Se não é ódio o que é?

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Na manhã seguinte, Ártemis entregou o trabalho a Mr. Hidden que o avaliou com o olhar.

- Só pela apresentação merece um vinte. - elogiou ele, bem disposto. - Como foi ser o par do Oliver Adams?

Ártemis queria dizer tudo o que achava para o professor, o quanto Oliver tinha sido rude para ela, mas assim estava a ser mal-agradecida para com o colega. Afinal, ele tinha acabado por cooperar.

- Até que correu bem. - disse ela.

- Ótimo! - exclamou Mr. Hidden, esboçando um sorriso amarelo. - A partir de hoje ficarás como par dele até ao final do ano letivo.

O sorriso de Ártemis desaparecera e arrependera-se do que dissera. Mr. Hidden só podia estar a brincar, aquilo não podia ser verdade. Mas se contasse agora o que sentia realmente estaria a contradizer-se e ser considerada maluca era a última coisa que queria.

A aula seguinte era a de educação física e os alunos corriam à volta do circuito. Ártemis não era grande atleta e tinha uma doença que a cansava facilmente.

Já tinha dado a sétima volta quando pareceu ver desfocado. Sabia o que estava a acontecer, precisava de açúcar. Ártemis parou, caminhando, sem saber para onde se dirigia. Sem se aperceber entrou no bosque, quase não conseguia ver e sentia-se atordoada. Ela ouvia as vozes e os risinhos dos colegas no circuito de corrida mas não conseguia pedir ajuda.

Então quando parecia que ia desmaiar, alguém a segurou pela cintura e sentou-a em seu colo no chão.

O seu corpo era quente, todo calor. Ártemis lembrou-se de que era assim o corpo de Oliver. Seria ele? Ártemis não distinguia nada e foi então que esse alguém lhe deu a beber um gole de água com açúcar.

Aos poucos, Ártemis foi recuperando os sentidos e quando virou a cabeça para poder agradecer ao seu salvador, viu que era mesmo Oliver. Ela enterrou o seu rosto no ombro dele, para recuperar forças mas depois afastou-se vendo que estava nos braços de alguém que julgava odiar.

- Não devias fazer tanto esforço com essa hipoglicemia. - recomendou-lhe Oliver.

- Eu estava bem. - retorquiu ela. - Não precisavas de me ajudar. - Ártemis tentou soar o mais forte possível. - Aliás, como é que me encontraste?

Oliver levantou-se e olhou para o circuito.

- Queres que me vá embora? - perguntou ele.

Ártemis queria dizer que não, que precisava dele, mas isso não iria soar nada lógico, por isso só assentiu.

- Tu és meio estranho e a minha consciência diz-me para não estar contigo. Vou pedir a Mr. Hidden para trocar de par. - contou-lhe ela.

Oliver cruzou os braços sobre o peito, com ar desafiante.

- E vais fazer isso?

- O quê? - perguntou-lhe ela, confusa.

Oliver deu um passo em frente.

- Vais afastar-te de mim? - ele agora estava a uma curta distância de si. Ela sustia a respiração mas em ligeiro pânico. Achava que Oliver a odiava, não sabia do que ele era capaz.

Ártemis manteve-se imóvel, mas não respondeu. As palavras teimavam em não sair-lhe da boca. Assim que recuperou o controlo de seu corpo, ela recuou um passo.

- Sim. Se não te importas. Não quero ter de estar com alguém que não me suporta e que eu odeio.

Oliver ergueu a sobrancelha e deu mais um passo em frente.

- Tu odeias-me e eu não te suporto? - repetiu ele, como se quisesse comprovar a veracidade das suas próprias palavras.

- É verdade, não é? Não estou a dizer nenhuma mentira. Ou é isso, ou tens gosto em provocar-me. Olha-me nos olhos e diz-me se é verdade.

O coração dela disparou quando Oliver aproximou-se dela. Ele pôs-lhe o polegar na ponta do seu queixo e fê-la olhar para ele. Ela sentiu o calor do seu toque e estremeceu.

Oliver baixou a cabeça até que os seus olhos estivessem ao mesmo nível que os dela e então ele fez o que ela pedira.

- Eu não te odeio.

A Um Passo Das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora