Outra Dimensão

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  Ártemis continuava fechada no quarto a ler o livro. Desconhecia tudo o que tinha acontecido no quarto 98 da ala esquerda. Ela leu a parte em que John teve de se transformar para proteger Yasmin. A cena estava tão bem descrita que fez Ártemis comover-se.

  Ela não evitou imaginar Oliver como um lobisomem, ele e John tinham tantos pontos em comum! Ártemis não entendia como se tinha apaixonado por uma pessoa que julgara odiar. Simplesmente acontecera. E se  aquele ódio que sentia na altura fosse apenas um sentimento que nunca tinha sentido antes? Algo tão puro e belo, mas estúpido como era o amor.

  Alguém bateu á porta , Ártemis levantou-se para a abrir e viu uma Laurel sorridente do lado de fora. Ela deixou-a entrar e a rapariga entrou com as mãos nos bolsos, observando as paredes e o teto do quarto.

  - Olá. - saudou-a Ártemis.

  - Olá. - respondeu-lhe Laurel.

  - Então... o que fazes por aqui?

  - Vim só perguntar como estavas. - disse-lhe a rapariga.

  - Estou bem, mas porquê a preocupação?

  Laurel observou a janela do quarto e viu a figura de James do outro lado do campo. Deviam estar separados pelo menos por um quilómetro de distância, mas James parecia ver tudo perfeitamente na maneira que olhava para ela, e não parecia feliz.

  - Tens de te afastar do James Arthur!

  Ártemis desconfiou do que dissera a rapariga.

  - E por que é que dizes isso?

  Laurel voltou a olhar para o campo, James já lá não estava.

  - Tu confias nele?

  Ártemis parecia ter-se perdido na conversa.

  - Afinal o que é que está em causa aqui? - resmungou ela.

  - Ouve Ártemis, o James Arthur é má rês e podes-te magoar se não te afastares dele. - avisou-a ela.

  - Parece que não me estás a contar tudo. O que sabes sobre ele?

  Laurel virou-lhe costas.

  - Eu não sei nada. Estou só a aconselhar-te... - desse ela - Se queres continuar viva.

  Não havia a certeza se Ártemis tinha ouvido esta parte, mas isto deixara-a a pensar.

  Ártemis saiu também do quarto, mas deparou-se com um sítio que não conhecia. Laurel tinha desaparecido e o que antes seria um longo corredor, agora era um bosque sombrio com árvores sem folhas a enfeitar o espaço. Ela recuou para trás para regressar ao seu quarto, mas no lugar dele estava um vazio.

  Aquilo parecia um sonho, mas depois a jovem apercebeu-se de que não tinha adormecido, simplesmente seguira Laurel para fora do quarto  e encontrara isto.

  Ártemis caminhou em frente, sem pensar, aquilo era bizarro, mas podia ser um sinal de ordem divina e ela queria descobrir o que era. Avistou uma casa abandonada, em ruínas, quando viu um vulto esgueirar-se rapidamente poucos metros atrás dela.

  - Quem está aí? - gritou ela, ecoando-se pelo bosque.

  Fora uma atitude estúpida, quem quer que fosse não iria simplesmente acusar-se só porque ela o pedira.

  Ártemis aproximou-se da porta daquela estranha casa e reparou numa espécie de símbolo gravado de uma forma medieval, provavelmente com uma lâmina.

  Os pequenos animais que ali habitavam, observavam-na, quase como que desconfiados.

  O seu instinto dizia-lhe para continuar, para entrar por aquela porta e explorar o seu interior, mas agora sentia-se receosa, um gosto a medo assaltou-lhe a mente, mas a curiosidade falava mais alto e entrou. Mas não antes de ver o tal vulto novamente, desaparecer por entre as sombras, Aquilo assustava-a.

  A casa parecia assustadoramente vazia, decorada de uma forma tão antiquada como se pertencesse á época medieval.

  As paredes  eram cobertas por quadros de todos os tamanhos e feitios, emoldurando retratos de pessoas, provavelmente habitantes daquela casa ao longo dos tempos.

  Os olhos de Ártemis fixaram-se num em particular, soava-lhe diferente, ao contrário de todos os quadros antigos que o rodeavam, este era diferente. Retratava uma mulher, carrancuda, de cabelo grisalho preso num puxo em cima da cabeça, a expressão mal humorada retratava uma víbora da pior espécie e foi então que o inesperado aconteceu.

  Os olhos mexeram-se?!

  Ártemis recuou um passo mas tropeçou em algo e caiu ao chão, tinha entrado em pânico. Levantou-se para sair dali a correr mas os seus olhos teimavam em não se desviar dos daquela mulher.

  Alguém lhe tocou  no ombro e a rapariga estremeceu, paralisando e voltou-se lentamente para ver quem era. 

  O homem era alto, entroncado, com a pele de um moreno natural, os olhos eram cor de um castanho claro e o cabelo igualmente castanho, mas escuro e dele continuava a barba, apenas nas faces.

   - Quem és tu? - perguntou-lhe ele.

  - Desculpe... Eu não sei como vim  aqui parar. - respondeu Ártemis.

  O homem olhou-a desconfiado, parecendo não acreditar naquela história e tinha razões para isso, nem ela própria acreditava.

  - Sei que parece mentira, mas eu estava no meu dormitório na Snider&Arthur e de repente apareci neste bosque. - fungou ela.

  - Snider&Arthur? O colégio?

  - Sim.

  - Qual é o teu nome? - questionou-a o homem.

  - Ártemis. Ártemis McAlister, senhor. - respondeu.

  - Ártemis? Tu não sabes onde estás?

  - Não.

  Outra figura apareceu no cimo das escadas, parecia ser pouco mais velho que Ártemis, tinha a pele não muito morena, mas também não muito pálida, tinha o cabelo  amarrado num puxo elegante, os seus olhos eram claros e os lábios carnudos. 

  Ártemis derreteu.

  - Orlando. Ainda bem que aqui estás. Esta é a Ártemis. - disse o homem para o rapaz.

  Esse rapaz, Orlando, deslizou pelo corrimão das escadas e parou à frente de Ártemis. Ele andou em passo lento  à sua volta, avaliando-a, depois olhou para o homem. 

  - É ela?

  O homem assentiu.

  - É bonita. - elogiou o rapaz. - Não admira que aqueles os dois fiquem assim.

  Aqueles dois? Ele estava a falar de quem? Teriam eles a confundido com outra pessoa?

  - De quem é que estão a falar? - perguntou-lhes ela.

  Orlando parou junto do homem e apontou para Ártemis, intrigado.

  - Ela não sabe de nada?

  - Parece que não.

  Orlando incorporou um ar um pouco sedutor e soltou o cabelo rebelde, as mechas do seu cabelo negro balançavam sobre o seu rosto. Que majestoso de se ver!

  - Nós estamos de saída, Arion. Vou levar a Ártemis a conhecer algumas histórias. - sorriu Orlando.

  O homem agarrou-lhe o ombro, intercetando os seus movimentos.

  - Cuidado com o que dizes. - avisou Arion. - E com o que fazes.

  Orlando afastou-o.

  - Tenho tudo controlado.


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