O diário

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Por sorte consegui chegar para o almoço a tempo. Caso contrário, quem levaria a culpa seria Tony. O almoço estava delicioso como sempre, as pessoas como sempre e acho que eu também "como sempre".

Meu quarto estava todo arrumado como deveria estar, o palácio organizado e todos em suas devidas funções "como sempre". Determinei em minha mente que tudo isso era muito cansativo! Resolvi fazer tipo "tour" pelo castelo, pois eu não conhecia muitos lugares dele. Mas uma coisa que eu queria mesmo era ir naquele lugar cheio de livros "enormes" que meu pai fez questão de ninguém encostar neles.

No momento eu estava na frente daquela sala cheia de livros. Olhei para os dois lados dos corredores e não avistei ninguém. Assim, entrei. Abri a porta bem devagar. Mesmo assim fez aquele barulho de portas antigas sabe? Logo a fechei, vi aqueles montes de livros e papéis espalhados na mesa. Primeiramente, peguei um livro chamado "Por um reinado melhor", depois fui até sua mesa e fiquei olhando nas gavetas para ver se encontrava algo de muita importância. Depois de uma boa olhada encontrei um livro, ou melhor, era o diário do meu pai. Comecei a ler. Abri na primeira página que dizia:

"Talvez escrever possa aliviar o que sinto neste momento. Minha querida filha irá hoje ter que morar com outra família por minha culpa, pois apostei ela em um "jogo" com um príncipe. Mas agora ele é um rei perigoso e usa esse contrato contra mim. Disse a ele que se eu perdesse daria meu primeiro filho ou filha a ele que tivesse o sangue real, mas naquela época eu era um bêbado sem noção. Eu tinha apenas vinte anos. George não se esqueceu disso e virá atrás dela. Me arrependo amargamente pelo que fiz, isso não tem perdão! Minha esposa fica chorando aos cantos. Mesmo sendo uma mulher muito doce, talvez ela nunca me perdoe. Pelo menos é o que penso..." - já estava entre lágrimas, até que ouço um barulho no corredor. Guardo o diário e me escondo de baixo da mesa. O barulho havia passado, resolvi sair dali o quanto antes.

Ainda não acreditava no que acabara de ler. Meu pai tinha mesmo me colocado em um "jogo"? Mesmo assim, foi um erro que ele cometeu na época. Apenas acho que deveria ter me contado, pois agora eu sabia que ainda podia correr perigo. Esse palácio realmente escondia muitos segredos.
Segui para meu quarto, tomei um banho em minha banheira. Logo me vesti para a aula de etiqueta de Beatrice. Isso era de menos importância no momento, por isso não liguei muito de ir. Enquanto Beatrice tagarelava sem parar na sala de aula eu tirava uma longa e bela soneca.

-ACORDA MENINA!!! - ela gritou em meu ouvido com sua voz esganiçada.

-Ahh Bea! Só mais um pouquinho vai. - digo entre bocejos.

-Meu nome é Beatrice! E entenda que isso não é postura para uma princesa! - ela diz me levantando pela orelha como sempre.

-Ai, ai!! - levanto dando mini gritinhos. - já entendi Beatrice. Agora por favor, me solta!

-É bom que aprenda mesmo! Agora siga para seu quarto, pois lá darei um recado!

-Han? Que recado?! - ela me olhava em reprovação. Apenas segui para o meu quarto torcendo para que fosse coisa boa.

-Olá Ali! - Kath diz me esperando no quarto.

-Olá, pode me dizer o que está acontecendo?

-Ela dirá! - Kath diz olhando para porta, onde Beatrice entrava.

-Bom, hoje a senhorita teve sorte de escapar da aula de dança, pois terá um passeio com um amigo de seu pai  que fez questão de vir conhecê-la pessoalmente quando soube da sua volta! - Beatrice diz animada pela primeira vez na vida.

-Meu pai e minha mãe sabem disso? Afinal, não posso sair por aí com qualquer um! - digo preocupada, pois agora sabia de todos os meus riscos.

-Esse rei disse que não teve tempo de falar com seus pais Ali, mas ele é bem importante! Aliás, desde quando você segue as ordens de seus pais? - Kath diz entre pulinhos, como sempre.

-Desde agora Kath! Não irei sem a autorização deles, não mesmo! - digo firme, pela primeira vez, mostrei ser uma princesa.

-Ótimo, iremos ver com um deles. - Beatrice diz.

-Pode me dizer o nome desse rei?

-George, por que? - naquele momento gelei, devo ter ficado até pálida.

-Nada não! Só não estou passando muito bem.

-Me espere aqui senhorita. Eu e Kath vamos falar com o rei e a rainha, logo trazemos um chá para acalma-lá! - Beatrice diz calmamente e sai do meu quarto.

Confissões de uma princesa nada sofisticadaOnde histórias criam vida. Descubra agora