Capítulo 11 - Uma Nova Esperança

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Faz tempo que eu não saio ao sol. Senti falta do ar fresco, dos sons da natureza... Eu precisava disso.

Não aguento mais esses fones de ouvido, mas sei que não posso tirá-los. O risco é muito grande.

Não quero machucar aqueles que amo. Não de novo. Por favor, controle-se, Sekhmet. Eu te imploro...

Gostaria de ouvir nitidamente o som do vento, dos passarinhos, dos outros bichos ao meu redor, mas nesse momento também consigo ouvir o som de animais rosnando, uma luta iminente. Isso é extremamente perigoso.

Eu não devia ter saído do confinamento. Não sei onde Erik e Leo estavam com a cabeça.

Estou correndo atrás dessa menina a quem chamam de Maat. Disseram que ela me controlaria. Eu duvido que ela consiga. É muito jovem, frágil...

"Ai!"

Um galho puxou um pouco o fio dos meus fones. Consegui desviar a tempo de ele arrancá-los dos meus ouvidos mas, mesmo assim, meu peito doeu. Eu rosno um cadinho.

Malditos fones.

"Não, Sekhmet, concentre-se na música. E no caminho a seguir."

Acalme-se. Tudo vai dar certo.

Meus fones estão conectados ao aparelho que toca incontáveis músicas, clássicas em sua maioria. Este aparelho está dentro do meu peito. A bateria nunca acaba, já que ela é constantemente recarregada pelas batidas do meu coração.

Incomoda um pouco, mas eu já me acostumei a isso. A angústia, a ansiedade, o medo de perder o controle... Isso é bem pior do que qualquer dor no mundo. É uma tortura.

À minha frente consigo ver o céu de novo. A mata se abre: Estamos chegando à praia. Tiro os sapatos enquanto corro. Preciso sentir o contato da areia com meus pés nus.

Ah... Sim. Isso é bom. Tão macio... Nada mais importa.

Viro para trás alarmada ao perceber que estamos sendo seguidos de perto. Vejo o resto de nosso grupo saindo da selva: Anúbis, Leo e... o filho do Grão Mestre, creio eu. No céu, vejo uma águia imensa de olhos verdes que brilham como faróis e o rapaz asiático em suas garras.

Volto a olhar para frente, preciso ver para onde estou correndo. Ouço um novo barulho e viro-me. A serpente gigante sai da selva também, a boca arreganhada, com presas pingando veneno ácido, o qual solta um pouco de fumaça branca.

Percebo que saí do chão. Estou... Voando?!

Olho para meus ombros e vejo as garras de um gavião. Ísis. Ela me tirou de perto do inimigo. De perto do perigo.

Meus pés balançam no ar enquanto eu percebo a serpente indo em direção a Sobek, que corre para o mar. Ele arranca as roupas fora com violência e pula na água alguns milésimos de segundo antes da mordida de Quetzalcoatl.

Ele o segue para dentro d'água, procurando-o, ansioso por devorá-lo vivo. Está cada vez mais indo para o fundo, a cabeça ainda para fora, seu corpo ainda na areia e sua cauda ainda na selva. Percebo os demais voltando às suas formas humanas, enquanto Ísis me põe de volta na areia. Ouço o menino asiático reclamando no ar.

- Ugh! Eu posso me virar! Solte-me, por favor! Isso é muito desconfortável...

Depois de mais alguns protestos, a águia finalmente abre suas garras e o deixa cair do alto. A menina atlante solta um suspiro de preocupação ao vê-lo despencar em silêncio, mas ele para a alguns metros do chão, flutuando, e pousa normalmente, de pé, como se nada tivesse acontecido.

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