Capítulo 20- Solidão.

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Aquelas memórias ao desejo de serem apagadas, em meio às minhas lágrimas. Você, dramaticamente teoriza as memórias como um refúgio. Guardo e depois busco-as. Ecoa no barulho do quarto a imensidão de angústias e dúvidas. Vem, e trás consigo seus fracassos gélidos. Sufoca. Atinge o meu peito de forma rude, e se concretiza em lágrimas. A devastação de quem tanto acreditou. Mais uma chance, eu imploro.

Meu caro, implorar não vai te fazer sair daí. - Dizia-me uma voz no meu subconsciente.

A dor só depende de uma brecha, e lá está, trazendo você lentamente para um buraco de mágoas. Entre fraquezas e medos, nunca soube lidar com a dor, a não ser relatando-a. Em uma ânsia de fúria e tudo estava no lixo, menos o sofrimento. Trancar em uma gaveta e jogar a chave para bem longe seria o plano infalível. Abri-lá e ver ali todos os meus medos expostos em um amontoado de papel não é o que eu chamo de "ser forte", mas apenas um ato de coragem.

Forte seria ler o que estava lá dentro, e não sangrar junto com o coração.

Forte seria, me deparar com aquelas palavras e continuar intacto.

E talvez, a pior das hipóteses, o que me esperava há tanto tempo: ler novamente todas as cartas escritas por mim, que sempre evitei. Não lembrar, é o melhor remédio, nesse momento.

O quanto Luna desejou entender a importância daquilo, encarando tudo como um mistério. E sei, aquela gaveta, com o tempo se tornou um mistério para mim também. Por tempos, aquelas palavras guardadas ali dentro não me representavam mais, e agora, com tanta entonação a dor, elas são o que melhor define tudo isso. Medo. Incerteza. Solidão.

Revejo aqueles papéis, as proximidades de madeira guardando o peso da minha alma.

Sentimentos engavetados.

"No êxito do fosso, me afogava em pranto. Contudo, desprendi-me do topor nefasto em que encontava o ódio e explodia faíscas raivosas em meu peito, soltei-me em queda livre, de um abismo congelado à lava ferverte do vulcão, que finalmente poderia me reduzir ao pó.

A queda que se dava em lentidão, aumentava o medo e a dúvida do que se aproximava. Medo do que realmente aconteceria. Talvez, o brilho gelado e ofuscante do abismo, me cegara, fazendo-me acreditar que o calor que emanava da lava, me levaria ao fosso de novo, em pedaços.
Bentido seja a lentidão da queda e a dúvida que me faz temer menos e ajudava na cautela de encontrar uma saída."

Algumas palavras vem como tiro. As lágrimas, como um meteoro. O meu abismo difundia-se à minha dor. E ali, eu entendi, eu era a cura do meu abismo.

Eu era a minha própria solidão.

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