Capítulo 15- Eu conduzo o nosso ritmo.

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Peguei minhas malas, voltaria para minha cidade natal. A saudade apertou, a minha mãe, o pai, e meu amor. Ver aqueles seres de tamanha importância é o que mais quero. Então eu vou, porque com a saudade ou você se acomoda a ela ou a enfrenta, e eu a enfrento pois o café da minha mãe e os causos contados por meu pai, é para ver bem de pertinho.

Tia Dê me deu total apoio, me entendia como ninguém. De braços abertos me aceitaria de volta, me disse isso em meio a um abraço.

Já na estação de trem, passou-se por mim um homem com uma revista em mãos onde pude ler: Em meio aos contos de fadas. Fiquei tentando imaginar o que estaria escrito na matéria, um monte de ilusões derramadas sobre um papel impresso? Talvez. Eu gostaria de viver um conto de fadas. Um conto de fadas real, onde a princesa tem tatuagens, atitude e um sorriso cativante, malicioso. Que seja sempre ela mesma, basicamente original.

Quando a conheci nada mágico, ensaiado ou combinado aconteceu, me vi a frente de uma personalidade forte e palavras curtas. Um jeito único. Jeito Luna de ser.

Eu poderia ter sorrido, poderia ter a beijado e dito o quanto era sensual a maneira como tentava me ignorar, falhando por vezes em que deixava escapar um sorriso. O tipo de mulher que não justifica o termo Sexo Frágil, que não mede as consequências, mesmo que se arrependa mais tarde. Guarda as suas dores e vai ao combate, se decepciona e volta, chora, esperneia e se ergue novamente. Guerreira, guarda suas dores no bolso para cicatrizar a dor de um amigo.

Para cicatrizar a minha dor.

Sempre imaginei uma vida ao seu lado, como viveríamos, como ela voltaria a mexer na minha gaveta. Meu antigo quarto na casa dos meus pais e a tal gaveta com tantos papéis que eu evito lembrar da existência, tudo me lembra ela.
Tantos desencontros, que agora fica difícil imaginar sequer uma convivência juntos.

Foram tantos imprevistos, tantas vezes em que ela persistiu em dizer que não me queria mais. Eu não precisei protestar, os olhos dela diziam ao contrário e seu silêncio dizia mais que qualquer resposta que poderia me dar.

**

Cinco.

Seis.

Sete.

Oito.

Mais um rodopio. E outro. Assim se seguiu em compasso, saltos e giros. Aquela sala espaçosa, espelho tomando toda a parede, música que invadia por completo tudo ali. Vê-lá dançar é mágico, o seu reflexo no espelho ditava movimentos leves e minimamente calculados, ensaiados incansavelmente.

All of me tocava no ambiente, ela se movimentava lentamente, como um cisne.

Cena encantadora, penso comigo.
Um meio sorriso se abriu ao me ver ali parado, encostado no vão entre uma porta e uma mesa, não esperava minha visita. Eu vi ela se aproximar, marejando simplicidade e consigo um sorriso e um abraço confortante. Aquele abraço.

Abraço de quem protege, chora, sorri e pede refúgio. Me olhou como me olhaste a primeira vez, curiosa.

Sorriu novamente, para não me dizer a verdade, que não queria a minha presença ali.

- Você sempre volta... - Cruzou os braços me olhando com desdém.

- Talvez a saudade não deixasse me afastar mais.

- A saudade se contrapõem ao orgulho.

Magoada, triste e suada. De nome Luna. De olhos cor de mel, e cabelos soltos e leves. A bailarina mais linda e cativante, a mais bela. Magoada por eu ter ido embora, seguido meu caminho. Estava diferente, dizia. Me julgava, debatia com certezas que sabia tudo que acontecera.

Eu sofri.

Longe da minha família, a principal base para um ser. Longe da mulher que amo e matenho fidelidade. E ela, chorou quando a chamei para vir comigo.

- Não me deixe sozinho, Luna. - Eu chorava também.

- É o que você sempre quis, volte quando tiver todas as respostas para tudo isso que o atormenta.

Naquele momento algo se quebrou, eu não soube explicar, mas dentro de mim estava diferente, como nunca antes esteve. Faltava algo. Faltava alguém.

Continuava me olhando como quem quisesse decifrar algo, só eu e ela, e uma música de fundo. Momento perfeito para um beijo, mas só tinha olhares de mágoa sobre mim.

Se eu já errei? Se eu já sofri? Muito, na vida. Mas, como homem aprendi a ser fiel e verdadeiro, assim como fui com ela.

- Eu voltei. Vem Luna, me abraça, porque seu abraço me deixa firme, conforta toda essa minha agonia de te ver aí parada. É peculiar quando estamos perto, nossas brigas, o jeito como sua delicadeza ao dançar se esvai quando está com raiva. Quando o seu olhar perde o brilho e você murcha, como uma flor em um jardim mal cuidado. Uma bailarina deve florescer, trazer a tempestade e a calmaria, sonhos e amores em um só movimento, em uma só dança. - Cheguei mais perto pousando a mão sobre sua cintura e acariciando lentamente o seu rosto - Dança comigo. Me deixa te reconquistar, eu conduzo o nosso ritmo e você conduz o nossos passos. Deixa que agora eu cuido dos seus sonhos, suas carências e seus medos, eu cuido de você. Me olha nos olhos, L. Eu volto para cá ou te levo comigo, mas só me abraça. E me diga sim.

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Um capítulo bem fofinho pra vocês. ❤

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