O túnel é escuro e frio. Ouvimos o som de gotas de água ecoarem como num esgoto, sons de pequenos roedores de passagem e por fim, silêncio.
- Onde é que este túnel vai dar? - pergunta-me Kylo.
Eu encolho os ombros e viramo-nos para Urthamius.
- Este túnel é uma passagem para a capital dos centauros. Pelo menos estamos seguros pois os orcs não se aproximam desses guerreiros. - conta-nos o velho troll.
Eu ouço Wally suspirar. De alívio talvez e junto-me a ele.
- Estás bem? - interrogo-o, preocupado.
- Sim. Estou só a pensar. - responde.
- Em quê?
- De onde é que o teu irmão conhecia aqueles orcs... e quem é esse Paxel.
Kylo pára de costas e estala os ossos do pescoço. Nós paramos também, certos de que ele estaria prestes a dar-nos uma explicação.
- O Paxel é o rei dos orcs. - começou ele - Quando iniciei a minha viagem até ao reino dos elfos, arrastei um troll comigo, como te tinha contado. - ele olha para mim, para que eu relembrasse essa parte. Eu assinto. - Ainda estávamos no início da viagem e o troll vinha contra a sua vontade. Eu avistei um grupo de orcs chefiados por Paxel, tentei desviar a rota mas aquele guia estúpido chamou a sua atenção por vingança. - Kylo parecia ficar irritado ao lembrar-se disso, pois eu ouvia o seu batimento cardíaco acelerado. - O Paxel encurralou-nos e quis que eu lhes entregasse o guia. Você devia ter visto a cara daquele troll, ele não imaginava isto assim. Mas bem, por muito que eu o odiasse, eu precisava que ele continuasse a guiar-me. Iniciei uma luta com o orc, mas apesar de não ter saído vencedor, consegui fugir. - ele terminou com um arreganhar de presas e continuou o seu caminho.
Urthamius estudou de novo os mapas do livro e voltou-se para este, onde o túnel se dividia em três.
- A rede subterrânea termina a este. A melhor das hipóteses é seguirmos ela direita até chegarmos á capital dos centauros. - informou-nos ele.
Eu olho para Wally.
- A Ártemis estava bem?
Ele abana a cabeça em confirmação. Isso bastava-me.
Chegamos á capital dos centauros mais cedo do que eu esperava. Atravessamos uma ponte de cordas ao longo de duas falésias paralelas. O percurso é instável e perigoso, mas conseguimos chegar á outra margem.
Reparo nos movimentos de Wally enquanto caminha, está tenso desde que lhe perguntei sobre Ártemis. Eu conheço-o melhor que ninguém. Como a palma da minha mão. Ele está a esconder-me algo.
- Wally. - chamo-o mas ele não responde, nem se vira. - Wally, podes olhar para mim?
Ele hesita, mas acaba por encarar-me.
- O que me estás a esconder? - pergunto-lhe. - Tem a haver com a Ártemis?
Ele olha para mim e isca os olhos. Conheço-o. O primeiro sinal de que me tentará enganar.
- Não se passa nada. A Ártemis está bem como te disse. Estou só um pouco ansioso. - responde, trincando o lábio inferior.
Mentira.
Wally trinca sempre o lábio quando mente.
- Piscaste os olhos antes de mentir e trincaste o lábio depois de teres mentido. Wally, o que é que se passa? - eu também fico um pouco tenso. - E não tentes mentir-me novamente.
- Okay, está bem. - desiste. - Sim. Tem a haver com a Ártemis, mas ela está bem. - acalma-me - Só que...
- Só que... o quê? - insisto, impaciente.
- Ela está com o James. Eles estão juntos.
Eu contraio os lábios. Sinto-me culpado por isso, apesar de não ser uma surpresa. Ela nunca me iria escolher. Quero o melhor para ela. James é o melhor para ela. Mas será que conseguirei viver com isso?