Aqui estou eu, compenetrada em meus afazeres, tentando não cair no sono. Não posso dormir no trabalho, existem regras a serem seguidas na sociedade e eu gosto desse emprego.
Ah, sim, eu sou uma professora de História. No momento estou corrigindo algumas provas aqui na sala dos professores da faculdade onde trabalho. Algumas respostas me fazem sorrir.
Esta aqui, por exemplo. Ao invés do cidadão fazer um resumo sobre a Revolução Francesa, como lhe foi pedido na questão, simplesmente indicou um livro de Tocqueville, dizendo, e eu cito: "esse cara aqui sabe mais do que eu, ele vai conseguir te explicar melhor as paradas que aconteceram. Vai na fé."
Pelo menos ele soube fazer a bibliografia de acordo com as normas certas.
Sabe, é preciso uma certa coragem e audácia para fazer uma coisa dessas. Este aqui poderia ter escrito qualquer coisa, tentado enrolar algo para pelo menos conseguir meio ponto, ou algo assim, mas ele resolveu avacalhar com tudo e perder uma chance.
Às vezes eu não entendo as pessoas.
Uma voz masculina chama minha atenção e me faz elevar o rosto para procurar quem fala comigo.
- Luna-san, vamos almoçar com o pessoal?
Eu me chamo Luna. Na verdade o nome é bem maior do que isso, mas, para facilitar a vida de todo mundo, inclusive a minha, eu digo que é Luna. Aquele que fala comigo agora vive tentando me convidar para sair, mas eu nunca aceitei. Não me sinto atraída. Ele não é feio, muito pelo contrário, todas as mulheres o acham "lindo". Bem, mas eu não sou todas as mulheres. Também não sei por que ele se sente atraído por mim. Parece ser o único.
-Vamos?
Ele insiste, ainda parado, apoiado de braços cruzados na porta aberta. Seu nome é Yamada. Ele deve ter seus 1,80m de altura, cabelos curtos repartidos de lado, porte atlético e é bem charmoso em seus 30 anos de idade. Ele me olha com ansiedade e esperança e eu resolvo aceitar o convite, já que ele mencionou "o pessoal". Ao menos nós não ficaremos sozinhos.
Levanto-me da cadeira, organizando o meu material e guardando-o em meu armário. Tranco-o com a chave, sorrio para Yamada, que exibe um sorriso alegre em retorno e me dirijo à porta, onde ele abre espaço para que eu passe, fazendo um gesto exagerado de cavalheiro com a mão direita.
Passamos por diversas salas da faculdade, descemos as escadarias do terceiro andar até o térreo e agora estamos nos dirigindo à praça de alimentação do campus. Sorrio novamente ao perceber "o pessoal" sentado numa mesa à esquerda, perto de uma lanchonete tradicional. Eles acenam para nós. Vejo a Aiko, o Kenji e a Saori. Os pais dessa última gostavam muito dos Cavaleiros do Zodíaco. Seu nome foi dado em homenagem à personagem que representa a deusa Athena no anime.
Hesito por um segundo antes de sair da sombra do prédio e pisar no pátio ensolarado. Ainda não estou 100% acostumada a esse ato. Preciso de uma preparação psicológica para suportar a sensação da luz do sol na minha pele. Evito-a ao máximo. Respirando fundo, vou andando em direção à lanchonete atrás de Yamada. Meu rosto é uma máscara apática.
Há vários cursos por aqui: humanas, exatas e biológicas. Yamada é professor de cálculo avançado. Ele é uma espécie de gênio da matemática. Tem uma inteligência acima do normal, assim como eu. Já me fizeram passar por vários testes de Q.I., mas eu sempre errei várias questões de propósito. Não quero chamar muita atenção pro meu lado. Já me basta a minha aparência.
Moro no Japão, se você ainda não percebeu pelos nomes, embora eu não seja japonesa. Ninguém sabe de onde eu sou, e eu também mantenho isso em segredo. É divertido vê-los tentando adivinhar. Ninguém jamais chegou ao menos perto.
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A Viagem
Tiểu thuyết Lịch sử"O ano é 2.552 d.C. O planeta Terra foi arrasado por milênios de guerras pela supremacia e pelo poder entre os deuses de diversos panteões sagrados. A Nova Era mergulhou no caos e no apocalipse, mas ainda há esperança. Com a invenção de uma máquina...