eu fiz meu pai tirar o escorpião do bolso e pagar dezenove e pouco para mim ter acesso ao paraíso), não achei absolutamente nada, pulei para o YouTube e a primeira coisa que me aparece? Baile de Favela, não que eu seja contra e tenha discriminação contra a música, mas só não encaixa no meu gosto musical, não que eu já não tenha escutado (graças aos meus vizinhos lindos, e põe lindos nisso, ok?) e ter ficado com a música na minha cabeça por um dia e irritar meu melhor amigo com isso e ele ficar muito bolado mas enfim sou muito chata, coloca isso na lista também.
Finalmente eles chegaram, trazendo todas aquelas comidas deliciosas tirando a passas, isso me persegue todo ano, SOCORRO.
Depois de muita enrolação tirando tudo dentro de sacolas de plástico que depois irão tudo para o cesto do banheiro, mas enfim meus pais voltaram pro supermercado e eu sentei no chão da cozinha, porque além de ser um dos paraísos é fresco e o chão gelado, abri a porta antes disso para os meus monstros ou melhor dois cachorros da raça poodle, verdadeiras pestes. Eu continuei no tédio com duas coisas em cima de mim me lambendo e puxando meus cabelos (com certeza, eu iria tomar um banho depois disso) coloquei minha playlist pra tocar alguma música do AM (pra quem não sabe, Arctic Monkeys) e abri algum livro digital no meu celular (que é quase impossível enxergar alguma coisa por estar trincado) mas permaneci no tédio quando meu livro favorito não teria mais capítulos porque chegou no final. (Cara triste)!
Levei aqueles dois para fora, e subi correndo as escadas até tropeçar na ponta de um degrau e cair acertando a cabeça na quina do corrimão, só Judas pra me ajudar, santo das causas perdidas, porque eu devo ser um caso perdido no mundo dos desastrados, não satisfeita ainda fiquei sem dedo por acertar na quina da cômoda, larguei o celular pelo móvel do corredor e entrei naquela água quente deliciosa (fale quem quiser, mas água quente está numa das maravilhas do mundo) tomei um banho prazeroso sem lavar minha vassoura ou melhor meu cabelo bandido (quando não tá preso, tá armado) resolvi terminar meu banho e ? Eu esqueci a porcaria da toalha e? A janela está A-B-E-R-T-A, resumindo FODEU! aquela opção de se enrolar na toalha de rosto não foi nada legal, gritar? Gritar quem? Não tem ninguém em casa, meu Deus sou tão desligada, imagina quando for morar sozinha? Que caos! Me enrolei naquela toalha, na verdade eu meio que tampei minhas partes, e encarnei o FLASH com toda a velocidade que não tenho, o que acabou em desastre, claro. Corri tanto que esqueci do sofá no meio do caminho, passei por cima dele, se filmasse com certeza passaria no Faustão no domingo, parecia cena de filme mas não é, é apenas minha vida. Depois de achar uma toalha seca no armário do quarto, uma toalha decente para o meu tamanho ELEFANTE, vesti um short e uma camiseta de pijama e os cabelos? Continuam em um coque pra cima amarrados por um elástico feito de legging que como dizem não arrebenta o cabelo, mas acontece que meu cabelo tem pontas duplas mesmo cortando em três em três meses, mesmo lavando em água fria porque quente acaba com o cabelo, depois da catástrofe no terceiro andar meus pais chegaram com mais sacolas, olhei para fora no quintal e a piscina já estava cheia e azul cristalina, subi para trocar meu pijama super fofo, e colocar um biquíni, não aqueles maravilhosos como de uma pessoa magra, mas aqueles de vovó (sem preconceito, claro) aquela calcinha mais em cima, e a parte de cima no meu caso já pode ser de cortina já que eu não tenho peitos (adicionem isso na minha lista). Desci as escadas, larguei as coisas e pulei do segundo degrau que interliga a copa na piscina, voou água nas roupas do varal, recebi um olhar de desaprovação de minha mãe, mas fingi que não era comigo. Depois de quatro horas torrando no sol, passando uma quantidade enorme de protetor solar, consegui ficar SEM marca mas incorporei totalmente uma Peppa Pig da vida, não fiquei vermelha tipo camarão mas sim rosada, fiquei escorrendo pelo quintal, me enrolei numa toalha mas mesmo assim sai pingando pelas escadas (o que mais tarde resultaria em tombo) subi para tirar aquele cloro do meu cabelo, não posso passar o natal desse jeito, desleixada, mesmo que seja só para ficar na casa da minha vó igual um enfeite sentada no sofá esperando ansiosamente aquela maravilhosa e farta Ceia, entrei no box, dessa vez eu peguei a toalha, aquela água morna vem em encontro ao meu corpo, CACETE isso arde, fiquei queimada, mas que diabos! Depois daquele processo todo, me enrolei na toalha e fui em direção ao meu quarto ROSA (sabe o quanto eu não gosto de rosa? Realmente, não é minha cor favorita, meu pai não sabe diferença entre Roxo e Rosa, que absurdo! Mas agora vai dar muito trabalho pintar e daqui um tempo vou embora, então fica desnecessário essa mudança), minha roupa já estava esticada na cama, minha mãe já até colocou um conjunto de lingerie, na boa, eu DETESTO SUTIÃ, ô coisinha estranha, machuca, aperta, incomoda, pinica, eu não entendo pra que eu preciso disso, pra mostrar meu PEITÃO que eu NÃO TENHO?? Já gosto de acabar com a graça pela raiz, joguei aquilo num canto qualquer do quarto, puxei um top super confortável dentro de uma das gavetas, vesti a saia e coloquei aquela cigana fofa, calcei uma rasteirinha, e passei aqueles produtos com cheiro bom, caminhei tropeçando no meu próprio pé até chegar no espelho, minha cara estava linda com todas aquelas espinhas, maldita adolescência, puxei da gaveta todas aquelas coisas de beleza, corretivo, base, pó compacto, blush, iluminador, sombra, rímel, delineador e batom, pincéis pra cá, escova pra lá, finalmente deu pra dar um jeito e esconder aquilo tudo, se não assustaria até defunto, sequei os cabelos, alisei na chapinha e fomos para a casa de minha vó, chegando lá já estavam todos reunidos, parecia até um hospício, uma risos escandalosos, (e quando eu digo escandaloso, parece uma hiena com diarreia), depois de cumprimentar todos com abraços e beijos ( calor é MEIO SUPER CHATO de ficar abraçando, ainda mais se a pessoa ESTIVER SUADA, o que cai na minha lista de UM METRO DE DISTÂNCIA), sentei no sofá com cara de tacho, e puxei meu fone, coloquei numa música bem alta pra me distâncias de todas aquelas falsidades, vou te contar, viu? A pessoa passa o ano todo falando MAL de você, pra chegar no NATAL, e ela vim com um amorzinho lindo pra cima de você, pedir pra tirar foto, e colocar na legenda AMO MUITO, é pra cair o cu da bunda né? Depois de três horas olhando pro nada pensando na morte da cabrita, chegou a hora de ganhar os presentes, veio minha vó com aquela caixinha, já poderia imaginar uma calcinha linda, mas não ela ACERTOU, me deu SABONETE, fiquei feliz, amo tomar banho, depois ganhei um camiseta e alguns chinelos, mas nem liguei muito quando vi aquele Chester, aquele arroz complementado, uma garrafa de coca cola, e aquelas RABANADAS, meu estômago deu sinal de vida por completo, arrumei meu prato e sumi pela casa da minha avó, a única coisa que eu precisava naquele momento era sossego, eu não entendo, porque temos que comemorar o natal, minha família mal fala comigo, é pé de guerra o ano todo, deveríamos ser juntos mas não, é sempre algum problema pequeno sendo considerado como um problemão, comi aquilo sem muita vontade, mas estava ótima a comida, larguei o prato em cima da pia da cozinha, não despedi de ninguém, minha chave estava na minha bolsa, apertei o play do fone, e subi as escadas para a rua, andei uns quinhentos metros e começou a chover, nem me importei, disfarçaria meus olhos marejados, andei com a cabeça quente até em casa, era tão angustiante ver todas aquelas famílias felizes, rindo, na maior sintonia verdadeira, enquanto a minha lá, todos sorrindo falsos, rindo por coisas que ninguém se importa, abri a porta de casa, agora estou subindo calmamente as escadas no escuro, a calmaria dessa casa me ajuda nesses dias ruins, dei um olá e um pequeno sorriso para minha avó, que estava parada me olhando com aqueles olhos lindos, só ela pra me ajudar. Puxei minha toalha, e agora estou aqui, debaixo da ducha, me ensaboando no escuro, puxando a toalha novamente depois joguei aquele pijama fofo, liguei o ventilador, joguei a coberta e dei boa noite para minha avó, acabei adormecendo.