Capítulo 5 - Reunião

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São três e meia da manhã. Suspiro, desanimado. Outra noite em claro...

Não adianta perder tempo rolando de um lado para o outro na cama, preocupado. Preciso fazer alguma coisa para acalmar minha mente perturbada.

Levanto-me, respirando fundo. Sentado na beira da cama, vestindo apenas uma cueca samba canção e uma camiseta branca de manga curta, eu quase me sinto como um homem normal. Sinto dor de cabeça, sono, fico preocupado, crio laços afetivos.

Olho ao redor. Meu quarto está uma zona. Solto um suspiro de desaprovação. Isso não é uma atitude adequada para um Grão Mestre... Roupas espalhadas pelo chão, amontoadas na cadeira de metal com estofado vermelho, que eu jamais usei, em cima da escrivaninha metálica à sua frente... Vejo roupas por todos os lados, menos dentro do maldito armário, onde elas deveriam estar.

Inclusive, ele está com as portas abertas.

Não lembro quando foi a última vez que eu arrumei esta cama. Tudo bem que arrumá-las piora a situação, aumenta a quantidade de ácaros por causa da umidade no lençol abafada pela coberta. Mas também não preciso exagerar. Tenho que trocar isto, já está nojento.

Aliso o lençol branco com a mão esquerda. Ponho-me de pé e tiro a roupa de cama, embrulhando ela e as roupas jogadas num saco improvisado com o lençol. Vou lavar isso tudo. Chega de nojeira.

Ando lentamente até o banheiro. Ainda está muito escuro. Acendo a luz e deparo-me com um velho decrépito. Não consigo reprimir uma expressão de surpresa misturada com desgosto. Por Rá...

Toco minha face com ambas as mãos, virando o rosto para ambos os lados, na intenção de examiná-lo no espelho.

- Ok, já chega de nojeira e relaxamento. – Murmurei para mim mesmo, ligando a torneira para lavar meu rosto. Pego um creme e a lâmina. Preciso me livrar desta coisa horrenda que chamam de barba na minha cara.

Com uma máquina de barbear, diminuo também meu cabelo.

Agora estou com uma aparência melhor. Entro no chuveiro para tomar um banho frio. Visto-me com o único jaleco limpo que sobrou no armário. Tive que procurar nos cantos mais inóspitos dele para conseguir achá-lo.

Faço um café instantâneo e como alguma coisa para ter mais energia. Depois de escovar os dentes e arrumar o resto do quarto, levo o enorme saco improvisado de roupas sujas para a lavanderia do complexo.

Agora já são cinco e vinte da manhã. Estou limpo, arrumado e meu quarto está apresentável. Dirijo-me para minha sala. É hora de trabalhar.

Desde que criei uma maneira de viajar no tempo, percebi que a única forma de salvarmos o mundo seria sacrificando a todos nós. De qualquer forma, não consigo imaginar um bom final para nós.

Viagens no tempo são perigosas. Qualquer alteração pode ser drástica no futuro... eu deveria ir com eles, mas não posso largar o laboratório. Devo monitorá-los daqui, seus sinais vitais, localizações e viagens. Sou eu quem as ativo. Sou eu o responsável por escolher as datas e momentos que eles devem ir mas, para isso, preciso esperar o sinal deles.

Sei que somos deuses, que somos capazes de realizar milagres. Mas... Viagens no tempo são perigosíssimas. Podemos causar catástrofes com as mínimas alterações que fizermos. Por isso eu prefiro depender da tecnologia e não do milagre. Tenho mais controle, mais segurança.

Estão todos usando o amuleto. O olho de Hórus. Claro que não é literalmente um olho. É uma pulseira que eu criei. Além de ser nosso comunicador e ser usado para abrir buracos de minhoca que eu controlo daqui, também não pude deixar de ser conservador e antiquado, incluindo um pequeno amuleto egípcio. Espero que isso os dê boa sorte, que os guie e os ilumine.

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