Quinto

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Faziam dois dias que o baile havia acontecido e as palavras de Alfonso ainda pareciam ecoar nos meus ouvidos. Nesses dois dias não nos vimos, era final de semana e os professores não tinham costume de ficar na escola. Nem sequer me animei pro coquetel na casa do Derick, mesmo com toda a insistência de Maite e Angelique. Me deitei na cama e ali passei o sábado e o domingo, pensativa e um pouco desolada.

Eu pensava porque diabos ele tinha que falar comigo daquela forma, mas era muita pretensão da minha parte querer que ele me tratasse de uma forma diferente: eu havia me oferecido, eu havia dado encima dele mesmo sabendo que ele era um homem casado. Só que eu já tinha feito isso tantas vezes, porque será que agora doía tanto?

- Você não vai mesmo se maquiar? - Maite pediu pela enésima vez enquanto eu amarrava o cordão da minha calça de moletom.

- Mai, eu não estou afim, ok? - prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto.

- Annie você está bem? - Algelique me olhou curiosa com as sobrancelhas levantadas levando a própria mão a minha testa afim de medir minha temperatura.

Eu imediatamente tirei a mão dela dali irritada.

- Será que vocês podem me deixar em paz?

- Você sabe que o Gastón vai ralhar com você por estar sem uniforme não é? Capaz até mesmo de te dar uma advertência.

- Seria ótimo - disse sem humor - Assim eu não preciso frequentar as aulas dessa escola idiota - peguei minha mochila - nem que seja por alguns dias.

Sai dali com vontade de voltar a chorar. Eu me sentia a pior das criaturas e isso tudo era culpa de Alfonso, aquele maldito professor de biologia que parecia ter mexido comigo de uma forma até então desconhecida. O pior de tudo era ter que dar de cara com ele logo nos dois períodos. Tê-lo ali em minha frente, sabendo agora a imagem que ele tinha de mim.

Não que vários caras ja não tivessem essa visão de mim, mas nenhum deles havia me dito daquela forma. Com aquela frieza, aquele rancor. Eu nunca havia me sentido assim. Nunca ninguém havia me dado um fora categórico daquela forma.

Ele entrou, pontual como sempre. Largou a pasta sobre a mesa. Usava uma camisa verde com as mangas dobradas em 3/4. Os cabelos estavam úmidos e bagunçados como se tivesse acabado de sair do banho. Se fosse a dois dias atrás eu teria pensamentos pecaminosos mas a única coisa que eu conseguia sentir agora era uma imensa vontade de sumir dali, principalmente quando ele olhou pra mim é se aproximou. Meu coração parecia querer saltar pra fora do peito dentro da babylook branca que eu usava.

Então ele abriu os lábios e eu estava prestes a esboçar um sorriso quando ouvi aquelas palavras completamente desanimadoras.

- A senhorita sabe que preciso que vá até seu quarto e coloque o uniforme , caso contrário serei obrigado a comunicar o Senhor Diesto, não sabe?

Minha tentativa de sorriso morreu ali mesmo nos meus lábios. Ele falava de forma fria e impessoal, como se eu fosse uma qualquer que ele houvesse acabado de conhecer. Meus olhos encheram de lágrimas, porque diabos eu estava tão sensível?

- Está tudo bem - funguei - Faça como quiser.

Então ele se afastou e voltou para a frente do quadro negro, mesmo estranhando a falta de indiretas ou provocações da minha parte. Eu passei a maioria da aula de cabeça baixa, copiando o conteúdo, para surpresa de todos, e lutando para que as lágrimas não fossem capazes de sair. Alfonso vez ou outra me olhava. Possivelmente querendo entender o que acontecia com aquela garota produzida e sexy que ele conhecera a alguns dias atrás. Eu só queria poder gritar aos quatro ventos que a culpa era dele.

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