Bestiário

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  - Eu só quero voltar ao colégio. - pediu ela.

  Orlando pôs o seu braço por cima dos ombros dela e encaminhou-a até à porta.

  - Agora que entraste neste mundo, vai ser complicado voltar. Se te enviaram para aqui foi por que era mesmo crucial. - explicou-lhe o rapaz.

  - N-não! Eu tenho mesmo que voltar. Tenho de falar com o Oliver, preciso de o ver. - soluçou Ártemis.

  - E ao James? - perguntou-lhe ele.

  - Conheces o James? 

  - Conheço os dois. Bem, na verdade, não tenho qualquer tipo de grau de parentesco com ele, somos de famílias próximas, quanto ao Oliver, já é diferente. Eu sou tio dele.

  - Tio? - Ártemis não sabia como alguém com o aspeto de Orlando poderia ter um sobrinho com a idade de Oliver.

  Orlando riu-se.

  - Considero isso elogio.

  - O quê? Eu não disse nada. - atarantou-se ela, pensando ter falado alto de mais.

  - Não. A tua expressão foi de, tipo, eu parecer muito mais novo para ter sobrinhos.

  Ah! Era isso.

  - Eu só tenho 24 anos, sou o irmão mais novo do pai do Oliver, o Arion. E acredita, não é uma família pequena.

  Eles pararam na entrada de uma pequena fazenda. 

  - Este é o nosso museu de galardões! - disse Orlando, dramático.

  - É um cemitério. - corrigiu Ártemis.

  - É um facto. - concordou ele. - Mas já vais perceber o que quero dizer.

  Ele puxou-a e os dois entraram no tal cemitério.

  - Esta herança já está na nossa família desde a Idade Média. É o nosso pequeno tesouro e vimos a aumentá-lo. - começou ele.

  - Que tipo de tesouro?

  - É uma espécie de bestiário, já vais compreender.

  - Eu sei o que é um bestiário, é uma coleção de criaturas sobrenaturais.

  Orlando parou e fixou os seus olhos nos dela, Ártemis sentia algo de diferente, o olhar dele parecia estar carregado de poder e magia. Mas o que queria isso dizer?

  - E acreditas nelas? 

  - Por que haveria de acreditar? - respondeu ela com outra pergunta.

  - Não notaste algo de estranho com o James, ou com o Oliver?

  Ártemis observou-o, por acaso até chegara a pensar que Oliver pudesse ser um lobisomem, mas não queria fazer figura de maluca em frente a Orlando.

 - Segue-me. - pediu ele, descendo por umas escadas subterrâneas.

  Ártemis seguiu-o e seus olhos viram uma masmorra de pedra dividida em celas, mas o que prendiam elas?

  - Este é o nosso bestiário. Lindo, não? - Ártemis pensou que ele só podia estar a ser sarcástico, aquilo não era lindo, era aterrorizador.

  - O que é que prendem aqui?

  - Fazes parte de uma profecia, Ártemis. Da profecia dos lobisomens!

  Ártemis olhou-o desconfiado, ele era assim tão irónico e brincalhão?

  - Olha para dentro desta cela. - apontou ele.

  Ártemis espreitou, estava escura, mas vazia.

  - Não está aqui nada. - disse ela.

  Orlando pareceu sobressaltar-se.

  - Como assim não está aí nada? - ele tocou na fechadura, estava fechada. - Está fechado.

  - Isso quer dizer que o que quer que seja continua aqui dentro, mas invisível?

  - Não. - os olhos de Orlando ficam de um azul muito vivo e brilhante. - Ilusão de ótica.

  Ele voltou a olhar para a porta e ela está aberta.

  - O que era suposto estar preso aí dentro? É assim tão alarmante e perigoso? Deveria estar preocupada, Orlando?

  Ele afastou-a e pareceu escutar.

  Ele ainda aqui está. Tresanda a confiança! - rosnou ele.

  - Espera aí. Tu consegues sentir o cheiro de emoções?

  Ártemis estava mais que confusa, seria alguma partida? Foi então que uma enorme criatura apareceu do escuro e saltou para a frente de Orlando.

  O animal era horrível, porte máximo, peludo, do focinho saíam-lhe amarelas e insalivadas presas. que as mostrava com prazer, para afugentar Orlando.

  - Ártemis, entra na cela? - ordenou-lhe ele.

  - Na cela? Estás doido?

  - Faz o que eu te digo.

  Ártemis assim o fez , bastante contrariada até. E assim que fechou a porta, ela trancou-se de imediato. Ela ainda tentou voltar a abri-la, mas em vão.

  - Orlando?

  - Não tenhas medo, aí dentro ninguém te pode fazer mal.

  A criatura encarava-o, cheia de cólera e finalmente rugiu saltando-lhe para cima com as garras apontadas a ele. orlando conseguiu desviar-se e a enorme besta foi contra a cela onde estava Ártemis, fazendo-a cair para trás com o susto.

  - Tenta  apanhar-me, sua besta! - gritou-lhe Orlando e a criatura rosnava-lhe. 

  Ártemis olhou para Orlando, ele estava diferente. O rapaz deixara de ter os seus olhos lindos olhos verdes e tinha-os agora de um azul tão vivo e brilhante como nunca. Tinha bastante pelo nas faces e os dentes tornaram-se muito afiados, eram presas.

  Orlando tinha as garras para cima, como se fossem armas e respirava ofegante enquanto a criatura o observava.

   Ártemis não podia acreditar, seus olhos não a enganavam. Os lobisomens existiam de verdade e Orlando era um deles. Isso significava que Oliver também o era?

  Orlando correu na direção oposta, para fora daquela masmorra e a criatura perseguiu-a como um leão esfomeado a perseguir a sua presa.

  - Orlando! Não me deixes aqui. - suplicou ela.

  Ártemis  já não ouvia nada, nem rosnados, nem rugidos e então sentiu-se descer até se conseguir sentar no chão. Ela esperou ali por Orlando, mas estava demasiado cansada e acabou por adormecer ali, sob o pavimento gelado.



















 


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