Anelaris - A Caixa de Pandora

Preparativos

-Porque você não foi me buscar com os seus pais?
Yosh ficou imóvel debaixo do edredom. Fechou os olhos com força, fazendo um esforço hercúleo para fingir que estava dormindo. Nem mesmo respirando ele estava.
-Sei que está acordado. –Yumi disse. –Você é um péssimo mentiroso. E se não tivesse acordado antes tenho certeza de que acordou com a batida da porta. –Então ela puxou o edredom de Yosh. –Ainda bem que não dorme pelado. –Falou.
-Yumi. –Yosh disse depois de se virar para ela.
Yumi estava bem diferente. Yosh se lembrava dela de um jeito completamente diferente. Era baixa, e isso permanecia. Mas o cabelo era completamente preto e as roupas eram mais comportadas. A Yumi que estava diante dele tinha o cabelo cortado na altura dos ombros e era cheio de mexas coloridas. As roupas eram estranhas, e Yosh logo identificou como a moda que tinha sido iniciada com o “fenômeno” Joey Tempestade.
Joeyzisse. Foi assim que Demétrio definiu para Yosh.
Viva a Joeyzisse! Yosh pensou olhando para a roupa super colorida da prima. Parece uma palhaça.
-Não é assim que se entra no quarto dos outros. –Yosh disse.
-Olá para você também. –Yumi disse puxando-o para um abraço. –Até parece que não gostou da minha visita.
-Adorei. –Yosh disse. –Ah, quando é que você vai embora?
Yumi o largou e ficou olhando para ele.
-Vou fingir que não me ofendi com isso, tudo bem? –Ela disse. –Mas pode ficar tranquilo. Vou embora no domingo, sem ser amanhã, é claro. –Ela riu.
Yosh ficou olhando para a prima. Ele queria xingá-la, não por ter atormentado seus sonhos, mas por ter dito para os pais dele que ele queria ir ao show do Joey Tempestade.
-O que foi? –Ela perguntou caminhando até a janela. –Que bairro bonitinho. –Ela disse. –Parece ser bem parado, mas a Kato disse que tem um bar que você frequenta com os seus amigos. Eu quero conhecer o...
-Não vai dar. –Yosh disse. –O bar está sendo dedetizado. –Mentiu. –Um carinha encontrou uma barata no sanduíche.
-Que nojo! –Yumi disse contorcendo o rosto. –O que vocês tem feito para se divertir desde então?
Ela se sentou na janela, ignorando completamente o perigo que corria de cair dali.
-Não tem muita coisa para fazer. –Yosh disse saindo da cama. –Temos apenas conversado e usado o computador.
-Que chato. –Ela disse.
Essa é a pessoa que me chamou de péssimo mentiroso. Yosh pensou. Já contei umas cinco mentiras e ela nem sacou. Qualquer coisa para mantê-la longe dos meus amigos.
-Bem, posso dar uma olhada no que você pretende usar no show? –Ela perguntou caminhando para o guarda-roupa. –A julgar pelo seu pijama eu posso dizer que fico preocupada com o que você pretende usar no show.
-O que tem de errado com o meu pijama? –Yosh perguntou esticando a blusa. Não tinha nada de errado com o pijama. Era azul anil com alguns monstrinhos do anime que Yosh assistia quando era mais novo.
-É infantil. –Yumi disse. –Você tem quinze anos, deve deixar essas coisas na infância. Acha que ando por aí com roupas estampadas com as bonecas que eu brincava?
-Bem, isso é um pijama. –Yosh disse. –As pessoas não precisam me ver com ele. Você viu porque não sabe respeitar a privacidade dos outros.
-Isso, me culpe pela sua falta de estilo. –Yumi disse jogando algumas roupas no chão.
-Espero que você arrume tudo isso depois, porque eu não vou. –Yosh disse.
Ele apenas observava a bagunça que Yumi estava fazendo. Para cada peça que atingia o chão Yosh ouvia um insulto.
-Brega. Infantil. Ultrapassada. Moderna demais. Rasgada. O que é isso? De velho. Credo... Por favor, me diga que não deixa a tia Hyoko comprar as suas roupas. –Yumi se virou para ele segurando uma blusa azul, bem parecida com a blusa do pijama que ele estava usando.
Yosh não respondeu. Ele não tinha paciência para comprar roupas. Não era fã da coisa de colocar e tirar a roupa várias vezes para ver a que se encaixava melhor. Então ele deixava que sua mãe comprasse suas roupas. Ela nunca errava o tamanho. E ele não se importava com moda, só não queria ficar pelado.
-Precisamos fazer compras, com urgência. –Yumi disse. –Se arrume e vamos para o shopping.
-Ah, você acabou de chegar de viagem. –Yosh disse. –Não seria melhor você sentar, ou melhor, dormir. Depois arrumar suas malas e sei lá...
-Eu estou á mil. –Yumi disse. –Sente o meu coração. –Ela parou ao lado de Yosh e puxou a mão dele para que ele sentisse as batidas de seu coração. –Sentiu? Eu não vou dormir.
-O que você tomou? –Yosh perguntou retirando a mão bem depressa. O coração de Yumi batia tão rápido quanto o coração de um bebê recém nascido.
-Tanta coisa. –Yumi disse. –Eu estou participando de um desafio de quem consegue ficar mais dias sem dormir. Bem, no desafio você não deve tomar nada que ajude a ficar de pé, mas eu acabei bebendo umas coisinhas. Nada ilegal. Misturei café com coca e estou ligadona já tem uns dois dias.
-Isso é loucura, você sabe?
-Não é. –Yumi disse. –Se eu vencer serei... Serei...
-A vencedora. –Yosh disse, debochando.
-Sim. –Yumi disse. –Então, se arrume para que possamos ir para o shopping.
Yosh pensou em dizer que não iria, mas seria bom. Eles iriam para um lugar longe, onde Yumi não poderia bagunçar nada em sua vida.
-Tudo bem. –Yosh disse. –Vinte minutos.
-Só isso? –Ela disse. –Bem, menos mal.
Yumi estava saindo do quarto quando a caixa na qual Yosh guardava a pedra roxa foi ao chão.
-O que é isso? –Yumi perguntou aproximando-se da pedra que rolara da caixa até perto de seu pé.
-Não toque. –Yosh disse correndo para pegar a pedra. –É só uma pedra.
-Só uma pedra? –Yumi disse. Os olhos dela estavam brilhando. –Se fosse minha eu faria um colar para usar no show.
-Ficaria ridículo. –Yosh disse colocando a pedra na caixa.
-Não. –Yumi disse. –Ficaria muito legal. E combinaria com o seu cabelo. –Ela bagunçou, ainda mais, o cabelo de Yosh.
Seria muito legal, se essa pedra não fosse perigosa.
Yumi deixou Yosh sozinho no quarto. Ele pegou uma roupa, entre as que Yumi jogara no chão, e se arrumou. Não dobrou as que ficaram ali, simplesmente as jogou dentro do guarda-roupa, sobre a caixa que guardava a pedra roxa.
-Vaca. –Falou ao perceber que teria que dobrar todas as roupas.